A pandemia ressaltou a dependência global da China no que diz respeito à produção e alimentou a busca por alternativas de manufatura em outros países. No caso das empresas americanas, essa procura teve como combustível adicional a crescente tensão entre os Estados Unidos e o governo chinês.

Desde então, a Índia tem se consolidado como a principal alternativa nessa reconfiguração. E uma das companhias que vêm ajudando a redesenhar esse mapa é a Apple, que, cada vez mais, está avançando na produção dos iPhones em solo indiano, enquanto reduz a fabricação na China.

Alguns números do último ano fiscal da empresa, encerrado em 30 de setembro, ilustram bem esse contexto. No período, a big tech americana produziu o equivalente a US$ 14 bilhões em iPhones na Índia, segundo dados compilados pela agência Bloomberg.

Em outros indicadores que reforçam o maior peso dado ao país, um em cada sete iPhones, ou 14% da produção total, já são feitos na Índia. Esse volume representa o dobro do que era fabricado por lá no exercício fiscal anterior.

A Apple trabalha com 100% da sua manufatura terceirizada e, desse total registrado na Índia, cerca de 67% foram produzidos pelas taiwanesas Foxconn, o parceiro mais conhecido da gigante americana, e Pegatron, que respondeu por 17%. O restante ficou a cargo da indiana Wistron, do grupo Tata.

A Índia começou a receber os primeiros projetos de produção do iPhone em 2017. Mas o país passou a ser um destino mais frequente dessas iniciativas à medida que as relações entre os Estados Unidos e a China pioraram. Até então, historicamente, o país asiático concentrava a fabricação do dispositivo.

Nessa virada, outros mercados, como o Vietnã, também passaram a abrigar tais projetos, mas a Índia ganhou prioridade. Tanto que, em junho de 2023, Tim Cook, CEO da Apple, se reuniu com Narendra Modi, primeiro-ministro do país. E, no mesmo ano, a empresa abriu suas primeiras lojas por lá.

Isso não significa que a China vai desaparecer do mapa da Apple. Ao menos no que diz respeito à ponta do consumo, dado que o país é um dos principais mercados da marca, o que também motivou duas visitas recentes de Cook. A última delas, no fim de março deste ano, para inaugurar uma loja em Xangai.

As duas viagens de Cook ao país, num intervalo de menos de cinco meses, não significam, porém, que a China está produzindo boas notícias no campo das vendas registradas pela gigante americana. Ao contrário.

No primeiro trimestre fiscal da empresa, encerrado em 30 de dezembro, a receita na China foi de US$ 20,8 bilhões, contra 23,9 bilhões, em igual período, um ano antes. Já ano fiscal encerrado em setembro, a queda foi de 2%, para US$ 72,5 bilhões.

Já na categoria de smartphones, a Apple fechou 2023 de volta ao topo, apesar da crescente concorrência com players locais, como Honor, OPPO, Vivo e Xiaomi. No ano, o market share do iPhone no país subiu de 16,8% para 17,3%, segundo a consultoria IDC.

Entretanto, dados compilados por outra consultoria, a Counterpoint Research, indicam que o início de 2024 não foi nada favorável para o dispositivo, carro-chefe da Apple. De acordo com a empresa, as vendas do iPhone caíram 24% nas primeiras semanas do ano.

As ações da Apple registravam um recuo de 1,19% na Nasdaq, por volta das 12h (horário local), cotadas a US$ 167,66. Em 2024, os papéis da companhia, avaliada em US$ 2,5 trilhões, acumulam uma queda de 12,9%.