O Grupo Omni está se reencontrando com bons resultados. A instituição financeira deixou o prejuízo para trás em abril, quando alcançou o break even, mira R$ 200 milhões de lucro bruto neste ano e sai em busca de dobrar o patrimônio líquido para R$ 1,5 bilhão até 2028.

Único player de financiamento de veículos independente do mercado, o Omni teve de passar por uma reestruturação após ter caído na tentação de entrar em novas frentes ao ver o surgimento dos neobancos digitais, como o Nubank. A estratégia não deu certo e os investimentos não tiveram o retorno esperado. Em 2022, o grupo teve um prejuízo de R$ 65 milhões, em 2023 o rombo foi de R$ 156 milhões - em parte pelo processo de reestruturação.

“Não soubemos interpretar os movimentos do setor e o ciclo da alta de juros nos deixou muito expostos”, diz Heverton Peixoto, CEO do Grupo Omni, em entrevista ao NeoFeed.

“Entrei para fazer o diagnóstico do que deu errado e trazer método e planejamento para fazer a virada. Logo vimos que era preciso reduzir a companhia e seguir onde temos um diferencial”, complementa.

Peixoto, que foi presidente da Wiz Soluções, assumiu a liderança do Grupo Omni em abril de 2023. E deu início a uma série de reestruturações que começam a aparecer neste segundo semestre.

A mais importante foi o corte de custos, que resultou em redução de 25% do quadro de funcionários e na venda de verticais (na sua maioria novas) consideradas pouco sinérgicas com o restante da operação, o que também resultou na redução da carteira de crédito total de R$ 10 bilhões para cerca de R$ 5 bilhões.

Com essa decisão, a operação do banco digital e cartão de crédito ficou focado apenas nos clientes do grupo, e o crediário lojista e o crédito para PME sem garantia foram fechados. Já a operação de cartões private label e o cartão de crédito Trigg foram vendidos.

Hoje, a companhia está focada em quatro frentes. A primeira, que é responsável por mais a metade da operação, é o financiamento de veículos com bens em garantias, que está crescendo 20% neste ano e visa terminar 2024 com uma carteira de R$ 4,5 bilhões. O banco está aumentando o número de agentes comerciais de 137 para 200 até o fim do ano.

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Heverton Peixoto, CEO do Grupo Omni

Em 2023, a Omni atendeu 1.524 municípios para financiamento de veículos leves, motos e pesados, tendo mais de 7,2 mil lojistas cadastrados, se consolidando como o nono player do Brasil em leves usados e o quarto em motos e em pesados usados.

“Aqui somos os mais lucrativos do mercado e com um modelo diferenciado de distribuição B2B2C”, afirma Peixoto. “Nossos vendedores só trabalham para nós, e não vendem qualquer financiamento como o modelo tradicional de correspondente bancário.”

Nesta frente, o banco compete com grandes players, como Santander e Itaú. Mas enquanto estes focam na classe A e B e em veículos novos, a Omni navega bem as faixas de renda C, D e E. Já competindo mais entre a baixa renda está o Banco Pan (do grupo BTG), mas que também acessa mais a classe C e tem menos foco em veículos usados.

O grupo poderia estar crescendo a um ritmo ainda mais acelerado, mas está travado pela limitação de Basiléia (índice de risco bancário), que impede o banco de captar mais no mercado para aumentar a carteira de empréstimo. Mas isso deve ser resolvido ainda este ano. A Omni CFI é classificada pela Fitch Ratings como BBB (qualidade média) e na Standard & Poor 's como brA.

“Conseguimos equacionar as contas para destravar a Basileia, que hoje é de 12%. Pretendendo conseguir liberar capital até o fim deste ano para crescer de forma mais acelerada. Estimamos que voltamos a crescer 20% ao ano. Agora é o momento de acelerar o crescimento”, diz Peixoto.

Com essa perspectiva, o banco quer dobrar a carteira total de crédito hoje em R$ 5 bilhões até 2028 – o que também dobraria o patrimônio líquido do banco no período para R$ 1,5 bilhão.

Projeto de sucessão

Criado por Érico Ferreira e Tadeu Silva em 1994, o Grupo Omni está se preparando para um avanço na profissionalização dos negócios. Os sócios-fundadores estão mais distantes do dia a dia da companhia e a ideia é deixar de ser uma empresa familiar e agregar outros sócios.

O processo de sucessão de liderança teve início com a chegada de Peixoto, que vem trabalhando em estruturas de governança corporativa para deixar a companhia pronta para um evento de liquidez nos próximos cinco anos.

A melhor alternativa seria um IPO, mas visto o pouco apetite do mercado, pode não ser viável. Também estaria sendo avaliada a venda de uma participação para um private equity ou para players estratégicos.