Fruto de um spin-off da Embraer, a Eve é a aposta da fabricante brasileira no mercado ainda nascente das aeronaves elétricas de pouso e decolagem vertical (eVTOL), ou “carros voadores”, como elas ficaram mais conhecidas no mercado de mobilidade aérea urbana.

A startup ganhou asas em 2022, ao se fundir com a Zanite, uma Special Purpose Acquisition Company (SPAC), e abrir capital na Bolsa de Nova York. E agora, com maior autonomia em seu voo solo, tem um grande potencial para turbinar justamente os números de sua empresa-mãe no mercado de capitais.

Essa é, ao menos, a visão do BTG Pactual, expressa em um relatório publicado na segunda-feira, 29 de janeiro. E, no qual, o banco reitera a recomendação de compra e o preço-alvo de US$ 19 para as ADRs da Embraer na bolsa americana, implicando em um upside de 3,1%.

“Estimamos um equity value incremental para a Embraer de US$ 950 milhões da Eve. Isso se traduz em um upside de 35% no preço das ações”, escreveram os analistas Lucas Marquiori e Fernanda Recchia, do BTG Pactual, frisando que esses cálculos são resultado de projeções “altamente conservadoras”.

Para chegar a essa perspectiva, a dupla parte de movimentações recentes da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que já está dando os primeiros passos da regulamentação para o eVTOL no mercado brasileiro.

Nesse contexto, a Anac ressaltou em entrevista à Agência Infra, que seu foco não será criar diretrizes globais para o setor. E sim, aprovar cada certificação caso a caso, em função do mercado ainda incipiente e que, na projeção da agência, só deve ter suas primeiras operações no País em 2025.

Com plano de iniciar testes no Brasil ainda neste ano, a Eve foi o primeiro nome a solicitar a certificação junto à Anac. E, nessa trilha, o BTG entende que a redução gradual do risco da operação deve funcionar como um fator-chave para desbloquear valor para a Embraer.

Depois de ressaltar que, hoje, os investidores parecem atribuir um valor próximo de zero para a Eve no escopo da Embraer, os analistas destacam que parte de sua expectativa quanto ao potencial da empresa está ligada a alguns números já contabilizados pela startup.

“A Eve tem um dos maiores e mais amplos backlogs da indústria”, aponta um dos trechos do relatório. Entre os indicadores que embasam essa afirmação estão um backlog de até 2.850 aeronaves, avaliado em US$ 8,6 bilhões.

Ao observar que a Eve é a “primeira da fila” na Anac, o BTG pontuou ainda que a agência de aviação planeja concluir a fase preliminar de avaliação do eVTOL da companhia nesse primeiro semestre de 2024.

Enquanto aguarda esse processo, a Eve segue desenvolvendo a cadeia de fornecedores no entorno do seu eVTOL. Nessa segunda-feira, a companhia assinou acordos de longo prazo com players como a francesa Thales e a americana Honeywell, em áreas como sistema aéreo de dados e sensores.

Por volta das 14h (horário local), as ações da Eve estavam sendo negociadas com ligeira alta de 0,3%, dando à companhia um valor de mercado de US$ 1,78 bilhão. Já os papéis da Embraer, avaliada em US$ 3,3 bilhões, operavam em queda de 1,9%.