No último dia 28 de junho, o Facebook superou, pela primeira vez, o patamar de US$ 1 trilhão em valor de mercado. A marca veio na esteira de uma decisão da justiça americana, que arquivou um processo antitruste movido pela Comissão Federal de Comércio (FTC, na sigla em inglês) contra a companhia.
Dois meses depois, a empresa de Mark Zuckerberg segue nesse firme no seleto clube dos trilhão. Mas vê, novamente, seu império sob ameaça. Em uma nova queixa registrada na quinta-feira, 19 de agosto, a FTC defendeu que o Facebook seja obrigado a vender o Instagram e o WhatsApp.
Em um documento de 80 páginas, a agência americana argumenta que a companhia detém o monopólio das redes sociais no mercado americano e que abusa, há anos, da prática de dificultar ou mesmo sufocar o desenvolvimento e a evolução de rivais em potencial para os seus negócios.
Para exemplificar essa estratégia, ao FTC faz referências, entre outras fontes, a um e-mail de Zuckerberg, em 2008, no qual ele afirma que “é melhor comprar do que competir”. A agência argumenta que o Facebook monitorava rivais e os comprava antes que eles se tornassem uma ameaça.
Essa teria sido justamente a estratégia adotada nas aquisições do Instagram, em 2012, por US$ 1 bilhão, e do WhatsApp, dois anos depois, por US$ 19 bilhões. Na nova ação, a FTC também pede que o Facebook seja proibido de investir em novos acordos, do mesmo porte, no futuro.
Em seus argumentos, a FTC relembra o contexto vivido pelo Facebook logo após sua abertura de capital, em maio de 2012. Nos meses seguintes, a empresa viu o preço de sua ação e seu valor de mercado caírem substancialmente, em meio às dúvidas sobre a capacidade da companhia em migrar seu modelo para os dispositivos móveis.
“O Facebook não tinha visão de negócios e talento técnico para sobreviver à transição para o celular. Depois de não conseguir competir com novos rivais inovadores, o Facebook os comprou ou os sufocou ilegalmente quando eles se tornaram uma ameaça”, afirma Holly Vedova, diretora da FTC.
Ela acrescenta: “As ações do Facebook suprimiram a inovação e as melhorias na qualidade do produto. E degradaram a experiência da rede social, sujeitando os usuários a níveis mais baixos de privacidade e proteção de dados e a anúncios mais intrusivo.”
Em nota, o Facebook rebateu as alegações da FTC. “É lamentável que, apesar de o tribunal rejeitar a denúncia e descobrir que ela não tinha mérito para uma reclamação, a FTC tenha optado por prosseguir com este processo sem fundamento. Nossas aquisições do Instagram e do WhatsApp foram revisadas e aprovadas muitos anos atrás, e nossas políticas de plataforma são legais.”
A despeito dos argumentos de ambas as partes, é fato que tanto o Instagram como o WhatsApp têm um peso considerável nos negócios do Facebook. E que uma eventual venda dessas operações traria um impacto enorme para a companhia. Alguns dados e estimativas ajudam a entender esse contexto.
Em 2018, a agência Bloomberg estimou o valor de mercado do Instagram em pouco mais de US$ 100 bilhões. Entretanto, desde então, o número de usuários ativos do aplicativo praticamente dobrou, saindo de 706 milhões, em dezembro daquele ano, para 1,38 bilhão, segundo dados mais recentes da consultoria americana Statista.
O Facebook, por sua vez, reportou uma base de 1,9 bilhão de usuários diários ativos no segundo trimestre de 2021, um indicador que exclui os números do Instagram, do WhatsApp e do Messenger. Somando esses três braços a essa conta, a companhia encerrou o período com 2,76 bilhões de usuários.
Um outro recorte mostra a importância do Instagram em uma outra frente da operação: a penetração entre os usuários mais jovens, um indicador que dá um bom termômetro do futuro dos negócios do Facebook.
De acordo com dados compilados pela Statista, enquanto o Facebook têm 32,6% de sua audiência na faixa de 18 a 34 anos, 62% dos usuários do Instagram estão incluídos nesse universo.
Já em termos de receitas, a consultoria eMarketer estima que o Instagram tenha gerado US$ 21,3 bilhões com publicidade apenas no mercado americano em 2020 e prevê um montante de US$ 23,7 bilhões para esse ano.
Nessa mesma base, o Facebook reportou, nos Estados Unidos, uma receita de publicidade de US$ 33,7 bilhões no ano passado, de acordo com a consultoria, que projeta uma cifra de US$ 39,4 bilhões para o ano consolidado de 2021.
Com 2 bilhões de usuários ativos e grande penetração em países como Brasil e Índia, o WhatsApp é o maior aplicativo global de mensagens e também tem bastante relevância no escopo do Facebook.
Assim como acontece com o Instagram, o Facebook não divulga números específicos do WhatsApp. Entretanto, fontes variadas estimam que a receita gerada pelo aplicativo em 2020 esteja na faixa de US$ 5 bilhões a US$ 10 bilhões. Para efeito de comparação, o Facebook reportou uma receita de US$ 85,9 bilhões em 2020.
Apesar de mais distribuído, o WhatsApp também tem boa penetração entre as faixas mais jovens de usuários. Segundo a Statista, 46% da base do aplicativo se concentra entre 15 e 35 anos.
Em outro dado, divulgado pelo próprio Facebook, o WhatsApp acumula mais de 100 bilhões de mensagens enviadas e mais de dois bilhões de minutos em chamadas de voz e vídeo por dia. Além disso, tem se tornado uma ferramenta fundamental para gerar negócios e está se convertendo em uma plataforma de pagamentos. Se a ação da FTC prosperar, Mark Zuckerberg e os acionistas do Facebook, definitivamente, não vão curtir.