Eletrificar a malha de veículos de uma montadora é uma missão mais difícil – e cara – que se imaginava anos atrás. O exemplo mais recente disso veio com a Ford. A montadora deve registrar prejuízo de US$ 3 bilhões neste ano somente com seu negócio de veículos elétricos.

A previsão foi divulgada pela companhia nesta quinta-feira, 23 de março, ao delinear a nova estrutura de relatórios financeiros do negócio. A partir de agora, a empresa vai passar a fornecer aos investidores mais detalhes sobre o desempenho de suas três divisões: uma voltada para carros elétricos, outra para automóveis com motor à combustão e uma terceira de veículos comerciais.

Para John Lawler, CFO da Ford, a divisão de veículos elétricos na Ford pode ser comparada com a operação de uma startup. Por isso, o executivo classificou como normal que um negócio ainda incipiente em termos de números na comparação com as outras divisões ainda acumule perdas financeiras. Por ora, a Ford comercializa apenas três veículos elétricos.

“Startups perdem dinheiro à medida que investem em capacidade, desenvolvem conhecimento, criam volume e ganham participação”, disse Lawler. De acordo com o executivo, a meta é conseguir fabricar 2 milhões de veículos elétricos por ano até 2026.

As perdas de US$ 3 bilhões com sua aposta em automóveis com motores elétricos neste ano representa um aumento considerável em relação aos prejuízos registrados pela empresa nesta frente. Em 2021, as perdas eram de US$ 900 milhões. Em 2022, somaram US$ 2,1 bilhões.

O crescimento está relacionado com os investimentos que a companhia vem fazendo para aumentar a produção da linha de automóveis elétricos. Isso inclui, por exemplo, duas fábricas de células de bateria em Kentucky e uma terceira em Tennessee, além de uma outra fábrica destinada para caminhões elétricos.

Para efeito de comparação, em suas outras divisões, a Ford registrou lucro operacional de US$ 6,8 bilhões com seu negócio tradicional – o dobro de 2021 (ano prejudicado pela escassez de chips semicondutores), e US$ 3,2 bilhões com as vendas de veículos comerciais.

Lawler espera que as margens de contribuição dos veículos elétricos devem se aproximar do ponto de equilíbrio até o final do ano e que o lucro operacional seja de 8% até o final de 2026. No ano passado, o lucro operacional da Ford foi de 6,6%.

Avaliada em US$ 46,3 bilhões, a companhia vale pouco mais da metade do valor que chegou a atingir em dezembro de 2021. Por volta das 13h, as ações da empresa negociadas na bolsa de valores de Nova York estavam com alta de 1,35%. Nos últimos 12 meses a Ford viu o valor de suas ações cair mais de 30%.

Em relação a cifras, a companhia também aproveitou a ocasião para reiterar uma previsão de lucro operacional que havia emitido no início de fevereiro em que estimava registrar US$ 9 bilhões de lucro na operação como um todo. A nova projeção é para que o lucro operacional some US$ 11 bilhões em 2023.

Melhorar os números dessa divisão vem sendo uma das metas do CEO Jim Farley. No passado, o executivo ressaltou por algumas vezes a necessidade de que a companhia diminuísse a distância para a Tesla em termos de lucratividade. De acordo com Farley, a Ford tem uma vantagem de custo de mais de US$ 10 mil por carro elétrico vendido.

Vale lembrar que assim como a divisão de carros elétricos da Ford, a Tesla também foi deficitária por anos antes de começar a registrar lucro. A companhia de Elon Musk está avaliada em mais de US$ 613 bilhões.