Desde que começou a se preparar para virar corretora, a EQI Investimentos, com R$ 14,5 bilhões sob custódia e R$ 1,5 bilhão sob gestão, começou a fazer movimentos para ficar mais robusta para uma competição mais dura. Além de buscar a contratação de centenas de agentes autônomos, a empresa começou a investir fortemente em conteúdo.

Há duas semanas, anunciou a compra de 49% da casa de análise Monett. Agora, Juliano Custódio, fundador e CEO da EQI, anuncia com exclusividade ao NeoFeed, a entrada dele em um dos segmentos que mais crescem e tem poder de levar milhões de investidores para dentro de sua casa: o universo dos influenciadores digitais.

Custódio está comprando uma participação, de valor não revelado, na Curta, agência que reúne 19 youtubers com um total de 121 milhões de seguidores inscritos em seus canais e 1,2 bilhão de visualizações por mês. O empresário está investindo, na pessoa física, mas ele já vislumbra uma grande sinergia com a EQI.

“Pretendemos impactar esse público, inicialmente, com produtos de Previdência, mostrar para eles a importância de pensar na aposentadoria cedo”, diz Custódio ao NeoFeed. O que ele enxergou está mais do que evidente: além do negócio, que cresce exponencialmente, os milhões de jovens que seguem os influenciadores são os investidores do futuro.

“Os maiores influenciadores do Brasil hoje são bem desconhecidos, digamos, do mundo adulto. Mas os jovens consomem muito mais os conteúdos deles do que qualquer outra coisa”, diz Custódio. O empresário cita o caso de Felipe Neto, um dos influenciadores mais conhecidos do País, com 43,9 milhões de inscritos, que começou com os jovens e foi amadurecendo junto com o público.

“Foi isso o que olhei. Hoje, eles são o Felipe Neto de cinco anos atrás. E não é apenas um, são quase vinte”, diz Custódio. Dos 19 influenciadores agenciados pela Curta, 16 são do universo dos games. São nomes como Robin Hood Gamer (18,5 milhões de inscritos), Jazzghost (12,2 milhões de inscritos) e Lipão Gamer (11,3 milhões de inscritos). Os que não são gamers são influenciadores de vlogs (acompanhe o quadro abaixo).

Esse público, principalmente os gamers, representa uma espécie de novo Eldorado para o mercado financeiro e os grandes players do setor estão se movimentando para entrar nessa disputa pelo “cliente do futuro”. O Itaú Unibanco, por exemplo, é muito ativo nesse jogo.

O maior banco privado do Brasil é parceiro da Loud, organização de e-Sports, Free Fire, Fortnite e League of Legends; da equipe MIBR, que conquistou título mundial em 2016; e criou a Taça das Favelas, campeonato de Free Fire que promove a inclusão digital entre as comunidades.

Além disso, desenvolveu o que foi batizado de Player’s Bank by Itaú, uma conta digital com benefícios para gamers. Outros “jogadores” de grande peso como Bradesco, Banco do Brasil e Santander também têm estreitado relacionamento com esse universo apoiando equipes de e-Sports.

O potencial da rede formada pelos membros da Curta é enorme. “Temos meio Brasil de seguidores inscritos”, diz Vitor Rabello, sócio da Curta. O youtuber e cofundador da Curta, Pedro Gelli, de 25 anos, por exemplo, tem três canais: Gelli Clash, Gellones e Dicas do Gelli. No total, 8,5 milhões de inscritos. Além de dicas sobre jogos como Clash Royale, um game de celular, ele também ensina a ganhar dinheiro com conteúdo.

O trabalho da Curta é criar um management ao redor dos influenciadores para que eles possam se dedicar apenas ao conteúdo. E isso inclui desde intermediação e análise de contratos, busca de oportunidades de licenciamento a novos projetos para os agenciados.

O cara do cabelo branco

O casamento entre Custódio e a Curta nasceu de uma relação anterior entre Pedro Gelli e a EQI. Gelli era cliente da empresa de investimentos, desde 2017, e começou a conversar com Vitor Rabello, sócio da EQI, sobre os desafios da empresa que tinha sido criada em dezembro de 2020 por ele e Lucas Continentino.

OS SÓCIOS: Da esq. à dir, Vitor Rabello, Juliano Custódio, Lucas Continentino e Pedro Gelli

De tanto discutirem o negócio, Rabello enxergou oportunidade e acabou virando sócio da agência. “Levamos o conceito de partnership do mercado financeiro para a Curta”, diz Rabello. Custódio acrescenta. “O influenciador pode deixar uma parte da receita no pool da empresa e vira sócio do negócio”, diz. “Quanto mais deixar receita para o bloco, maior é a participação na sociedade.”

“Esse negócio pode escalar de uma forma inimaginável”, afirma Custódio. Atualmente, o faturamento gira ao redor de R$ 1,5 milhão por mês. A meta da Curta é chegar a 30 influenciadores até o fim do ano e faturar R$ 32 milhões. “Isso pode virar um unicórnio”, diz Rabello. “Acreditamos que podemos faturar R$ 300 milhões em pouco tempo.”

A Curta nasceu das dores que Gelli e outros youtubers passaram com algumas agências. “Tem uma falta de transparência em alguns negócios, tem empresa que cobra 50% de intermediação”, diz Gelli. A Curta, que tem clientes como Amazon, Santander, Magalu, cobra entre 18% e 24% de intermediação, dependendo do contrato.

Gelli diz que a experiência de Custódio será fundamental para escalar o negócio e o novo sócio diz a que veio. “Na minha vida, só consegui ir tão longe porque sempre tinha um cara de cabelo branco para dar uma ajeitada nos meus projetos. A vida passa e você acaba virando o cara do cabelo branco. O que vou fazer é dar aquela última ajeitada para que eles escapem dos pedregulhos no meio do caminho.”