O pagamento de dividendos extraordinários pela Petrobras segue sendo um tema central para os investidores da estatal, considerando as mudanças promovidas pela gestão de Jean Paul Prates nos parâmetros para cálculo de proventos, na criação de uma reserva de remuneração do capital e os planos de aumentar os investimentos nos próximos anos.
Embora ainda existam dúvidas sobre o que vem por aí, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias (PLDO) de 2024 indica a possibilidade de a companhia poder declarar dividendos extras de aproximadamente US$ 2 bilhões (R$ 9,8 bilhões) relativos ao desempenho de 2023.
A conclusão é da equipe de research da XP Investimentos, que chegou ao montante a partir de simulações em cima da expectativa do governo em relação aos dividendos que pode receber das estatais, que está em torno de R$ 41,4 bilhões.
“Fazendo algumas suposições sobre os dividendos de outras estatais (que têm um alto grau de incerteza), indiretamente chegamos a uma estimativa aproximada para os números do governo, para a Petrobras, em R$ 26,6 bilhões”, diz trecho do relatório assinado pelos analistas André Vidal e Helena Kelm. “Isso parece implicar dividendos extraordinários para o ano fiscal de 2023 de cerca de US$ 2 bilhões.”
Na simulação da XP, a Petrobras é a responsável pela maior parcela dos dividendos que a União pode receber, seguido por BNDES e Banco do Brasil. A expectativa para o BB é de que o governo receberá em torno de R$ 6,5 bilhões em 2024, montante relativo a este ano. Para o BNDES, assumindo a manutenção de um payout de 25%, a expectativa é de um desembolso de R$ 4,3 bilhões.
Para as outras estatais, os analistas assumiram uma contração de 15% dos dividendos pagos, comparados com os valores de 2022.
Com essas premissas, os analistas chegaram aos R$ 26,6 bilhões em dividendos que a Petrobras deve pagar à União. O valor equivale a R$ 7,10 por ação preferencial, um yield de cerca de 21%, embora os analistas destaquem que em torno de R$ 1,30 já foi declarado este ano.
“O projeto de lei orçamentária de 2024 pressupõe [cotação de] US$ 78 por barril, e aplicando isso ao nosso modelo da Petrobras, alcançamos dividendos extraordinários para o exercício de 2023 de US$ 2 bilhões”, diz trecho do relatório. Os analistas destacam que o montante está abaixo de suas estimativas, que vão de US$ 3 bilhões (US$ 14,7 bilhões) a US$ 4 bilhões (US$ 19,6 bilhões).
O fim dos pagamentos de dividendos extraordinários é um dos pontos negativos da tese de investimento da estatal entre os investidores. Quando a Petrobras propôs a revisão de seu estatuto, em outubro, para tratar da criação de uma reserva de remuneração do capital, o mercado reagiu mal, interpretando o movimento como o fim da distribuição de dividendos extraordinários.
As ações chegaram a cair mais de 6% em 23 de outubro, reagindo também a propostas relacionadas à governança corporativa. Ainda assim, a reserva acabou aprovada em assembleia geral extraordinária, ocorrida em 30 de novembro.
Também na frente de dividendos, a empresa divulgou, em julho, sua nova política de distribuição, trazendo como principal mudança a redução de 60% para 45% sobre o fluxo de caixa livre de cada trimestre para calcular a remuneração aos acionistas.
Outro risco apontado por analistas para a parte de dividendos é a intenção da Petrobras de elevar seus investimentos. O plano para o quinquênio de 2024 a 2028 prevê o desembolso de US$ 102 bilhões (R$ 501,3 bilhões), aumento de 31% em relação ao plano anterior.
O tema dos dividendos da Petrobras ganhou protagonismo em 2023, diante das críticas feitas por membros e pessoas ligadas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos montantes pagos pela Petrobras aos acionistas. Lula defendeu em diversas ocasiões que a companhia destine mais recursos a investimentos.
As ações preferenciais da Petrobras fecharam o pregão desta sexta-feira, 8 de dezembro, com alta de 3,05%, a R$ 34,44. No ano, os papéis acumulam alta de 40,5%, levando o valor de mercado a R$ 450 bilhões.