A disputa envolvendo a família Dubrule e o grupo Toky, dono das marcas Mobly e Tok&Stok, parece ter chegado ao fim. Na noite de segunda-feira, 12 de maio, os fundadores da varejista de móveis e decoração enviaram uma carta à companhia desistindo da oferta pública de aquisição de ações (OPA).

O fato relevante publicado pelo Toky informa que a Regain Participações, de Regis e Ghislaine Dubrule e de Paul Jean Marie Dubrule, confirmavam a “revogação da oferta pública voluntária para aquisição do controle da companhia, objeto do edital publicado em 15 de abril de 2025”.

Ao longo de terça-feira, 13 de maio, a família Dubrule enviará à B3 a revogação da OPA, conforme a correspondência que foi anexada ao fato relevante.

“Em que pese a inabalável convicção dos ofertantes [família Dubrule] quanto à idoneidade da OPA, a repercussão midiática das medidas irresponsavelmente tomadas pela companhia [grupo Toky] contra os ofertantes e pessoas a ele vinculadas certamente influenciou direta e decisivamente a decisão dos titulares das debêntures da Tok&Stok de cancelar a convocação da assembleia geral de debenturistas agendada para o dia 29 de abril, e dos acionistas que compareceram à assembleia da Mobly do último dia 30 de abril no sentido de votar pela rejeição da Reforma Estatutária”.

Regis e Ghislaine Dubrule e Paul Jean Marie Dubrule continuam a explicação para a desistência OPA:

“No entanto, em função dos próprios termos da Primeira Decisão, os ofertantes tinham a legítima expectativa de que a Nova Decisão Cautelar fosse ser prontamente proferida reconhecendo, de plano, a lisura da OPA e das condutas adotadas pelos ofertantes. Tal reconhecimento pelo Poder Judiciário antes da Data do Leilão poderia levar acionistas relevantes da Companhia e detentores de Debêntures Tok&Stok a compreenderem a extensão do estratagema vil e irresponsável levado a cabo pelos fundadores da Mobly com a finalidade única exclusiva de sabotar a OPA para se encastelarem na administração da Mobly – o que, por sua vez, poderia levar tais acionistas e credores a solicitar a convocação de nova assembleia geral de acionistas da Companhia e nova assembleia geral de debenturistas para assegurar que não fossem verificadas as Condições Para Realização do Leilão previstas no Edital.”

E os fundadores da Tok&Stok encerram os argumentos com o pedido da revogação da OPA:

“Os ofertantes ressaltam que, embora as medidas temerárias adotadas pelos administradores da Mobly visando a assegurar a frustração da OPA tenham atingido os fins por eles pretendidos, esse comportamento reforçou para os ofertantes a necessidade de buscarem alternativas para assegurar a viabilização da continuidade operacional da Companhia, e a substituição imediata da atual administração da Companhia, sob pena de a Mobly caminhar para situação de irremediável insolvência – pelo que poderão responder pessoalmente, perante acionistas e credores, os administradores que conduziram campanha inescrupulosa contra a OPA”.

Ao NeoFeed, uma pessoa próxima à Mobly disse que “a verdade é que a família vem perdendo todas as disputas na Justiça desde a época do Carlyle. Desta vez, perderam tanto na Justiça como na Assembleia. E continuam tentando intimidar e espernear”.

Histórico da OPA de Mobly e Tok&Stok

A temperatura da disputa entre a família Dubrule e o grupo Toky foi aumentando ao longo do processo da OPA e chegou ao ápice quando a controladora da Mobly e da Tok&Stok encontrou evidências de uma negociação paralela com a Home24, controladora do grupo.

Os Dubrule e a XXXLutz, dona da Home24, negociaram os termos para a retirada da poison pill da OPA de ações proposta pela família, em um movimento prejudicial aos acionistas minoritários.

Conforme o NeoFeed revelou, o grupo Toky encontrou nos servidores da companhia, no momento da integração da tecnologia, cerca de 41 mil e-mails de Regis e Ghislaine Dubrule,. Desses, cerca de 400 mensagens estavam relacionadas à conversas com a XXXLutz.

Na reunião do conselho do Toky, a Home24 pediu a inclusão na assembleia de acionistas a votação para derrubar tanto a cláusula de proteção contra ofertas hostis (poison pill) como a necessidade de uma OPA para aquisições acima de 20% dos papéis.

Na manhã de quarta-feira, 30 de abril, cerca de 59,8 milhões de ações votaram pela rejeição da proposta feita pela controladora. Os votos a favor foram de 54,5 milhões - basicamente o total de ações da Home24.

A proposta da família Dubrule era de uma OPA com o valor de R$ 0,68 por ação, cerca de 51% abaixo do fechamento da ação MBLY3 no dia anterior à oferta.

A ação da dona da Mobly e Tok&Stok está sendo negociada a R$ 0,98 na B3. No ano, o papel acumula desvalorização de 34,7%.Em 12 meses, a queda é de 52,2%.