Sob risco de ser uma das mais afetadas pelas novas tarifas de importação dos Estados Unidos, a Embraer conseguiu um alívio parcial após aviões e componentes de aviação serem excluídos da lista de quase 700 produtos que sofreriam sobretaxa adicional de 40%. Ainda assim, os bens exportados pela fabricante brasileira seguem sujeitos à alíquota inicial de 10% — antes, era zero.

Em apresentação dos resultados do segundo trimestre a investidores, a companhia informou que a maior parte desse impacto será concentrada no segundo semestre.

“Já sentimos cerca de 20% do impacto esperado das tarifas para o ano”, disse Antônio Carlos Garcia, CFO da Embraer, em teleconferência. “Os 80% restantes devem aparecer ao longo do segundo semestre.” As ações da companhia são negociadas em leve queda na B3, após a divulgação do resultado na terça-feira, 5 de agosto.

Na prática, as vendas de jatos comerciais para os Estados Unidos têm enfrentado tarifas inferiores a 10%, já que aproximadamente 40% das aeronaves têm peças fabricadas em solo americano. “Temos usado zonas de livre comércio e um bom nível de conteúdo local, o que ajuda bastante a mitigar esse efeito”, afirmou o executivo.

Ainda assim, a companhia afirma que tem trabalhado com representantes do governo brasileiro e autoridades norte-americanas para tentar restabelecer a alíquota zero.

“A Embraer afirma ter gerado um superávit comercial de mais de US$ 8 bilhões nos últimos cinco anos para os Estados Unidos, além de investimentos e empregos gerados no país. Existem precedentes em outras regiões do mundo e acreditamos que há espaço para resolver isso de forma positiva”, afirmou Garcia.

A Embraer registrou receita líquida de R$ 10,27 bilhões no segundo trimestre de 2025, alta de 31% na comparação anual, impulsionada pelos segmentos de aviação comercial e defesa. O Ebitda ajustado cresceu 40%, para R$ 1,39 bilhão, com margem de 13,5%.

A receita consolidada da Embraer cresceu 31% no segundo trimestre de 2025, para R$ 10,3 bilhões. O destaque foi a aviação executiva, cuja receita disparou 74% na comparação anual, para R$ 3,1 bilhões, com avanço de margem Ebit ajustada de 11,4% para 14,6%.

A divisão de defesa & segurança teve crescimento de 28%, puxado pelo Super Tucano, com melhora de margem de -0,5% para 9,3%. Já a área de serviços e suporte cresceu 23%, enquanto a aviação comercial teve alta de 11% na receita, com margem estável em torno de 4%.

Analistas da XP classificaram como “forte” o resultado do segundo trimestre, destacando a margem Ebit, que cresceu 3,9 pontos percentuais para 10,5% sustentada por uma “boa rentabilidade em todas as divisões”.

“O destaque em nossa visão ficou para a aviação executiva, que conseguiu compensar os efeitos de tarifas no trimestre com um controle mais forte em custos, com toda a expansão de margem EBIT, consequência de uma maior diluição das despesas com vendas”, escreveram os especialistas.

Apesar do avanço operacional, a companhia teve prejuízo líquido ajustado de R$ 53,4 milhões, ante lucro de R$ 415,7 milhões no mesmo período do ano passado. Excluindo itens extraordinários, como R$ 944 milhões em impostos diferidos e R$ 441,4 milhões dos resultados da Eve, a Embraer teria registrado lucro de R$ 449 milhões.

Sem prever grandes impactos das tarifas, após o setor ser eximido das sobretaxas adicionais, a Embraer manteve seu guidance. Para este ano, projeta receitas entre US$ 7,0 bilhões e US$ 7,5 bilhões — alta de 13% no ponto médio — com margem Ebit ajustada entre 7,5% e 8,3% e fluxo de caixa livre ajustado de pelo menos US$ 200 milhões.

A expectativa é entregar entre 77 e 85 jatos comerciais — crescimento de 10% no ponto médio anual — e entre 145 e 155 jatos executivos, avanço de 15% na mesma base de comparação.

Francisco Gomes Neto, CEO da Embraer, afirma que, dependendo da evolução dos próximos meses, o guidance ainda pode sofrer alguma alteração, mas que, no momento, a companhia está segura em mantê-lo.

“Ninguém sabe ainda o que vai acontecer com relação a essas tarifas. Eu diria que, no momento, o guidance está bastante seguro, mas preferimos realmente esperar mais meses e trimestres antes de contar uma história diferente ao mercado”, disse o CEO.