A participação do investidor estrangeiro no mercado brasileiro de ações aumentou em setembro, encerrando o mês com 51,1% das ações em custódia na B3. O crescimento da fatia do investidor internacional foi de 1,1 ponto percentual no mês. No mesmo período do ano passado, eles representavam 47% das ações em custódia na B3.
Gestoras locais e pessoas físicas terminaram com 17,5% e 16,7% de participação, respectivamente. O restante está dividido entre instituições financeiras, com 4%, e outros (categoria que agrega tesourarias de empresas), com 10,6%. Os dados foram divulgados na quarta-feira, 15 de outubro.
Paulo Abreu, sócio-fundador e gestor da Mantaro Capital, diz que a saída dos investidores locais da bolsa por meio de resgates de fundos de ações e a menor atividade da pessoa física explicam essa maior presença do estrangeiro na custódia dos papéis locais. “Dá para ver bem o comportamento da bolsa no mês, correlacionando positivamente com o fluxo estrangeiro”, diz ele.
Desde o início do ano, a bolsa recebeu R$ 20,3 bilhões de capital externo, sendo que esse fluxo só foi negativo em dois meses até setembro – mesmo número de meses em que o Ibovespa fechou em queda. “Isso acaba afetando um pouco o comportamento de curto prazo dos preços, pois ficamos muito à mercê do fluxo marginal do investidor estrangeiro”, diz Abreu.
O fluxo de estrangeiros é significativamente melhor em relação ao ano passado, quando houve saída de R$ 24,2 bilhões, mas bem inferior à entrada de R$ 56 bilhões em 2023 e de R$ 119,8 bilhões em 2022.
Embora considere os juros altos e a vantagem dos títulos incentivados nesse cenário, o sócio-fundador da Mantaro Capital pontua que o desempenho aquém da indústria local de fundos acentuou os pedidos de resgate e, consequentemente, a saída de brasileiros da bolsa.
Em 2022, os gestores locais representavam 22,1% da custódia, 4,6 pontos percentuais a mais que atualmente. Desde aquele ano, no entanto, os fundos de ações perderam cerca de R$ 90 bilhões em resgates líquidos e os multimercados, quase R$ 700 bilhões no mesmo período.
Luciano Boudjoukian França, sócio-fundador e gestor da Avantgarde Asset, aponta que, embora esteja mais alta a entrada de estrangeiros, esse é um fator que não se restringe apenas ao mercado brasileiro. “É um movimento que impacta grande parte das bolsas nos mercados emergentes.”
Os estrangeiros também aumentaram, em setembro, a participação no volume negociado, de 60,5% para 61,5%. A presença dos investidores internacionais nas negociações vem em uma crescente desde 2023 e é a maior, pelo menos, desde 2019, data dos últimos dados divulgados pela B3. Naquele ano, os estrangeiros representaram 45% das negociações.
Christian Keleti, gestor e sócio-fundador da Alpha Key, acrescenta que, além da saída de investidores locais, a presença de estrangeiros também foi impulsionada pela maior quantidade de fundos quantitativos de gestores internacionais na bolsa brasileira.
“Dezenas de fundos começaram a operar no Brasil, montando ‘N’ tipos de estratégias, sendo protagonistas no volume da bolsa”, diz ele.
Keleti acrescenta ainda que parte significativa dos investimentos estrangeiros no Brasil é feita por meio do ETF iShares MSCI Emerging Markets, o EEM, que tem exposição de 4,3% no Brasil, sendo as posições nas maiores empresas do País. “Isso faz com que o fluxo se concentre mais nas large caps.”
Outra mudança que a maior presença de estrangeiros tem provocado no mercado, segundo gestores, é a maior influência dos temas internacionais nos preços.
“A predominância de estrangeiros aumenta a vulnerabilidade da bolsa a eventos externos, como variação das taxas de juros nos Estados Unidos e tensões geopolíticas, que podem aumentar a volatilidade na B3 e gerar saídas abruptas de capital”, afirma Otávio Araujo, consultor sênior da Zero Markets Brasil.