Desde domingo, 5 de outubro, quando a Sabesp anunciou a compra da participação do empresário Nelson Tanure na EMAE, o negócio virou palco de uma batalha judicial entre o Fundo Macadâmia, da XP, a administradora Vórtx e Tanure. E a briga está fervendo nos tribunais.
O escritório Tepedino Berezowski Poppa Advogados, que representa a Vórtx e o Fundo Macadâmia, soltou uma petição no estilo “soco na cara” de Tanure. Em uma parte, que tem o título de “Quem ludibriou quem? Ou faça o que eu digo…”, os advogados tecem duras acusações contra as garantias apresentadas para financiar a compra da EMAE e as supostas irregularidades que vinham sendo cometidas na empresa após o fundo Phoenix, de Nelson Tanure, assumir o controle da estatal.
Protocolada na 1ª Vara Empresarial de São Paulo contra a Phoenix, de Nelson Tanure, a peça é uma resposta ao pedido de tutela de urgência apresentado pelo grupo, que tenta barrar o vencimento antecipado da dívida garantida pelas ações da EMAE e a venda do controle da companhia à Sabesp.
“Ingressaram os autores, inadimplentes confessos, com esta ação judicial, encenando o papel de pobre vítima espoliada que veste mal em Nelson Tanure, um empresário que, para dizer o que basta, não se fez notório por sua ingenuidade”, afirmam os advogados do escritório Tepedino Berezowski Poppa Advogados.
A defesa ainda afirma que o vencimento antecipado se deu não só pela falta do pagamento da primeira parcela, mas por múltiplas razões. Diz ainda que foram “tolerantes demais” e que “o vencimento antecipado poderia ter sido declarado muito antes”.
Nas palavras da defesa, a XP foi “ludibriada” pelo requerente da dívida e por agentes de mercado, sendo a “vítima de um aparente engodo fabricado para viabilizar a concessão de um crédito em grande parte garantido por ações cujos preços eram artificialmente inflados”.
Na manifestação, a XP e a Vórtx relatam que, ao buscar financiamento para comprar o controle da EMAE, Nelson Tanure e seus veículos apresentaram como garantia não apenas as ações da própria estatal, mas também um lote de ações da Ambipar, avaliadas à época em mais de R$ 4 bilhões.
O documento destaca que, no fim de 2024, os papéis da Ambipar eram os de maior valorização da B3, o que fez o ativo parecer sólido e confiável para compor o pacote de garantias do empréstimo.
A XP sustenta, porém, que essa valorização foi artificial — resultado de operações suspeitas entre o controlador da Ambipar, Tanure e o Banco Master, com o objetivo de inflar os preços das ações e torná-las mais atraentes como lastro da operação.
“Cabe, aqui, um registro de que Tanure e o Banco Master possuem laços empresariais estreitos e há em curso investigações sobre a real natureza do papel do primeiro em relação ao segundo, com indícios de que possa ser o seu real controlador”, diz a defesa da XP e Vórtx.
Na petição, a defesa afirma ainda que o recente derretimento das ações da Ambipar “demonstra que uma das garantias centrais da operação de financiamento da compra do controle da EMAE era efetivamente fajuta, com elementos graves e substanciais de que essa situação não só fosse conhecida dos autores, mas fruto de atos dolosamente por eles próprios praticados”.
O texto da manifestação também acusa a Phoenix e Nelson Tanure de esvaziarem o caixa da EMAE depois de assumirem o controle da companhia.
Segundo a XP e a Vórtx, a nova controladora teria promovido “operações atípicas e de altíssimo risco, marcadas por conflito de interesses”, que impactaram o valor da garantia e a higidez econômico-financeira da EMAE. O documento afirma que a empresa estava sendo subordinada “a interesses pessoais de seu controlador final e colocando em risco uma operação de enorme interesse social”.
A defesa aponta uma redução de R$ 159,56 milhões no caixa da EMAE entre setembro de 2024 e junho de 2025, e menciona transações suspeitas, como um empréstimo de R$ 10 milhões da EMAE para a Milos Participações, empresa ligada a Tanure. O empréstimo, segundo o documento, teria sido feito a uma taxa Selic acrescida de 4,5% ao ano.
XP e Vórtx também jogam suspeitas sobre supostos investimentos de alto risco e adiantamentos sem contrapartida clara que somam cerca de R$ 47 milhões no primeiro semestre de 2025. Nos balanços, os desembolsos aparecem como supostos investimentos para “diversificar receitas” e “viabilizar novos projetos”, mas, para a defesa, trata-se de operações nebulosas, sem contrapartida concreta e estranhas ao objeto social da companhia.
O texto observa ainda que nenhum movimento semelhante constava nos demonstrativos financeiros da EMAE antes da chegada de Tanure ao controle, reforçando a tese de que os recursos foram desviados sob o pretexto de iniciativas estratégicas.
Adicionalmente, os advogados da XP e Vórtx apontam que, sob o comando da Phoenix, a EMAE firmou em setembro uma operação de R$ 250 milhões para adquirir valores mobiliários conversíveis em ações da Light S.A., empresa em recuperação judicial e da qual Tanure é acionista de referência, com 18,9% do capital via WNT. O investimento, afirmam, é “estranho” ao objeto social da EMAE e representa mais um ato de conflito de interesse que teria drenado o caixa da companhia.
Segundo os advogados da defesa, mesmo ciente de que havia múltiplos fatores capazes de acionar o vencimento antecipado da dívida, a Phoenix tem agido de “má-fé” e recorrido a “táticas de guerrilha” no Judiciário.
A manifestação afirma que o grupo de Nelson Tanure vem promovendo “um verdadeiro fórum shopping”, ao ajuizar ações variadas com o mesmo propósito, distribuindo-as em sigilo, sem justificativa ou pedido formal de segredo de justiça, e apresentando uma versão distorcida dos fatos.
“O desprezo dos autores a um padrão elementar de lealdade e probidade é tamanho que chegaram ao cúmulo de construir todo um argumento com base em uma narrativa fabricada”, diz o texto.
A NeoFeed, Tanure disse que essas acusações já foram devidamente respondidas nos autos e que "tem todas as respostas para essas infâmias". Mas não deu mais detalhes, pedindo que o escritório Campinho Advogados fosse procurado pela reportagem.
O Campinho Advogados, procurado pelo NeoFeed, não retornou aos pedidos de entrevista até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestação.