A enorme lista de credores da Americanas foi protocolada na Justiça. Essa é uma parte importante dentro do processo de recuperação judicial da companhia. A relação tem 278 páginas e mostra a dívida bilionária da rede varejista, de mais de R$ 41 bilhões. Os maiores valores são com as instituições financeiras.

O Bradesco, por exemplo, aparece com 4,510 bilhões em reais e 55,6 milhões em dólares; o Itaú Unibanco também em duas moedas: 2,731 bilhões em reais e 6,698 milhões em dólares. Já Santander, BTG Pactual, Safra e Banco do Brasil são credores em reais de 3,652 bilhões, 3,568 bilhões, 2,526 bilhões e 1,291 bilhão, respectivamente. E o Deustche Bank, 1 bilhão de dólares.

Os bancos estão bastante incomodados com a postura da Americanas e têm se posicionado de forma enfática contra a rede varejista. Em conversa com o NeoFeed, os banqueiros manifestaram o clima de revolta.

Mas o endividamento da Americanas vai muito além dos bancos.

Grandes empresas constam com valores milionários a receber, quando não bilionários. Nesse grupo está a Samsung, a fabricante de eletrônicos, com R$ 1,209 bilhão. O montante da empresa sul-coreana é muito superior ao das concorrentes. A Motorola, por exemplo, está em R$ 160,891 milhões, a Apple tem a receber R$ 98,615 milhões, a Sony, R$ 55,821 milhões e a LG Eletronics R$ 52,857 milhões.

A Philco e a Semp TCL, duas das principais marcas em vendas de TVs, têm a receber R$ 197,309 milhões e R$ 70,293 milhões, respectivamente, um valor superior ao da TPV, dona das marcas AOC e Phillips, que aparece com R$ 23,423 milhões.

A Whirlpool, que é muito forte na linha branca com marcas como Brastemp e Consul, consta com R$ 43,616 milhões (há uma dívida de R$ 2,709 milhões com a Brastemp Amazônia). E a Mondial e a Britânia, que fornecem diversos utensílios domésticos eletrônicos, de ventiladores a secadores de cabelo, estão na lista com um total de R$ 101,285 milhões e R$ 97,682 milhões, respectivamente.

As big techs, que são parte importante na distribuição de anúncios para os consumidores no universo digital, também estão na relação. O Google tem a receber R$ 91,745 milhões; o Facebook, R$ 11,484 milhões; e o LinkedIn, R$ 437,3 mil.

Kit Kat 5 por R$ 5

Um dos símbolos recentes da Americanas é o Kit Kat. As promoções para comprar grandes quantidades do chocolate e pagar barato era um atrativo para os consumidores entrarem nas lojas. A venda de chocolates, aliás, era um dos carro-chefe da rede varejista, principalmente na Páscoa. Mas com dívidas que ultrapassam R$ 535 milhões com grandes fabricantes, fica a dúvida como será a negociação neste ano.

Na lista de credores, a fabricante Nestlé tem a receber R$ 259,370 milhões, um valor muito acima de Mondelez (R$ 97,861), Bauducco (R$ 95,523 milhões) Hershey (R$ 16,780 milhões), Neugebauer (R$ 15,008 milhões), Ferrero (R$ 14,860 milhões) e Lindt (R$ 3,021 milhões).

Na Top Cau, uma indústria que terceiriza a produção para marcas como Bauducco, Mondeléz e até para a própria Americanas, a dívida é de R$ 1,041 milhão. E a Chocolates Garoto consta apenas R$ 105,76.

A indústria de higiene e beleza também aparece em destaque entre os credores, com mais de R$ 220 milhões em dívida com grandes empresas. Em destaque estão Coty, dona de marcas Risqué e Bozanno (R$ 60,647); Gessy Lever, que detém Lux e Rexona (R$ 53,832); Johnson & Johnson, de Neve e Huggies (R$ 53,405 milhões), L'Oréal (R$ 41,119) e Colgate Palmolive (R$ 9,337 milhões).

Sucessos de venda

Entre as centenas de nomes, é possível perceber a força de produtos que ficam nas gôndolas próximas aos caixas e atraem a atenção dos consumidores no momento final da compra. A fabricante de canetas Bic, por exemplo, tem a receber R$ 23,242 milhões. As pilhas Duracell, R$ 3,740 milhões. E a Panini, que esteve em alta com o álbum de figurinhas da Copa do Mundo, R$ 5,079 milhões.

A seção de brinquedos é outra bastante procurada pelos consumidores da Americanas. O Dia das Crianças de 2022 foi o melhor para o setor desde 2012, mas as principais empresas precisarão esperar para receber mais de R$ 208 milhões. A Mattel, que fabrica os carrinhos Hot Wheels e as bonecas Barbie, é a maior credora com R$ 154,532 milhões, seguida pela Hasbro, da massinha Play-Doh e boneca Baby Alive (R$ 47,306 milhões), Estrela (R$ 4,420) e Lego (R$ 2,024 milhões).

No fim, nem outro negócio que faz parte do 3G, de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, escapou. A Ambev consta na lista com um crédito a receber de R$ 4,099 milhões, um montante inferior aos R$ 6,050 milhões da Red Bull, por exemplo.

Eles, que são os acionistas referência da Americanas, distribuíram uma nota lacônica 10 dias após Sérgio Rial, então CEO da rede varejista que renunciou ao cargo, revelar a existência de um "problema contábil" na empresa.