Nova York - O Brasil tem perspectivas mais positivas do que negativas quando o assunto é endereçar questões climáticas, na visão de investidores estrangeiros. De acordo com estudo realizado pela Boston Consulting Group (BCG), o País está bem posicionado para ser carbono neutro e atrair US$ 3 trilhões em investimentos até 2050.
Para desbloquear esse potencial, transição energética, descarbonização, biocombustíveis e cuidado com o desmatamento estão entre os tópicos nos quais o Brasil se destaca, enquanto questões como hidrogênio verde ainda precisam ser desenvolvidas.
Apesar de contar com recursos naturais que auxiliam nesse processo e diversas iniciativas que pensam em inovações para o setor, o investimento ainda é um ponto de atenção. Atualmente, o Brasil está em sexto lugar no ranking dos países que mais investem na transição energética, destinando em torno de 2% de seu PIB para o tópico.
Para conseguir avançar nesse indicador, o País precisa de apoio público e privado, sem contar com investimentos internacionais. Porém, a instabilidade política é um ponto sensível, principalmente pela questão fiscal. Na visão dos especialistas que estiveram presentes no Brazil Climate Summit, em Nova York, nos Estados Unidos, esse é um dos principais desafios para atrair capital.
“No Brasil, a chegada de um partido radical pode gerar incertezas sobre a estabilidade das instituições além do governo, o que impacta a confiança em investimentos de longo prazo, que incluem os focados no clima”, afirma Samar Maziad, vice-presidente e analista sênior de riscos soberanos da Moody’s.
Em sua visão, é crucial que haja um quadro institucional sólido e a capacidade de executar projetos de forma que o capital seja atraído e os recursos naturais possam ser monetizados. Porém, a reversão de políticas é uma preocupação constante, já que os investidores se perguntam se as mudanças serão duradouras antes de pensar em colocar dinheiro no Brasil.
Para Andrés Ackermann, head da divisão de instituições financeiras no Inter American Development Bank (IDB), a falta de projetos concretos também é uma questão importante no momento. Ele afirma que, sem exemplos e modelos de sucesso para seguir, o processo de investimentos fica ainda mais complexo.
“A falta de projetos não se aplica apenas a grandes obras de infraestrutura, mas também a uma variedade de pequenas iniciativas que poderiam estar crescendo”, afirma Ackermann.
“Se nos limitarmos a fundos, a decisão do investidor se torna simples: ele procura um histórico de sucesso, especialmente em iniciativas climáticas. Além disso, é crucial que haja projetos disponíveis para esses fundos investirem”, complementa.
O executivo espera que, em um futuro próximo, o Brasil possa ter um mapa que mostre que, se resolvermos todos esses problemas, o dinheiro virá. Porém, ele afirma que não é uma questão fácil e não há uma solução mágica.
Tentando mitigar esse risco, Catalina Hayata, head de Latam private credit na empresa de investimentos Macquarie, afirma que investe no País por meio de fundos globais, que têm uma porcentagem destinada para aportar fora do “mundo desenvolvido”.
Ela conta que a firma fez um investimento recente de US$ 700 milhões em energias renováveis em parceria com outras companhias, o que mostra que eles estão otimistas com o País. Porém, para a executiva, será possível ver um progresso no segmento quando “conseguirmos levantar um fundo específico para essas oportunidades”.
“O potencial do Brasil é enorme. A matriz de energia limpa simplesmente funciona, e não há outro país comparável no mundo que tenha esses elementos e essa riqueza de espaço natural”, afirma Hayata. “Eu diria que, de uma perspectiva de gestão de ativos, essa é a nossa motivação na hora de pensar no investimento, mas existem essas outras questões a serem endereçadas”.
“Se tivéssemos uma maneira racional de valorizar o capital ou os ativos de energia limpa que o Brasil possui, teríamos uma classificação soberana muito melhor do que a que temos hoje, porque esses ativos são essenciais para o funcionamento e a saúde a longo prazo da economia mundial”, complementa Jeremy Oppenheim, sócio-gerente da Systemiq.
Para os executivos, existem ferramentas e medidas que poderiam ser implementadas para atrair esse capital para o Brasil. Eles afirmam que a parceria público-privado desempenha um papel fundamental nesse processo, e a colaboração entre o governo e o setor público é extremamente importante.