Já há alguns trimestres, o Itaú Unibanco vem destoando positivamente entre os grandes bancos privados do País ao mostrar, em seus indicadores, que está conseguindo lidar melhor com o contexto mais desafiador no que diz respeito à concessão de crédito e a inadimplência.
Na manhã de segunda-feira, 8 de maio, ao divulgar seu balanço de janeiro a março de 2023, não foi diferente. Mesmo com a deterioração do cenário macro observada nos últimos meses, o banco voltou a reportar números mais fortes que Bradesco e Santander, seus principais pares e concorrentes.
O Itaú encerrou o primeiro trimestre de 2023 com um lucro líquido recorrente de R$ 8,4 bilhões, um salto de 14,6% sobre igual período, um ano antes. Segundo um levantamento da TradeMap, esse foi o maior lucro já registrado entre janeiro e março entre os bancos de capital aberto listados na B3. E o segundo maior lucro trimestral de um banco no País.
Outros dados reforçam esse “feito”. O número na última linha do balanço do Itaú foi superior aos lucros somados de Bradesco e Santander, que totalizaram R$ 6,3 bilhões. Nesse intervalo, o lucro líquido do Bradesco recuou 37,3%, na mesma base de comparação, para R$ 4,2 bilhões. Já o Santander reportou uma queda de 46,6%, para R$ 2,1 bilhões.
Em outra linha do balanço, o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) do Itaú foi de 20,7%, contra 20,4%, há um ano, e 19,3%, entre outubro e dezembro de 2022. O banco encerrou o período com um índice total de inadimplência acima de 90 dias na casa de 2,9%, mesmo patamar registrado no quarto trimestre de 2022. Um ano antes, esse índice estava em 2,6%.
“Nós já vínhamos antecipando há alguns trimestres que nossa melhor expectativa é de que o atraso acima de 90 dias se estabilizaria exatamente nesse trimestre”, disse Milton Maluhy Filho, CEO do Itaú Unibanco, em conversa com jornalistas.
Ele prosseguiu: “Isso mostra que nossa gestão de crédito, com uso constante e intensivo de dados, tem dado resultado”, observou o executivo. “Não só pela qualidade do resultado, mas também pela previsibilidade.”
No trimestre, as despesas de provisão para créditos de liquidação duvidosa (PDD) ficaram no patamar de R$ 9 bilhões. O montante representou um crescimento de 28,7%, em base anual, mas representou uma queda de 9,1% sobre o quarto trimestre de 2022.
O custo do crédito, por sua vez, recuou 7,3% na comparação com o último trimestre do ano passado, para R$ 9,08 bilhões. Em relação ao primeiro trimestre de 2022, o crescimento foi de 30,4%.
No trimestre, a carteira de carteira de crédito total do banco chegou a R$ 1,15 trilhão, alta de 11,7%. Em pessoas físicas, o avanço foi de 16%, para R$ 402,8 bilhões. Já em micro, pequenas e médias empresas, a evolução foi de R$ 9,2%, para R$ 170,3 bilhões, e, em grandes empresas, de 7,2%, para R$ 350,9 bilhões.
Itaú vê estabilidade na inadimplência
Na call, Maluhy Filho disse esperar que a inadimplência na carteira de pessoas físicas siga em patamares estáveis nos próximos trimestres, com a abertura para alguma variação, “para cima ou para baixo”, de 10 pontos base. Já em pessoa jurídica, ele enxerga uma normalização gradual nos próximos trimestre.
As perspectivas mais positivas que seus pares não significam, no entanto, que não há pontos de atenção no horizonte do Itaú Unibanco. Nessa direção, um dos segmentos em que o banco permanece com uma visão mais cautelosa é o de crédito para empresas.
“Não é só uma questão de oferta do banco. Muito pelo contrário”, afirmou Maluhy Filho. “A demanda tem caído e temos percebido uma redução importante em vários segmentos. Há muita demanda por capital de giro tradicional e muito menos por investimento de longo prazo.”
Em paralelo a esse contexto, Alexsandro Broedel, CFO do Itaú Unibanco, ressaltou que o banco segue priorizando uma gestão bem ativa da carteira do banco no segmento de corporate, mesmo sem reduzir volumes nesse espaço.
“Temos reduzido nossa exposição a setores com alta volatilidade, mais ligados a commodities”, observou o executivo. “E reduzido a concentração dos dez maiores devedores sobre patrimônio líquido do banco, além de aumentar a participação de empresas investment grade na carteira.”
No trimestre, o banco reportou ainda uma margem financeira gerencial da operação foi de R$ 24,6 bilhões, alta anual de 17,3%, enquanto a margem com clientes ficou em R$ 24 bilhões, um avanço de 20% na mesma base de comparação.
A receita de prestação de serviços evoluiu 5,9%, para R$ 10,3 bilhões. Já as despesas administrativas cresceram 13,8%, em base anual, para R$ 4,6 bilhões. Em relação ao último trimestre de 2022, o recuo foi de 1,9%.
Sólido como esperado
Em relatório, o Goldman Sachs destacou os resultados sólidos, “como esperado”, as provisões em linha com as expectativas e os níveis “saudáveis” de inadimplência da operação. Mas ressaltou, na contramão, a desaceleração no crédito corporativo e a atividade mais fraca em mercado de capitais.
No saldo dessa avaliação, os analistas do Goldman Sachs têm recomendação de compra e preço-alvo para a ação do Itaú Unibanco de R$ 31 para os próximos 12 meses.
As ações preferenciais do Itaú estavam sendo negociadas a R$ 26,28 por volta das 12h15 na B3, alta de 1,12%. No ano, os papéis do banco, avaliado em R$ 236,7 bilhões, acumulam uma valorização de 5,1%.