Desde o fim de maio de 2023, quando foi nomeado como novo CEO da Porto, empresa da qual já era conselheiro desde março de 2020, Paulo Kakinoff viveu um período intenso, como ele mesmo classifica, de sete meses de preparação.

Após essa passagem de bastão comandada por Roberto Santos, seu antecessor, o ex-presidente da Gol assumiu definitivamente o comando da companhia em 2 de janeiro desse ano. E, em sua primeira divulgação de balanço, o executivo foi o portador de uma boa notícia.

Ao reportar seus resultados do quarto trimestre e do ano de 2023, a Porto registrou um lucro líquido recorrente anual recorde de R$ 2,26 bilhões, alta de 100,2% sobre 2022. E, a partir desse cartão de visitas, o novo CEO da empresa falou sobre as perspectivas da operação agora sob a sua liderança.

“O Roberto e o seu time foram absolutamente generosos ao me envolverem em qualquer decisão que pudesse afetar a companhia a partir de janeiro”, disse Kakinoff, em sua primeira entrevista à imprensa. “E deixaram como legado um ano histórico, o que nos gera um entusiasmo dobrado para 2024.”

Nesse contexto, Kakinoff deixou claro que uma das prioridades em sua agenda será acelerar uma das frentes que foi gestada justamente durante o seu período de transição. Trata-se da Porto Serviço, a quarta e mais recente unidade dentro da reorganização do grupo em verticais, anunciada em 2022.

Estruturada a partir da aquisição da CDF, em maio daquele mesmo ano, e desenvolvida no decorrer de 2023, a Porto Serviço foi lançada oficialmente em dezembro, com um portfólio que inclui desde eletricistas e encanadores até serviços de recolocação profissional e orientação financeira.

“Essa é a vertical que deverá receber maior intensidade de ações e projetos ao longo desse ano”, afirmou Kakinoff. “Hoje, temos 130 produtos e serviços nesse portfólio. Imagine o impacto que podemos ter no nosso resultado se adicionarmos um serviço a mais para cada cliente da nossa base.”

A possibilidade de vendas cruzadas com outras frentes do negócio da Porto – Seguros, Porto Saúde e Porto Bank – é justamente um dos trajetos a serem cumpridos para materializar as boas perspectivas vistas na nova unidade da companhia.

“Temos um potencial enorme de crescimento no nosso próprio aquário”, observou, em uma referência aos 15,9 milhões de clientes da Porto no fim de 2023. “Vamos comunicar essa base sobre esses serviços e nosso canal corretor, que responde por 90% do que produzimos, será a principal via.”

Um outro caminho que deverá ser percorrido nessa direção serão os M&As, em linha com o que já foi feito na trajetória ainda pequena da unidade. Além da CDF, a Porto Serviço foi o destino e o racional da aquisição da Unigás, empresa de instalação e assistência técnica, em agosto de 2023.

“Hoje, boa parte desses serviços é ofertada no Sul e Sudeste. E, mesmo nessas regiões, não há uma uniformidade”, disse. “Isso nos dá uma oportunidade de crescimento orgânica, mas também de aquisições regionais, que permitam ampliar tanto o portfólio como a chegada em novas geografias.”

Ainda no campo dos M&As, Kakinoff falou sobre os possíveis destinos para o Carro Fácil, seu serviço de assinatura de veículos, que chegou a ser incluído no anúncio de uma joint venture na área de mobilidade com a Cosan, em 2021. A parceria foi encerrada, porém, um ano depois.

“Estamos em uma discussão sobre o formato por meio do qual a Porto deverá seguir oferecendo o serviço”, disse ele. “No momento, a hipótese com mais tração é um modelo asset light, onde, ao invés de fazer a gestão do produto, teremos alguma parceria para capitalizar a força de vendas que temos.”

Balanço

Além do lucro líquido recorrente recorde no ano, entre outubro e dezembro, na mesma linha do balanço, a Porto reportou um crescimento de 24%, para R$ 688,9 milhões. A cifra veio acima das projeções de R$ 660 milhões, do Bank of America, e de R$ 500 milhões do BTG Pactual.

A receita total do grupo no quarto trimestre foi de R$ 8,4 bilhões, o que representou um salto de 23,9% na comparação com igual período de 2022. Já a receita total em 2023 avançou 16,2%, para R$ 31,7 bilhões.

Na vertical de seguros, sua principal operação, os prêmios registraram uma expansão, em base anual, de 4,3% no trimestre. Já no ano, o destaque ficou com os seguros no segmento auto, com um avanço de 10,7% nos prêmios e uma sinistralidade de 53,7%, uma redução de 10,2 pontos percentuais sobre 2022.

A Porto encerrou o trimestre com um retorno sobre patrimônio médio (ROAE) de 23,9%, contra 22,3% no mesmo intervalo de 2022. No consolidado do ano, o indicador evoluiu do patamar de 11,4% para 19,6%.

As ações da empresa fecharam o pregão desta terça-feira com alta de 3,15%, cotadas a R$ 27,54. No ano, os papéis acumulam uma desvalorização de 4,1%. A companhia está avaliada em R$ 17,6 bilhões.