O empresário João Appolinário, um dos jurados do programa Shark Tank, transmitido pelos canais Sony e Bandeirantes, é um dos principais varejistas do Brasil. Fundador e CEO da Polishop, ele comanda uma operação com mais de 300 lojas, 3.500 funcionários e 140 horas diárias de exposição na TV.
O empresário tinha tudo para focar apenas na expansão de sua rede. Mas a “brincadeira” de comprar participações em startups no programa de televisão acabou ficando séria e ele contou com exclusividade ao NeoFeed que vai criar um fundo para investir em companhias em estágios iniciais e também entrará no ramo de construção de casas de luxo com a marca Connected House.
“Até hoje, investi R$ 14 milhões em mais de dez empresas”, diz Appolinário ao NeoFeed. “Agora estou montando um fundo e pretendo trazer outras pessoas para investir comigo.” E nesse fundo, cujo nome ainda está sendo definido, há uma enorme variedade de negócios. São startups como a Kuba, que produz fones de áudio; Getmore, plataforma de cashback; Flex Interativa, de realidade aumentada; e até um aplicativo de namoro, o Poppin, com 500 mil usuários.
Ao todo, são 12 companhias (conheça as empresas no fim do texto) que estão no portfólio de Appolinário e seu apetite de tubarão não ficará restrito as empresas que aparecem no programa de televisão. “Vou olhar todas as startups que tenham um viés de inovação. Isso tem a ver comigo, com a minha marca João Appolinário”, diz ele.
“Vou olhar todas as startups que tenham um viés de inovação”
Um dos próximos investimentos do empresário passará por um ramo tradicional, o da construção, mas ele faz questão de deixar claro que a ideia é agregar inovação aos projetos. “Vamos criar um condomínio de casas de luxo, que custarão mais de R$ 6 milhões. Vou colocar automação nas residências, elas terão muita tecnologia”, diz com exclusividade ao NeoFeed. Duas incorporadoras estão em conversas avançadas com Appolinário para colocar o projeto de pé.
O primeiro condomínio, com 22 casas, será erguido na região do bairro paulistano de Alto da Boa Vista. Outras regiões também estão sendo avaliadas. “A minha cabeça, como empreendedor, é diferente da de um gestor de fundo. Tenho uma visão mais de longo prazo. O meu fundo será muito mais para dividendos do que para entrar e sair”, diz Appolinário. “Mas o negócio imobiliário poderá entrar como um investimento com data de entrada e de saída.”
Gestão profissional
Até pegar gosto pelos investimentos em startups, Appolinário penou. Na primeira temporada do Shark Tank, ele não tinha estrutura para cuidar de suas participações nas empresas. O empresário fazia tudo ao mesmo tempo. “Quase fiquei louco”, diz. Hoje, já gravou a quarta temporada e o negócio foi para outro patamar quando resolveu montar uma estrutura própria para cuidar das startups.
Quem administra o negócio e se tornou head de investimentos de Appolinário é o executivo Pedro Ica, que vem da área de fusões e aquisições. Ao seu lado, está o herdeiro João Appolinário Neto. “Por mais que eu use a nossa inteligência de negócios, precisava separar da Polishop. E o Pedro e o meu filho passaram a cuidar da área”, diz Appolinário.
Ica, que foi sócio da Arsenal Investimentos, butique de M&A, até se juntar a Appolinário, explica a estratégia adotada em todas as startups investidas. “Entramos sempre com um plano. Não damos um cheque e tchau”, diz ele. “Aprovamos os investimentos e acompanhamos todos os passos. Vamos fazendo os aportes de acordo com os planos”, diz Ica.
Appolinário usa como exemplo o caso do salão de beleza Mega. Marcella Dias, a fundadora do salão com preços mais acessíveis, foi ao programa em busca de R$ 600 mil por 30% do negócio. O empresário ofereceu R$ 1 milhão por 40% do negócio e perguntou o que ela faria com o dinheiro. Ela tinha dois salões e afirmou que abriria novas unidades. “O João entrou na empresa em outubro de 2018 e, até o fim de 2019, teremos dez unidades”, diz Marcella. O plano, entretanto, é muito mais ambicioso. “Estamos nos estruturando para que a empresa vire a maior rede da América Latina. Deveremos ter 120 salões em até sete anos”, diz a empreendedora.
Além de ser um novo negócio, ele tem sinergia com uma das marcas da Polishop, a de produtos de beleza Be Emotion. As sinergias, aliás, são aproveitadas em todas as pontas. Uma das empresas do portfólio de Appolinário é o aplicativo Goleiro de aluguel, uma espécie de Uber de goleiros para quem busca um jogador para ficar no gol durante as “peladas” de fim de semana. Um serviço que custa R$ 30 a hora. “A empresa precisava de vídeo e achamos um bom fornecedor, com preços mais acessíveis”, diz Ica. “Conseguimos usar o mesmo fornecedor em outras empresas investidas. Cria networking e cria valor.”
Ica ressalta que uma das vantagens aos empreendedores que recebem investimento do grupo é o acesso a serviços e a profissionais que eles não teriam caso Appolinário não estivesse no negócio. “O diretor de marketing e o head de digital da Polishop dão mentoria para eles. Eles nunca teriam acesso a esses profissionais”, diz Ica. Appolinário também faz questão de destacar esse ponto. “Tem muita gente bacana, com potencial e não tem uma mentoria. É assim que eu olho aquelas pessoas. O que elas precisam é de mentoria. Muito mais do que o dinheiro, elas precisam do chamado smart money”, diz ele.
Empreendedorismo
Durante muitos anos, Appolinário foi um personagem avesso aos holofotes. Quase não dava entrevista e pouco aparecia na mídia. Ele explica que, nessa época, ainda estava construindo a Polishop e precisava de tempo para poder mostrar resultado. Aceitar um convite para participar de um programa de televisão transmitido em rede nacional chamou a atenção de quem o conhecia. Indagado sobre isso, ele diz que ele resolveu fazer pelos outros o que fizeram por ele.
“Tenho uma história diferente das de muitos empreendedores. Não sou aquele cara que foi engraxate e que construiu tudo a partir do nada”, diz. Appolinário, que fala de seu pai com idolatria, conta que teve a opção de não fazer nada, de viver de renda, de ficar na casa de praia, de aproveitar a fazenda. Mas não foi isso o que escolheu. “Meu pai tinha concessionárias, fazia carrocerias para caminhão e foi um dos precursores de consórcio no Brasil. O empreendedorismo sempre fez parte de mim.”
O empresário valoriza a vantagem que teve na largada dos negócios. “Poucos empreendedores têm. Eu tive um mentor, que foi o meu pai. E não foi só o dinheiro que ele me deu. Foi mostrar que precisava ter uma boa estrutura fiscal, uma boa estrutura contábil, um sistema de TI. Quando fui convidado para este programa, resolvi me doar um pouco.”
No Brasil, um país onde os empreendedores têm de pilotar suas empresas em uma estrada esburacada e cheia de obstáculos, mais de um terço das empresas fecham as portas em dois anos. São raros os casos de empresários que viram tubarões. “Como empreendedor, o que para mim é óbvio, para outro, que é pequeno, pode ser um bicho de sete cabeças. Eu dou oportunidade para gente que realmente queira e eu, como investidor, também busco resultado. Olha só que ganha, ganha. Eu tenho resultado e a pessoa só vai ter resultado porque eu também vou ter”, diz Appolinário.
As startups que estão no portfólio de João Appolinário
Goleiro de Aluguel
Uma espécie de Uber de goleiros. Disponibiliza goleiros para atuar nas famosas “peladas” em vários estados no Brasil. Mais de 3 mil goleiros são acionados por mês e a hora custa R$ 30.
Kuba
Empresa de fone de áudio. Produto de nicho para apreciadores de música. Seus produtos são vendidos no e-commerce e em lojas especializadas.
Getmore
Plataforma de cashback. Já entrega essa solução em diversas empresas. Inclusive no Next, banco digital do Bradesco. Está hoje trabalhando também com a Unilever.
Sagrado
Padaria gourmet que nasceu para entregar pães dentro de condomínios em Alpahville. Hoje está atuando com franquias e montou uma flagship store em Alphaville.
Flex interativa
Empresa de realidade aumentada que tem clientes grandes como a Nestlé. Consegue animar desde um rótulo de um produto, até um painel de mídia indoor ou um anúncio em mídia impressa.
Mega
Salão de beleza que premium com preços acessíveis. Começou com duas lojas e deve fechar 2019 com dez unidades. A meta é ter 120 pontos em 7 anos.
Nutfree
Empresa de alimentos saudáveis sediada em Curitiba. Seus alimentos resolvem o problema de celíacos, diabéticos, hipertensos e veganos.
Rio Claro
Empresa que está desenvolvendo a primeira plantação de lúpulo do Brasil. A ideia é fornecer lúpulo para pequenas cervejarias, empresas farmacêuticas e indústrias de dermocosméticos.
Vale Formoso Jabuticabas
A empresa vende jabuticabas que são oriundas de jabuticabeiras recuperadas com infraestrutura de plantio restaurada. Esta startup busca encontrar valor nos ativos existentes em pequenas fazendas.
Poppin
Aplicativo de namoro com mais de 500 mil usuários. Foi o primeiro a fazer links entre pessoas e eventos e assim aumentar as chances de um encontro. Agora será o primeiro a tornar mais interativa a forma de utilizar o aplicativo.
Moradigna
Empresa que promove pequenas reformas em casas de comunidades de baixa renda. Com o objetivo de minimizar problemas de insalubridade e saneamento básico, tem impacto direto na qualidade de vida das famílias.
Projer
Empresa que desenvolveu um equipamento de segurança para cadeirinha de bebês. Soluções estas que visam prevenir que os pais esqueçam seus filhos dentro do carro. Este equipamento aciona o alarme do carro e buzina para que chame a atenção. Além disso sensores avisam se a temperatura do carro está inadequada para o bebê.
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