A corrida pela produção de chips de inteligência artificial (IA) para fazer frente à Nvidia, líder do mercado, esquentou nesta quinta-feira, 15 de agosto, com a revelação do jornal britânico Financial Times (FT) de que o Softbank, conglomerado japonês de tecnologia e telecomunicações, tentou colocar de pé uma parceria com a fabricante de chips americana Intel.

As negociações se arrastaram por meses, mas não avançaram. A Intel – que no início do mês anunciou planos drásticos de corte de custos, incluindo demissões, após apresentar resultados negativos no primeiro trimestre – não conseguiria atender à demanda do Softbank para a produção de chips ultramodernos em termos de volume e rapidez exigidos.

O episódio reforçou a intenção do fundador e presidente-executivo do SoftBank, Masayoshi Son, de investir bilhões de dólares na tentativa de colocar o grupo japonês no centro do boom da IA. Son teria, inclusive, apresentado seus planos para gigantes de tecnologia, incluindo Google e Meta, de produzir chips e software, além de fornecer energia para data centers que abrigariam seus processadores.

Eventuais pedidos antecipados dessas grandes empresas de tecnologia bancariam o investimento do Softbank e da Intel na produção de chips.

O conglomerado japonês tem operações em banda larga, telecomunicações de linha fixa, comércio eletrônico, serviços de tecnologia, finanças, mídia e marketing, design de semicondutores, entre outras atividades.

A escolha da Intel como parceira, em tese, faria todo o sentido para o Softbank. De um lado, o grupo japonês pretende combinar os designs de chips da Arm - empresa britânica especializada no desenvolvimento de microprocessadores, à qual o Softbank detém 90% das ações - com a experiência de produção de sua mais recente aquisição, a Graphcore, fabricante de chips de IA do Reino Unido, negócio fechado justamente visando esse salto do Softbank.

De outro, o objetivo do conglomerado japonês seria aproveitar o financiamento da Lei de Chips do governo dos Estados Unidos para impulsionar a produção doméstica de semicondutores, utilizando as fábricas da Intel no país. Em março, a Intel obteve quase US$ 20 bilhões em financiamento e empréstimos do governo dos EUA

A proposta também se encaixaria na estratégia do presidente-executivo da Intel, Pat Gelsinger, de investir pesadamente na tentativa de alcançar as rivais TSMC e Samsung na fabricação de chips e conquistar novos clientes importantes.

Os planos do Softbank, porém, começaram a fazer água em várias frentes. O FT informou que a transferência da Arm para a produção de chips poderia prejudicar o relacionamento do grupo com a Nvidia, um cliente importante, mas Son teria avaliado que o risco valeria a pena.

Os chips de data center de IA da Nvidia são de longe os mais populares do mercado, com sua ampla plataforma de software, Cuda, sustentando seu domínio.

Os problemas financeiros da Intel acabaram enterrando de vez as chances de a parceria com o Softbank avançar. A Intel, que foi um investidor fundamental na oferta pública inicial da Arm em setembro do ano passado, revelou esta semana que vendeu toda a sua participação no designer de chips do Reino Unido durante o segundo trimestre deste ano, levantando cerca de US$ 150 milhões.

Em abril, a Intel revelou um prejuízo operacional de US$ 7 bilhões em seu negócio de manufatura, causando a queda das ações. Seguiram-se relatos de uma falha de design em seus chips de PC.

Durante o seu último anúncio de resultados no início deste mês, a Intel lançou um plano para cortar cerca de 15% da sua força de trabalho, num contexto de queda nas receitas. As suas ações perderam um quarto do seu valor num dia, deixando a sua capitalização de mercado abaixo dos US$ 100 bilhões.

Com isso, o Softbank estaria se concentrando nas discussões com a TSMC, a maior fabricante terceirizada de chips do mundo, mas não chegou a um acordo, já que a fabricante com sede em Taiwan está lutando para atender à demanda dos clientes existentes, incluindo a Nvidia.