Após um 2023 com quedas em boa parte dos seus indicadores, a Positivo Tecnologia deu sinais de recuperação ao divulgar seu balanço do primeiro trimestre de 2024 na noite de terça-feira, 14 de maio. Entre outros números, o grupo apurou um lucro líquido de R$ 64 milhões, alta anual de 655%.
Com um horizonte mais favorável, a empresa já definiu suas prioridades para 2024. Além de um pipeline bilionário no setor público, esse calendário dialoga com uma agenda recente de M&As, que, por sua vez, se conecta com as duas últimas unidades de negócio criadas sob o mantra de diversificação do grupo.
A principal transação foi a compra da Algar TI, em março deste ano, por R$ 235 milhões, configurando o maior acordo da Positivo desde a sua fundação, em 1989. Com um valor não relevado, a aquisição da distribuidora de produtos de segurança SecuriCenter, em junho de 2023, completa essa lista.
“Um dos grandes focos é a integração da Algar TI, que fortalece a Positivo Tech Services e a nossa estratégia de ser uma one stop shop de infraestrutura de TI”, diz Helio Bruck Rotenberg, CEO da Positivo, ao NeoFeed. “O outro é crescer a PositivoSEG, a partir da integração da SecuriCenter.”
No caso da peça mais nova dessa coleção, a Algar TI, a forma como se dará a fusão com a Positivo Tech Services ainda está sendo estudada. Mas deve começar a ganhar velocidade no fim deste mês, quando está previsto o fechamento da operação e o pagamento de uma parcela inicial de R$ 190 milhões.
Com a confirmação desse sinal verde para a transação, Rotenberg explica que um dos primeiros passos
será fazer o carve out [reorganização societária] da Algar TI do grupo Algar e a unificação dos sistemas adotados pela empresa e a Positivo.
Nesse processo, a Positivo vai incorporar um time de 4,5 mil profissionais e reforçar seu portfólio com ofertas de nuvem, inteligência artificial e cibersegurança. Além de 160 clientes e da presença da Algar TI em 16 países da América Latina, com operações diretas no México, na Colômbia e na Argentina.
“Hoje, há clientes da Algar TI que não compram os computadores, os servidores e o serviços de break and fix que nós fazemos. Assim como nossos clientes não compram esses serviços mais sofisticados deles”, diz Rotenberg. “Essas vendas cruzadas são as principais sinergias, mas elas não são imediatas.”
Segundo o CEO, o acordo amplia o mercado endereçável da Positivo Tech Services de cerca de R$ 15 bilhões para R$ 30 bilhões, levando em consideração apenas o Brasil. Essa conta inclui ainda uma cifra adicional de R$ 30 bilhões, relacionada a serviços de inteligência artificial.
“Nós levaríamos um bom tempo para ter todas essas competências e estamos cortando um caminho com essa aquisição”, afirma Rotenberg. “A Algar TI consolida essa nossa estratégia e, de brinde, ainda traz esse componente de internacionalização.”
Enquanto não captura essas sinergias, a Positivo Tech Services avança com suas próprias pernas. Embora não revele nomes, Rotenberg diz que, entre outros clientes, a unidade já atende três grandes contratos firmados com dois bancos e um grupo de saúde.
Divisão de segurança eletrônica e automação criada em junho de 2023, com origem nos negócios da Positivo no segmento de casa inteligente, a PositivoSEG também ampliou sua operação no período, com a abertura de uma segunda filial da SecuriCenter, em Curitiba (PR).
Com sua atenção nessas integrações, a Positivo deve reduzir seu apetite em M&As. Ao mesmo tempo, Rotenberg diz que não há uma preocupação com a elevação da alavancagem do grupo a partir da aquisição da Algar TI. Esse foi um fator questionado pelo mercado na época do acordo.
“Estamos gerando caixa e tivemos nossa menor alavancagem dos últimos anos”, observa. A Positivo fechou o trimestre com uma geração de caixa de R$ 83 milhões e uma alavancagem de 1,3 vez, contra 1,5 vez um ano antes.
“Se tivéssemos feito o primeiro pagamento de R$ 190 milhões pela Algar nesse trimestre, esse índice iria para 1,6 vez, o que ainda é um bom patamar”, ressalta ele. “Então, temos tranquilidade no balanço para fazer essa aquisição.”
O balanço da Positivo veio acompanhado de uma outra notícia que reforça essa percepção. A empresa anunciou o resgate antecipado da terceira emissão de debêntures da empresa, no valor de R$ 200 milhões e com um custo de CDI + 3,75% ao ano, sem a necessidade de uma nova emissão.
Em linha com esse contexto mais positivo, a companhia tem uma expectativa de retomada nos projetos ligados ao setor público. Após um 2023 com redução no ritmo de compras nessa instância, a empresa registrou um faturamento de R$ 420 milhões no segmento no primeiro trimestre, alta anual de 11%.
“À parte desse número, já temos cerca de R$ 1 bilhão contratados para esse ano”, diz Rotenberg. “E um pipeline de R$ 6 bilhões em licitações, que inclui, entre outros processos, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação e projetos de secretarias de educação em São Paulo e no Paraná.”
Negócios à parte, no setor público a Positivo tem outro projeto já em andamento, ligado às enchentes que destruíram a maior parte do Rio Grande do Sul e que está sendo desenvolvido a partir de conversas com a secretaria de educação do estado.
“A secretaria nos deu a chave ao dizer que, quando a água baixar, e as escolas puderem voltar a funcionar, muitos computadores vão precisar ser trocados ou consertados”, conta. “Então, já estamos desenvolvendo um plano de contingência para lidar com essa situação”
Salto na receita
Em outros números do trimestre, a Positivo reportou uma receita bruta de R$ 1,17 bilhão, alta anual de 38%. Na divisão Commercial, que reúne as ofertas para empresas e órgãos públicos, o salto foi de 16%, para R$ 658 milhões. Em consumer, a expansão foi de 4%, para R$ 268 milhões.
Em projetos especiais, a empresa faturou R$ 249 milhões, a partir da entrega das últimas 220 mil urnas eletrônicas para as eleições de 2024, dentro de um contrato cujo valor total foi de R$ 1,4 bilhão. Já o Ebitda cresceu 36%, para R$ 116 milhões, e a margem Ebitda recuou de 12,1%, há um ano, para 11,6%.
As ações da Positivo fecharam o pregão da terça-feira, 14 de maior, na B3 cotadas a R$ 9,16, queda de 1,40%, dando à empresa um valor de mercado de R$ 1,28 bilhão. Em 2024, os papéis POSI3 registram, porém, uma valorização de 31,6%.