Uma reclassificação das ações listadas em bolsa nos Estados Unidos deve fazer com que Apple e Microsoft sejam mais pressionadas não apenas por seus próprios acionistas como também por aqueles que apostam no crescimento do setor de tecnologia como um todo.

Desde a abertura do pregão de segunda-feira, 20 de março, Visa, Mastercard e PayPal estão reclassificadas como empresas de finanças e não mais provedoras de tecnologia. Na mesma esteira, as companhias Automatic Data Processing e Fiserv agora passam a responder como indústrias.

Essa mudança não impacta apenas na descrição das companhias, mas na presença delas em indicadores de ações. No índice de tecnologia da informação do S&P 500, por exemplo, Apple e Microsoft passam a carregar sozinhas o piano setorial e sobem sua participação de 44% para quase 50%. Juntas, as duas empresas têm valor de mercado de US$ 4,6 trilhões.

“As mudanças reforçam nossa visão desfavorável sobre os fundos de tecnologia negociados em bolsa, que crescerão mais concentrados. Preferimos ETFs setoriais de igual peso”, disseram analistas do BofA Securities, conforme reportado pelo Financial Times.

Ainda que não seja inédito, esse movimento não é frequente. A última vez que houve uma mudança impactante foi em 2018. Na época, Facebook, Netflix, Twitter, Snap e Alphabet foram reclassificados como prestadores de serviços de comunicação. A Amazon, por sua vez, foi descrita como uma empresa de bens de consumo.

O resultado desse movimento vai variar de acordo com a política de investimento dos fundos. O S&P 500 Technology Select Sector Index, por exemplo, agora tem a Apple respondendo por mais de 23% do fundo. Combinada a participação com Microsoft e Nvidia, as três companhias respondem por mais de 50% do fundo. A consequência disso será a aplicação de uma subponderação dos ativos dentro da carteira.

Por conta da regulamentação americana, empresas de um único emissor não podem deter mais de 25% de um ativo em carteira em um único trimestre. Outra regra para diversificar a seleção de ativos limita a soma das ponderações dos emitentes com mais de 5% do fundo ao limite de 50%.

Mas outros fundos conseguirão evitar esse problema, como o Invesco QQQ ETF. Ainda que considerado como um fundo de tecnologia, o impacto da saída de Visa, Mastercard e PayPal não será tão sentido uma vez que o ETF também incorpora as maiores empresas não financeiras da Nasdaq, o que inclui gigantes como Pepsico e Walgreens.

Depois de um 2022 complicado, Apple e Microsoft ensaiam uma recuperação na bolsa de valores. As ações da fabricante do iPhone acumulam alta de 17,8% desde o começo do ano. Já os papéis da desenvolvedora do Windows subiram mais de 13% no mesmo período.