No último dia 14 de março, a Stone encerrou a temporada de divulgação dos balanços das empresas brasileiras de meio de pagamento listadas em bolsa. Esse foi o ponto de partida para que, a partir dos dados da empresa e de suas concorrentes, o Bank of America (BofA) fizesse uma análise mais apurada do setor.

Os indicadores apurados por Stone, Cielo e PagSeguro animaram o banco americano, que ressaltaram tais números como “encorajadores”. Mas ainda não foram capazes de convencer que o trio está “fora de perigo”, como analistas do BofA ressaltam em relatório divulgado nesta quinta-feira, 23 de março.

O banco destaca o foco na reconstrução da lucratividade e o avanço em margens e eficiência, deixando de lado a guerra das maquininhas. Mas faz ressalvas diante de questões como o cenário macro incerto e os ganhos de participação de players não listados, como a Rede e a Getnet.

Como resultado dessa equação, o BofA elege a Cielo, líder do setor, com uma fatia de 25,9%, como a sua top pick, com uma ligeira elevação no preço-alvo da ação, de R$ 7,4 para R$ 7,5, justificada pelo crescimento nos ganhos e o valuation atraente. E mantém recomendação de compra para o papel.

De um lado, o banco projeta um salto de 9% no volume total de pagamentos (TPV) da Cielo em 2023, abaixo da estimativa do setor e refletindo a concorrência mais acirrada. Mas ressalta a orientação da empresa de priorizar clientes com margem de contribuição positiva.

“Dessa forma, esperamos um melhor retorno de receita, a partir de volumes mais baixos de grandes contas, que operam com rendimentos menores”, escrevem os analistas Mário Pierry, Antonio Ruette, Flávio Yoshida e Erneste Gabilondo.

O BofA também vê boas perspectivas para a Cielo a partir das políticas de reprecificação da empresa, com a expectativa de uma nova onda nessa direção nos próximos meses. “Além disso, a Cielo também deve se beneficiar do teto nas taxas de intercâmbio, a partir do segundo trimestre de 2023”, destaca outro trecho do relatório.

Os analistas também preveem que as despesas não decorrentes com juros cresçam um pouco abaixo da expansão do TPV, dado que, na visão do banco, os esforços de eficiência da Cielo devem compensar parcialmente as despesas em frentes vinculadas ao volume, como as taxas de bandeira dos cartões.

O banco também aumentou o preço-alvo da ação da Stone, de US$ 12 para US$ 13, e reiterou a recomendação neutra para o ativo. No caso da PagSeguro, apesar da manutenção da recomendação de compra, houve uma redução no preço-alvo da ação, de US$ 17 para US$ 14.

“Mantemos o P/L alvo da Cielo em linha com a sua média histórica (10x), enquanto reduzimos nossas metas para PagSeguro e Stone para mantê-las em um desvio padrão abaixo da média histórica, refletindo os desafios de execução para a Stone”, observam os analistas.

No caso da Stone, o BofA destaca a chegada de Pedro Zinner, ex-CEO da Eneva, que assume o comando da operação em abril, como uma oportunidade para a empresa, que passou os últimos dois anos e meio lidando com questões como problemas na originação de crédito e a longa integração da Linx.

“Ele conseguiu integrar diversos ativos na Eneva, liderando com sucesso uma estratégia de diversificação de negócios, sugerindo que possa focar na integração e no turnover da Linx, ao invés da venda do ativo”, afirma o time do BofA.

Avaliada em R$ 13,2 bilhões, a Cielo encerrou o pregão dessa quinta-feira com suas ações em queda de 2%, cotadas a R$ 4,91. Listada na Nasdaq e avaliada em US$ 2,7 bilhões, a Stone fechou o dia com um recuo de 3,5% em seus papéis, negociados a US$ 8,83.

Já as ações da PagSeguro, listada na Bolsa de Nova York, encerraram as negociações de hoje em queda de 2,63% e cotadas a US$ 7,77. A empresa está avaliada em US$ 2,5 bilhões.