Quando abriu capital na B3, em fevereiro de 2020, a Locaweb ainda tinha como seu principal ganha-pão os serviços de software-as-a-service. Naquela época, apenas 22% da receita vinha da vertical de construção e gestão de plataformas de comércio eletrônico para empresas. Uma pandemia e diversas aquisições depois, o e-commerce já responde por mais de 60% da receita da Locaweb. E este percentual deve aumentar.

“Nos próximos três a cinco anos, vamos virar uma empresa majoritariamente de e-commerce”, disse Fernando Cirne, CEO da Locaweb durante um evento da companhia para investidores nesta terça-feira, 18 de outubro. De acordo com Cirne, a vertical deverá representar mais de 90% da receita da empresa no futuro.

O foco no e-commerce ficou claro no evento desta terça-feira. Em seu discurso de abertura, Cirne afirmou que “hoje não é o dia para falar de indicadores de resultados” – ainda que tenha mostrado alguns números gerais do negócio. Segundo o executivo, o evento seria dedicado a mostrar como é “montar uma loja para o cliente final”.

O fortalecimento da Locaweb no comércio eletrônico deve-se principalmente às aquisições que a companhia fez pós-IPO. Foram 14 empresas compradas no período, como Melhor Envio, Bling, Squid, Octadesk, entre outras, cujo foco está em e-commerce.

Um exemplo recente foi a aquisição feita no mês passado. Após 10 meses de abstinência, a Locaweb novamente movimentou o mercado de M&As ao adquirir a operação da Síntese Soluções, plataforma de omnichannel voltada para o varejo que custou R$ 35,2 milhões.

Com cerca de 50 clientes, entre eles empresas como Aramis, Grupo Soma, Reserva, a Síntese gerou interesse na Locaweb por conta de sua plataforma que tem soluções para o controle de logística e para a unificação da gestão de estoque em diferentes canais de venda, sejam eles digitais ou físicos.

"Queremos explorar o mundo físico no universo do e-commerce", disse Alessandro Gil, diretor-executivo de e-commerce e SaaS Enterprise da Locaweb Company, ao NeoFeed na época do negócio. “A loja física é hoje um minicentro de distribuição e aumenta muito a conversão.”

A Síntese e as outras aquisições estão ajudando a companhia criar um ecossistema focado no comércio eletrônico. A ideia é de que a Locaweb seja uma solução completa para quem quer ter uma loja online. Neste plano, a companhia quer ir além de apenas estruturar e hospedar o e-commerce.

Com as aquisições feitas, a Locaweb aumentou seu escopo e passou a ter força para operar com logística, serviços financeiros, plataforma de pagamentos, gestão empresarial, ferramentas de retenção e fidelização de clientes, sistema de pagamentos e geração e conversão de leads.

Entre essas áreas, duas são vistas com grande potencial de crescimento. A primeira é a geração de leads, na qual a companhia começou a operar após as aquisições das startups Squid e Octadesk. Outra vertical que Cirne cita como uma potencial agregadora de novos clientes é a frente de serviços financeiros focados na antecipação de crédito. Neste caso, a entrada se deu pela compra da Bling, em 2021, por R$ 524 milhões.

A mudança de ares no negócio vem trazendo resultados. No segundo trimestre deste ano, a companhia registrou receita líquida de R$ 986 milhões, 53% maior do que a registrada no segundo trimestre do ano anterior. A divisão de e-commerce sozinha dobrou de tamanho em relação ao mesmo período de 2021. Ao todo são 540 mil clientes.

Os esforços parecem agradar ao mercado. Antes dos resultados do segundo trimestre, relatórios financeiros de analistas do Bank of America já estavam com recomendação de compra para as ações da companhia. Em maio, o BofA afirmou que a Locaweb estava mais madura e destoava de seus pares techs na B3.

Após despencar do pico atingido em fevereiro de 2021, quando a Locaweb chegou a ter ações negociadas na B3 por quase R$ 35 cada, a companhia vem se recuperando em 2022.

Nos últimos seis meses, a empresa acumula alta superior a 25% no valor de seus papéis. Em 2022, no entanto, a desvalorização é de 17,5%. Nesta terça, as ações estão sendo negociadas com alta de 3,8%. A companhia está atualmente avaliada em R$ 6,2 bilhões.