Em novembro de 2018, quando ainda aguardava a licença do Banco Central (BC) para dar início às suas operações, o C6 Bank anunciou a compra de uma plataforma de câmbio, a Besser Partners, como parte de um esforço para estrear, no ano seguinte, como uma instituição que atuaria em todas as frentes do setor financeiro.
De lá para cá, o avanço no segmento de câmbio tem sido a passos largos. Após terminar seu primeiro ano de operação sem estar sequer entre as 100 instituições que mais transacionam moedas no Brasil, em ranking do BC, o C6 chegou à lista das 50 primeiras em 2020. E, atualmente, já ocupa o 24º lugar, com US$ 8,17 bilhões em operações, enquanto o líder, o Santander, soma US$ 199,7 bilhões.
Para chegar mais perto dos gigantes que compõem o pelotão de frente, como o banco espanhol, o Citi e o Itaú Unibanco, o C6 se prepara para entrar no segmento de crédito para exportações, por meio de uma linha de financiamento que será ofertada aos clientes corporativos a partir de setembro. O crédito para importações também está no radar e deve ser lançada no fim do ano.
“O câmbio é estratégico para o C6 porque acaba servindo como uma espécie de degustação para os clientes corporativos, para que eles tenham um primeiro acesso e depois utilizem outros produtos”, afirma o head da área, Leandro Tondin, ao NeoFeed.
Hoje, a área de câmbio do banco tem atuação mais concentrada em grandes empresas que contam com uma alta demanda para trocar moedas. Com o plano de financiar exportações e importações, o C6 espera se aproximar das companhias de médio porte, com faturamento anual superior a R$ 24 milhões.
Especificamente na parte de crédito para exportações, o C6 também terá um longo caminho para percorrer até se aproximar dos grandes bancos. Só o Itaú, por exemplo, tem uma carteira de crédito para comércio exterior de R$ 50,2 bilhões, enquanto a carteira total do C6 para clientes corporativos é de R$ 825,7 milhões.
No mês passado, o C6 passou a ter como um dos seus acionistas o J.P. Morgan, banco americano que comprou 40% da instituição brasileira, em um movimento estratégico para entrar no varejo bancário do Brasil.
Embora o J.P. Morgan ocupe a 4ª colocação no ranking de câmbio do BC, com US$ 126,6 bilhões em operações registradas no primeiro semestre, o C6 afirma que a chegada da instituição americana não altera a estratégia para a área de câmbio. “Mas é uma demonstração da nossa capacidade de execução e, claro, traz ainda mais credibilidade para a operação”, afirma Tondin.
O executivo diz não ter uma projeção do quanto o banco pode transacionar com o novo serviço ainda em 2021. Mas ressalta que o C6 vai começar a explorar o comércio exterior em um momento mais favorável, em meio à reabertura das economias dos países e com o dólar em um patamar mais alto, acima de R$ 5, gerando mais competitividade para as empresas brasileiras.
No ano passado, com os efeitos da pandemia sobre o comércio global, as exportações do Brasil caíram 6,1%, para US$ 209 bilhões. A queda, naturalmente, se refletiu no financiamento. Segundo dados do BC, nos 12 meses encerrados em maio, a concessão de crédito destinada a exportações caiu 52%, em comparação aos 12 meses imediatamente anteriores, para R$ 40,03 bilhões.
Para esse ano, porém, as projeções são mais animadoras. A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), que reúne companhias exportadoras e importadoras, estima que as exportações alcancem R$ 270 bilhões em 2021, alta de 28,7% em relação ao ano passado, enquanto as importações devem crescer 27,1%, para R$ 202 bilhões.
“Esperamos fazer bastante financiamento para o agronegócio, com foco no produtor rural que precisa desse tipo de produto”, diz Tondin, do C6. A aposta é uma bola de segurança, uma vez que o cenário internacional tem sido mais favorável para os brasileiros que exportam commodities.
“Não só porque o Brasil é mais competitivo nesse mercado”, afirma José Augusto de Castro, presidente da AEB. “Mas também, porque as cotações estão subindo e o câmbio está em um patamar que ajuda.”
Segundo Castro, as commodities estão entre os 14 produtos mais exportados pelo Brasil e, para esse ano, a expectativa é de que, sozinhos, minério de ferro, soja e petróleo representem 41% das exportações, em dólares.