Fabricante de autopeças controlada pela Randoncorp., a Frasle Mobility (antiga Fras-le) cumpriu uma rodada de M&As entre 2017 e 2021 com o plano de ir além dos materiais de fricção pelos quais ganhou fama e reforçar a construção de uma espécie de “house of brands” de componentes automotivos.

Após adicionar bandeiras como Nakata e Fremax e chegar a 17 marcas em seu guarda-chuva, o grupo colocou o pé no freio para integrar e capturar as sinergias dessas aquisições. Esse silêncio foi quebrado em março de 2023, com a compra da Juratek, no Reino Unido, por cerca de R$ 114 milhões.

Agora, a Frasle Mobility está pronta para engatar uma nova marcha em sua via inorgânica. E o acordo que deu a partida nessa retomada ilustra bem qual será o caminho prioritário da empresa para ir às compras.

“A preferência será por M&As internacionais, pois nossa meta é ter 50%, 55%, até 60% da nossa receita em mercados externos”, diz Sérgio Carvalho, CEO da Frasle Mobility, ao NeoFeed. “Isso nos ajuda não só a crescer, mas crescer de forma mais resiliente para navegar as tempestades com maior segurança.”

Divulgado nesta segunda-feira, 11 de março, o balanço de 2023 da companhia traz o retrato mais recente de como esse mapa está dividido. No ano, a Frasle apurou uma receita líquida recorde de R$ 3,4 bilhões, alta de 10,8% sobre 2022. Já a receita do mercado externo avançou 4,8% no período, para R$ 1,2 bilhão.

Em um indicativo das perspectivas da operação, o resultado foi acompanhado do guidance para 2024. Nele, a empresa projeta uma receita líquida total entre R$ 3,7 bilhões e R$ 4 bilhões. No mercado externo, a estimativa é de uma receita na faixa de US$ 250 milhões a US$ 290 milhões.

Um dos motores para alcançar essas cifras, os M&As vão seguir a busca por ativos que a Frasle chama de “fast track”. Ou seja, que permitam à empresa acelerar a chegada em novos mercados ou mesmo o passo em países nos quais a companhia já tem presença.

“Estamos olhando para ativos que já tenham marcas estabelecidas no segmento de reposição, que tenham canais de distribuição e que conheçam o mercado local”, afirma Carvalho. Diretor de relações com investidores da Frasle, Hemerson de Souza cita alguns dos países em prospecção nessa estratégia.

“Temos mais 4 ou 5 Jurateks na Europa”, diz Souza, em uma referência à aquisição feita há um ano. “Precisamos estabelecer bases também em países como Espanha e Itália, e ainda temos espaço para crescer na Alemanha e na Holanda. Esses mercados, junto com o México, são as prioridades.”

Sob o ponto de vista de portfólio, a ideia é não desviar o foco do mercado de reposição e dos produtos de troca mandatória e recorrente. Dentro desse universo, há espaço para eventuais acordos em segmentos que necessitem de mais tecnologia, como alguns componentes na área de suspensão.

Hoje, a companhia já tem operações diretas, sejam elas industriais, de distribuição ou comerciais em 11 países além do Brasil, em um pacote que inclui mercados como Estados Unidos, China, Índia, Alemanha, Chile e Argentina.

Da mesma forma, a Frasle já acumula uma certa bagagem em M&As fora do País. Além da Juratek, esse pacote inclui acordos como a compra da Armetal, em 2017, na Argentina, e a aquisição da Haldex Brake Products Corporation, nos Estados Unidos, em 2008.

Já no que diz respeito ao financiamento dos M&As, Souza observa que a dívida líquida do grupo, de R$ 59,5 milhões em 2023, está em um patamar “tranquilo”. E ressalta que a empresa ainda tem uma boa parcela dos recursos captados no follow on de 2022, quando levantou R$ 630 milhões.

“Se compramos uma operação que combina os Ebitdas, poderíamos alavancar 2 vezes, 2,5 vezes e teríamos entre R$ 1 bilhão e R$ 2 bilhões para fazer um movimento”, diz. “E não há uma discussão no momento, mas nosso plano é também acessar o mercado de capitais com mais frequência.”

Enquanto faz essas contas, a Frasle mantém alguns pontos de atenção no exterior, em linha com as “tempestades” citadas por Carvalho. O principal é a Argentina, apontada como o grande fator por trás da queda de 25,7% na receita externa no quarto trimestre de 2023, para R$ 185,8 milhões.

“A Argentina nos tirou quase R$ 115 milhões de receita em 2023”, diz Souza. “Mas essa perspectiva já está incluída no cenário para o ano e, de forma geral, acabamos muito bem 2023 e seguimos na mesma sintonia para 2024.”

Investimentos orgânicos

À parte dos M&As, o guidance para 2024 aponta para investimentos orgânicos entre R$ 130 milhões e R$ 170 milhões. Em 2023, o capex foi de R$ 133,7 milhões. Para esse ano, a prioridade será a expansão da capacidade produtiva e os ganhos de produtividade.

“O grosso desse investimento será aplicado no Brasil”, diz Carvalho. Um dos principais projetos será a expansão de 25% da capacidade da fábrica de Joinville (SC), que produz discos de freios. A previsão é que a unidade, com seus recursos ampliados, esteja em plena operação no primeiro trimestre de 2025.

Sérgio Carvalho, CEO da Frasle Mobility

Também haverá espaço para expandir a fábrica em Prattville, no Alabama (EUA). Hoje a unidade é mais voltada à produção de pastilhas de freio para veículos intermediários e caminhões de menor porte.

“A ideia é produzir essas pastilhas para veículos mais pesados, já que o mercado americano tem avançado em uma boa velocidade nessa direção”, afirma Carvalho. “Temos conquistado bons negócios no segmento e, então, vamos investir em equipamentos modernos e em mais automação na unidade.”

Em outros dados do balanço, a Frasle Mobility apurou um lucro líquido de R$ 93,9 milhões no quarto trimestre de 2023, um salto de 166%. No ano, o crescimento foi de 91,2%, para R$ 388,7 milhões. Entre outubro e dezembro, a receita líquida recuou 0,7%, para R$ 741,3 milhões.

O grupo encerrou o trimestre com um Ebtida ajustado de R$ 98 milhões, uma retração de 8,1%. No ano consolidado, porém, o indicador teve uma expansão de 39,8%, para R$ 664,7 milhões. Já a margem Ebitda ajustada evoluiu de 15,6%, em 2022, para 19,6%, em 2024.

As ações da Frasle fecharam o pregão da segunda-feira, 11 de março, cotadas a R$ 16,74, uma ligeira alta de 0,54%. No ano, porém, os papéis da companhia, avaliada em R$ 4,47 bilhões, registram uma queda de 1,52%.