Marcio Santoro e Sergio Gordilho, dois dos principais publicitários do País, já haviam comunicado o grupo Omnicom, no final de 2021, que estavam avaliando deixar a agência Africa quando veio a pergunta. “E não era o quanto vocês querem para não sair, mas sim qual é o sonho de vocês para ficarem?”, diz Gordilho ao NeoFeed.

Mais do que se tornarem – novamente – sócios da Africa, agência que cofundaram e depois venderam ao Omnicom, o sonho era mais ambicioso. Os dois voltaram, sim, a ser sócios com uma participação minoritária relevante na companhia, rebatizada de Africa Creative, mas o que fez eles ficarem está nascendo, de fato, agora.

Santoro e Gordilho se uniram à Cristina Naumovs, uma das principais consultoras de criatividade do Brasil, para fundar um ecossistema focado em economia criativa. Batizado de Unah, ele é, na prática, uma holding que fará investimentos em empresas que atuam nesse segmento. “Nossa ambição aqui é ser o maior grupo da indústria criativa do Brasil”, diz Gordilho.

O capital investido não é revelado, mas o dinheiro é dos sócios. “A Omnicom criou um negócio inédito, de a gente permanecer na Africa e poder fazer outros investimentos através do Unah sem a participação deles”, diz Santoro ao NeoFeed. E o Unah, que eles dizem significar “União de humanos”, já nasce com duas empresas no portfólio.

A agência Ásia, comandada por Vico Benevides e Sergio Brandão, que tem as contas da GWM e Engie, fará parte do portfólio do Unah, e a consultoria de Cris Naumovs, a Apego, também entra no pacote. Naumovs, além de sócia, ficará à frente do grupo como CEO.

A sede da holding ainda não está definida. “Mas não vai ser na Faria Lima e nem na Berrini”, diz Naumovs, ao NeoFeed, sobre as duas avenidas que concentram os escritórios das grandes empresas do País. O que é certo é que o local escolhido contará com uma equipe financeira para ajudar as investidas.

Mesmo como CEO do Unah, Naumovs continuará à frente de sua consultoria Apego. Mas terá também o papel de ser uma espécie de curadora, garimpando negócios na área criativa. Santoro e Gordilho, por sua vez, permanecerão na Africa, que é dona de contas como Vale, Itaú, Ambev, Natura, entre outras, e atuarão apenas conselheiros.

Indagada sobre o tamanho que a holding pode ganhar, Naumovs é enfática. “O céu é o limite neste sentido, porque o tamanho dos negócios é também o que vai determinar. Acho que tem uma possibilidade aí de chegar em negócios novos.” Mas, é bom salientar, focará em empresas que já passaram da fase do PPT e já têm suas teses comprovadas.

“Tem um monte de diamante aparecendo por aí. Eu acho que o nosso trabalho é identificar esses diamantes, lapidar e botar para brilhar”, diz Santoro. Mas, afinal, para quais tipos de diamantes brutos eles pretendem olhar? Naumovs diz que pode ser uma agência de influenciadores da Baixada Fluminense voltada para a classe C passando por microinfluenciadores focados em uma determinada região.

Agências de publicidade e marketing, companhias do setor de entretenimento e até empresas que fazem análises de dados da economia criativa poderão entrar no radar do trio. E, dependendo do investimento, o grupo Omnicom poderá entrar como sócio do Unah, como foi o caso da Ásia.

Naumovs explica que o Unah tem a missão de alavancar as investidas. “O que a gente vai fazer é investir e ajudar a chegar num nível de entrega e de excelência para que não haja dúvida sobre esses negócios. São investimentos para acelerar os negócios”, diz ela. A compra de controle, por enquanto, não está em discussão.

No primeiro ano de operação, o objetivo é contar com cinco investimentos e Gordilho revela que já há conversas com empresas pelas quais eles se interessaram. O foco na chamada creator economy não se dá por acaso. Se antigamente as marcas faziam investimentos em dois ou três canais e conseguiam conversar com todos os públicos, hoje é diferente.

Com a criação de plataformas e do espaço cada vez maior do digital, a atenção do público passou a ser disputada à tapa e os meios para chegar até os consumidores estão cada vez mais pulverizados.

“São negócios que, às vezes, não têm nem nome. Você não consegue nem denominar o que é aquilo. E são essas oportunidades que a gente vê, porque, no final, a gente quer fazer a conexão”, diz Gordilho. Mas transformando isso em grandes negócios. “É achar quem são esses perfis que podem talvez se transformar em grandes CNPJs”, afirma Naumovs. Exemplos disso não faltam.

O youtuber Felipe Neto, por exemplo, transformou seu CPF em um grande CNPJ com a empresa de conteúdo Play9. Casemiro, o Cazé, que começou comentando games, acabou criando o canal Cazé TV, hoje visto por milhões de pessoas e que, inclusive, transmitiu a Copa do Mundo de futebol feminino e atraiu muitos anunciantes. O Flow, que inicialmente era um podcast, virou uma empresa de mídia. “Vamos investir naquilo que a gente entende e pode contribuir”, diz Santoro.