Em 18 de janeiro deste ano, a Microsoft mostrou que está disposta a abrir seu cofre para impulsionar sua operação de games, ao anunciar a compra da Activision Blizzard, por US$ 68,7 bilhões, naquela que pode ser a maior aquisição da sua história.
A compra da dona de franquias como Call of Duty, World of Warcraft e Candy Crush ainda irá passar pela análise de órgãos regulatórios e de concorrência. Mas caso seja aprovada, já é possível apontar um dos vencedores desse jogo.
Trata-se de Warren Buffett, dono de uma fortuna estimada em US$ 114 bilhões. A Berkshire Hathaway, gestora do investidor e bilionário americano, comprou cerca de US$ 1 bilhão em ações da Activision Blizzard no quarto trimestre de 2021, antes da proposta da Microsoft pelo ativo.
Segundo documentos arquivados na Securities and Exchange Commission (SEC), em 31 de dezembro do ano passado, a Bershire Hathaway tinha 14,7 milhões de ações da companhia de games, um pacote avaliado, na época, em US$ 975 milhões.
Levando-se em conta o preço do fechamento das ações da Activision Blizzard na segunda-feira, 14 de fevereiro, no valor de US$ 81,50, a participação detida pela gestora de Buffett estaria avaliada em aproximadamente US$ 1,2 bilhão.
Os papéis da empresa de games acumulam uma valorização de 23% em 2022, sob o impulso da proposta bilionária feita pela Microsoft. Caso o negócio com a Microsoft seja fechado, o lucro de Buffett e companhia será ainda maior, dado que a proposta toma como base o preço de US$ 95 por ação.
O "tiro", ao que tudo indica, certeiro da Berkshire Hathaway foi dado justamente em uma época na qual o preço das ações da Activision Blizzard recuava na Nasdaq. Os papéis desvalorizaram-se quase 30% desde meados de 2021 e chegaram a ser negociados a US$ 56,40 no quarto trimestre.
O estopim para que isso acontece foi uma ação movida contra a empresa por reguladores da Califórnia, em julho de 2021, em um caso envolvendo acusações de assédio sexual e disparidade salarial entre os cerca de 10 mil funcionários da companhia.
Em novembro do ano passado, o anúncio do adiamento dos lançamentos dos títulos Diablo IV e Overwatch 2, bem como as críticas ao novo jogo da franquia Call of Duty, só contribuíram para ampliar a desconfiança dos investidores sobre os rumos da empresa naquele período.
Vale mencionar que Buffett, além da proximidade no ranking de bilionários, é amigo de longa data de Bill Gates, fundador da Microsoft. Ele deixou o board da empresa em março de 2020. Na época, a Microsoft informou que ele seguiria atuando como uma espécie de consultor da companhia.
No mesmo período, Gates também se desligou do Conselho de Administração da Berkshire Hathaway. Buffett, por sua vez, era um dos membros do board da Fundação Bill & Melinda Gates, e renunciou ao posto no ano passado.
O fato é que a compra da fatia na Activision Blizzard contrasta com a seca de investimentos da Berkshire Hathaway desde o início da pandemia, em uma postura que chamou a atenção do mercado por não se encaixar no perfil arrojado de Buffett e da gestora.
Com essa estratégia mais conservadora, a Berkshire Hathaway encerrou o terceiro trimestre de 2021 com US$ 149,2 bilhões em caixa e equivalentes, o maior volume desde o início de 2020, antes da chegada e do avanço global da Covid-19.
Na contramão dessa abordagem, a gestora seguiu reforçando a tese de recompra de suas ações, que já vinha sendo colocada em prática desde 2018. Entre janeiro e setembro do ano passado, a empresa destinou mais de US$ 20 bilhões a essa frente.
Além da compra da participação na Activision Blizzard, os documentos arquivados na SEC mostraram que, no quarto trimestre, a Berkshire Hathaway seguiu vendendo suas posições em empresas farmacêuticas como Teva, AbbVie e Bristol-Myers Squibb.
Em contrapartida, a empresa ampliou ou manteve suas fatias em operações como a petrolífera Chevron e na Apple, a maior estrela da sua carteira. A empresa da maçã está avaliada atualmente em US$ 2,75 trilhões.