Cofundador da Oaktree Capital, gestora com US$ 189 bilhões de ativos sob gestão, Howard Marks ostenta uma longa ficha de serviços prestados no universo dos investimentos, o que lhe rendeu uma fortuna estimada em US$ 2,2 bilhões e admiradores ilustres e confessos, como Warren Buffett.

Com esse currículo, o autor do livro "O mais importante para o investidor" tem sido uma figura recorrente em eventos promovidos no Brasil. Sua “presença” mais recente, via videoconferência, aconteceu na terça-feira, 2 de abril, no Brazil Investment Forum, promovido pelo Bradesco BBI.

Em virtude de problemas de áudio, suas primeiras palavras não puderam ser ouvidas pelas mais de 5.000 pessoas presentes no Grant Hyatt Hotel, em São Paulo. Alguns poucos segundos depois, resolvido o problema, ele brincou: “Não sou uma IA”.

Bom humor à parte, Marks não mostrou o mesmo ânimo quando questionado sobre a onda da inteligência artificial sob a ótica da Oaktree Capital. Ao que tudo indica, ele não parece estar tão disposto a “conversar” com esse hype. Ao menos neste momento.

“Bom, nós usamos IA em nossos processos, principalmente para organizar dados. Essa é a sua melhor aplicação no momento”, afirmou. E acrescentou: “mas não investimos em IA, não investimos em tecnologia e não investimos em ações. Isso não está afetando a nossa tese.”

Na sequência, ele não afirmou categoricamente que o boom da IA é uma bolha. Mas falou sobre a natureza das “modas” do mercado, ao ressaltar que o fato de que algumas empresas serão bem-sucedidas passa a impressão de que todos os ativos valham a pena, como se fosse um bilhete de loteria.

Marks fez então uma referência à bolha pontocom, que estourou no fim da década de 1990. Ele ressaltou que, antes disso acontecer, o mantra era de que a internet mudaria o mundo e qualquer empresa do setor poderia ser extremamente valiosa.

“O The Wall Street Journal, no fim de cada bolha, tem um pequeno box em sua primeira página listando algumas das ações que foram afetadas”, afirmou. “E, na bolha tech, as ações caíram mais de 99%. A maioria delas, 100%.”

Ele destacou ainda que, em ondas dessa magnitude, muitas pessoas, impedidas de investirem na ação daquela que, eventualmente, será a grande vencedora daquela corrida, pelo papel estar mais valorizado, acabam optando por um outro ativo, sem pesar fatores importantes nessa escolha.

“A pessoas não calculam os ganhos potenciais ou não sabem como fazê-lo. Talvez elas apenas coloquem dinheiro nisso porque se encaixa no mantra do dia”, disse Marks. “É disso que as bolhas são feitas. São preços ou ativos irracionalmente altos, mas que realmente não têm valor tangível. Ou boa parte não tem.”