Ano de Copa do Mundo é sempre comemorado pelo varejo. A principal competição de futebol do planeta estimula o consumo no Brasil, com os brasileiros gastando mais para abastecer a geladeira e trocar de televisor, torcendo pela Seleção Brasileira.
Se o evento por si só já gera expectativa de aumento nas vendas, a Copa de 2026 vem com um “gostinho a mais”: os efeitos da isenção de Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil por mês.
Prevista para entrar em vigor no início de 2026, a medida foi celebrada por Renato Franklin, CEO do Grupo Casas Bahia, e Fernando Yunes, vice-presidente sênior e líder do Mercado Livre no Brasil.
Para eles, a isenção, somada à perspectiva de queda da Selic e ao impulso de consumo gerado pela Copa, deve estimular as vendas, especialmente entre o público mais sensível aos juros elevados.
“O público da Casas Bahia será muito beneficiado pela isenção, pois ajuda tanto na entrada quanto na regularização de débitos, permitindo um limite maior de crediário”, disse Franklin na sexta-feira, 7 de novembro, no NeoSummit O Futuro do Varejo, evento do NeoFeed sobre o futuro do varejo. “E a Copa do Mundo é muito forte, como uma Black Friday só de TVs.”
Essa visão foi corroborada por Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, que afirmou que a medida equivalerá a “quase um 14º salário” para quem ganha R$ 5 mil mensais. Segundo ele, mesmo com o impulso à atividade, a medida não deve alterar os planos do Banco Central (BC).
“Não é algo que mude muito a trajetória da inflação esperada para o próximo ano”, disse. “Já está na conta do BC. Vai impulsionar a atividade, mas não deve reacelerar a economia de forma significativa.”
Para aproveitar esse cenário, Casas Bahia e Mercado Livre já estão se movimentando. Franklin contou que a varejista tem mais de dois fornecedores por categoria, o que deve garantir preços competitivos, além da nova parceria com o Mercado Livre.
Do lado da plataforma de e-commerce, as ações incluem patrocínios com Neymar e Ronaldo Fenômeno, acordo publicitário com a CazéTV — que exibirá a marca em todos os jogos transmitidos — e cupons de desconto.
“Tem tudo para ser uma baita Copa em termos de consumo. E o fuso horário dos Estados Unidos é bem melhor do que em Copas com jogos na madrugada. A audiência deve ser grande, o que impulsiona as vendas”, afirmou Yunes.

Mas, segundo Mesquita, os efeitos da isenção podem ser limitados se o próximo governo não fizer ajustes nas contas públicas para controlar a tendência de alta da dívida pública.
“A política fiscal dá com uma mão e tira com a outra. Injeta recursos no bolso das pessoas, mas retira ao manter os juros elevados”, disse. “A isenção para quem ganha até R$ 5 mil ajuda no curto prazo, mas se não for compensada, agrava o déficit fiscal.”
Lidar com a situação fiscal também é uma demanda dos varejistas. Juros altos afetam o consumo e o desempenho das empresas, dificultando investimentos e ações para impulsionar as vendas.
“Num negócio intensivo em capital como o varejo, que exige compra de estoque e financiamento ao consumidor, seja via parcelamento, cartão de crédito ou crediário, a disciplina na alocação de capital se torna ainda mais rigorosa”, afirmou Franklin.
A situação levou as empresas a ajustarem suas operações. No caso da Casas Bahia, acelerou a reestruturação, guiada pela filosofia back to basics, com foco na linha branca.
O Mercado Livre, por sua vez, buscou maior eficiência para lidar com os custos decorrentes dos juros altos. Yunes contou que foi uma mudança significativa para a companhia, mais acostumada a priorizar crescimento nos 18 países em que atua na América Latina.
“Quase nasceu uma nova agenda de produtividade na empresa. O Mercado Livre sempre foi muito focado em crescimento, excelência no serviço ao consumidor, logística, sortimento e usabilidade. A disciplina de custos não era tão presente, mas passou a integrar a estratégia com o tema dos juros”, disse.