Ao divulgar seu resultado do terceiro trimestre na noite da quarta-feira, 29 de outubro, o Bradesco não repetiu o desempenho registrado três meses antes, quando alguns de seus indicadores superaram as projeções do consenso. O que não significa que o banco não trouxe boas notícias ao mercado.

A principal delas veio na última do balanço, com um lucro líquido recorrente de R$ 6,2 bilhões, em linha com as estimativas. A cifra representou um crescimento de 18,8% sobre igual período, um ano antes, e o sétimo trimestre seguido de alta reportado pelo banco da Cidade de Deus.

Em outros dados do balanço, o Bradesco fechou o trimestre com um retorno sobre patrimônio líquido médio (ROAE) de 14,7%, contra 12,4%, um ano antes, e 14,6% no segundo trimestre deste ano. E com um salto de 9,6% em sua carteira de crédito expandida, para R$ 1,03 trilhão.

“Temos um compromisso de aumento de rentabilidade, step by step. Isso não mudou”, disse Marcelo Noronha, CEO do Bradesco, a jornalistas nesta quinta-feira, 30 de outubro, repetindo o lema que adotou desde que assumiu o posto, em fevereiro de 2024, com o mandato de reestruturar o banco.

“Nosso balanço tem consistência, mas o plano não é uma reta absoluta”, afirmou o executivo. “Ele tem correções, de um lado e do outro. Mas, naturalmente, temos um caminho traçado aqui. As receitas são nosso principal driver de aumento rentabilidade, com as despesas controladas.”

Ao contabilizarem um montante de R$ 16,4 bilhões, o que representou uma alta em base anual de 9,6%, as despesas operacionais foram, no entanto, justamente uma das linhas que destoaram das estimativas do mercado.

O executivo ressaltou, porém, que excluindo efeitos como as operações da Elopar e da Cielo, o pagamento da participação nos lucros e resultados (PLR) e o acordo coletivo fechado no período, o crescimento nesse indicador teria sido de 5,5%.

“Temos controle absoluto das despesas e temos trabalhado para ganhar eficiência operacional”, disse Noronha. “Mas não vamos parar de investir para ganhar competitividade. Se aparecer uma oportunidade para aumentar R$ 1 bilhão de despesa e formos ganhar R$ 2 bilhões, vamos fazer.”

Em outro ponto de alerta, as despesas com provisões para devedores duvidosos (PDD) também vieram acima das projeções, ao somarem R$ 8,5 bilhões, um crescimento de 20,1% sobre o valor reportado no mesmo intervalo de 2024.

O banco, que é um dos principais credores da Ambipar, observou no balanço que o aumento das despesas está relacionado, principalmente, a “operações específicas do segmento de atacado”. Sem citar nomes, Noronha ressaltou, porém, que não enxerga grandes riscos a partir desses casos.

“Não temos casos novos aqui. Periodicamente, nós olhamos para as mais de 400 empresas de capital aberto e o grau de alavancagem médio está controlado”, afirmou. “Então, são casos pontuais. Mas não tem uma crise à vista. Não estamos vendo nenhum desvio de crédito.”

Na divisão da carteira de crédito expandida, o segmento de pessoas físicas registrou um volume de R$ 451,5 bilhões, um avanço de 13,8%. Já em pessoas jurídicas, a evolução foi de 6,5%, para R$ 528,6 bilhões.

Nessa última frente, a linha de micro, pequenas e médias empresas cresceu 24,8%, para R$ 241,1 bilhões. Em contrapartida, houve um recuo de 3,5% em grandes empresas, para R$ 341,5 bilhões.

“Nosso apetite de risco continua moderado, mas, obviamente, estamos aproveitando oportunidades”, afirmou o CEO. “Nossa expectativa é ir para dentro do guidance do ano, mais para o topo e mais próximo de um crescimento de 7%”.

O executivo também observou que não enxerga um aumento da inadimplência. No trimestre, o indicador ficou em 4,1%, o mesmo patamar registrado no segundo trimestre desse ano. No terceiro trimestre de 2024, por sua vez, esse índice foi de 4,2%.

Expectativa elevada

A reação inicial ao balanço, porém, não foi favorável. Na noite da quarta-feira, as ADRs do Bradesco chegaram a recuar quase 5% no after market, em Nova York. Já na bolsa brasileira, as ações preferenciais do banco abriram o pregão de hoje em queda de mais de 4%.

Nesse ponto, Noronha destacou que os papéis vinham registrando alta de 78% no ano. E de 23% desde a divulgação do balanço do segundo trimestre, quando o Bradesco surpreendeu positivamente o mercado. E que a expectativa, já elevada nesse contexto, foi turbinada na última semana.

“Você tem um ajuste natural. Porque tem gente carregando essa ação que realiza para fazer o lucro e gente que tinha uma expectativa de fazer um ganho maior. Não temos nenhuma preocupação’, afirmou. “Mesmo que a ação caia 3% 4%, esse não é o retrato do balanço operacional do banco.”

Quem também seguiu essa linha foi o BTG Pactual. Em relatório, o banco destacou o fato de o banco estar seguindo passo a passo sua reestruturação. Mas fez a ressalva de que as expectativas do mercado estavam, provavelmente, um pouco altas demais.

“As expectativas para os resultados do Bradesco vinham crescendo nas últimas semanas, dado o forte desempenho recente das ações. Com isso em mente, acreditamos que o balanço foi um pouco mais fraco do que o esperado”, escreveu o banco.

Entre outros pontos, o banco observou em relatório enviado a clientes que as despesas operacionais superaram em 5% suas estimativas, embora as despesas com pessoal tenham sido menores. Já as provisões para devedores duvidosos vieram 4% acima do projetado.

Os analistas do BTG ressaltaram, porém, que o banco tem feito ajustes certos para impulsionar o ROAE nos próximos trimestre. E que, mesmo após a recente alta, suas ações ainda sugerem um potencial de valorização adicional no futuro.

“Dito isso, permanecemos um tanto cautelosos em relação às perspectivas de médio e longo prazo do Bradesco”, acrescentou o banco, que manteve a recomendação neutra e o preço-alvo de R$ 10 para a ação.

As ações preferenciais do Bradesco estavam sendo negociadas com queda de 3,40% por volta das 11h20 na B3, cotadas a R$ 18,19. Os papéis registram alta de 57,3% em 2025, dando ao banco um valor de mercado de R$ 177,8 bilhões.