Depois de demonstrarem uma maior propensão para tomada de riscos no fim do primeiro semestre, os gestores calibraram o quanto estão dispostos a adicionar ativos altamente voláteis em seus portfólios, ainda que as expectativas para o Ibovespa permaneçam positivas para 2023 e 2024.
Segundo pesquisa conduzida pelo Bank of America (BofA) com 31 estrategistas de investimentos que gerem ao todo US$ 80,3 bilhões em ativos, apenas 16% afirmam que estão com posições com risco superior ao normal em seus portfólios.
O resultado pressupõe um pouco mais de conservadorismo dos profissionais em relação ao observado na pesquisa de julho, quando 28% dos gestores disseram estarem com ativos mais arriscados em seus portfólios. Foi a primeira vez no ano que as respostas ficaram acima da média histórica, de 21%.
O conservadorismo também pode ser visto no nível de caixa dos fundos administrados por estes profissionais. Mesmo tendo recuado de 8%, em agosto, para 7,5%, em setembro, ele permanece acima da média histórica de 5,1%.
“A tomada de risco está baixa em termos históricos e os níveis de proteção estão próximos à média histórica da pesquisa”, diz trecho do relatório da equipe comandada por David Beker, chefe de economia para Brasil e de estratégia para América Latina do BofA.
Segundo a pesquisa, o principal risco sinalizado pelos gestores vem dos Estados Unidos, em meio às dúvidas sobre novas altas de juros por parte do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Em seguida aparece a economia chinesa e o comportamento das commodities.
No fim de agosto, durante o simpósio de Jackson Hole, em Wyoming, o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que aumentos adicionais nos juros ainda estão em discussão e eles podem permanecer altos por mais tempo do que o esperado.
Se o cenário internacional está levando a um ajuste, ele não é suficiente para retirar os investidores da Bolsa. Conforme mostra a pesquisa, o percentual de gestores que planeja aumentar a alocação em ações nos próximos seis meses passou de 38% para 48%.
O foco são naquelas empresas que a pesquisa chama de “alta qualidade”, enquanto teses de growth e value vem na sequência. Dentre os setores que os gestores ouvidos pela pesquisa estão mais overweight estão finanças e energia. Já o consumo discricionário lidera o ranking dos underweight.
Apesar das questões que circundam a economia da China, a pesquisa apurou que a alocação em nomes ligados a commodities cresceu. “Vimos commodities ter um desempenho forte nos últimos meses, dadas as baixas posições e o aumento dos preços”, diz trecho do relatório.
O otimismo vem num momento em que as expectativas são positivas para o Ibovespa e para a economia brasileira, com mais de 40% dos entrevistados esperando que o principal índice da B3 feche 2024 entre 130 mil e 140 mil pontos. Em 2023, a estimativa é que o Ibovespa fique entre 120 mil e 130 mil pontos.
A Selic, determinante para trazer mais pessoas para a renda variável, deve ficar entre 8,5% e 9,25% ao ano ao final do ciclo de alívio monetário, segundo a pesquisa. “Indivíduos rotacionando para as ações podem ser o elemento chave para equities em 2024 e a expectativa é de que isso ocorra quando a Selic alcançar 10% ao ano”, diz trecho do relatório.
Para o PIB, cerca de 81% dos gestores entrevistados esperam que ele registre alta de mais de 2% ao final de 2023, acima dos 47% que responderam dessa forma na pesquisa passada. Em 2024, o crescimento deve ficar entre 1% e 2%, de acordo com eles. Já o real deve ficar numa faixa entre R$ 4,81 e R$ 5,10 frente ao dólar no ano que vem.
Por volta das 12h17, o Ibovespa subia 0,89%, a 117.927 pontos. No ano, o índice acumula alta de 7,4%.