No primeiro plano de investimento da gestão de Jean Paul Prates, a Petrobras anunciou na quinta-feira, 23 de novembro, um montante de investimento um pouco superior ao que o mercado esperava, com menos recursos indo para exploração e produção de petróleo e ênfase maior em projetos de energia limpa.
O conselho de administração aprovou o plano estratégico para o quinquênio de 2024 a 2028, prevendo investir US$ 102 bilhões (quase R$ 500 bilhões). O montante é 31% superior em dólar ao plano anterior e está acima das expectativas do mercado, que calculava entre US$ 90 bilhões a US$ 100 bilhões, segundo relatório do BTG Pactual publicado em 21 de novembro.
Segundo a Petrobras, o aumento do capex está associado principalmente a novos projetos, incluindo potenciais aquisições. Tem ainda ativos que estavam em desinvestimentos e voltaram para a carteira de investimentos da companhia e a inflação de custos.
A exploração de petróleo segue puxando os investimentos, representando 72% do total previsto para ser aportado nos próximos cinco anos. O percentual total é menor do que o plano anterior, em que 83% dos recursos eram voltados para projetos de exploração e produção.
Quem aparece também é a Margem Equatorial, nova fronteira exploratória que a Petrobras vem tentando emplacar, mas sofre com regulações ambientais. O plano prevê US$ 3,1 bilhões para exploração da região, localizada no Norte do País, entre os estados do Amapá e Rio Grande do Norte.
E, conforme era esperado, os projetos de baixo carbono ganharam relevância. A Petrobras prevê destinar até US$ 11,5 bilhões nos próximos cinco anos nesta frente, considerando os investimentos transversais nos diversos segmentos de negócio.
São contempladas iniciativas e projetos de descarbonização das operações, assim como o amadurecimento e desenvolvimento de negócios. O plano aponta para o uso de US$ 5,5 bilhões em projetos de geração de energia de baixo carbono, com US$ 5,2 bilhões para projetos de geração eólica e fotovoltaica e US$ 300 milhões para projetos de hidrogênio e armazenamento de carbono (CCUS), além de corporate venture capital. Outros US$ 1,5 bilhão devem ser alocados em biorrefino.
Os investimentos em energia limpa são um dos pontos centrais da agenda de Prates e do governo para a Petrobras. Para isso, foi criada uma nova diretoria voltada para o tema e a companhia vêm assinando memorandos de entendimento como uma série de empresas internacionais.
Um mergulho no desconhecido
Analistas e investidores, porém, ressaltam que a companhia está embarcando num segmento que possui pouco conhecimento e que pode pesar sobre os resultados.
“Saber se o plano manterá a companhia investindo majoritariamente onde tem expertise e condições de extrair maiores taxas de retorno reais é importante para que os investidores mantenham a confiança no potencial de geração de valor por parte da empresa”, diz trecho de relatório da Ativa Investimentos.
Na média do período de 2024 a 2028, o investimento em baixo carbono representa 11% dos aportes totais da Petrobras. Em junho, o conselho de administração aprovou destinar de 6% a 15% dos recursos em projetos de baixo carbono no período.
A perspectiva é que o investimento em baixo carbono ganhe espaço gradualmente no portfólio da companhia ao longo do período, chegando a 16% em 2028. A companhia destaca que está focada em projetos rentáveis, “com priorização de parcerias para redução de risco e compartilhamento de aprendizados”.
Além da questão da expertise em energias renováveis, alguns analistas e investidores demonstram receio quanto ao futuro dos dividendos, diante dos sinais de que o plano traria um aumento dos investimentos para os próximos anos.
A Ativa destaca que após criar uma reserva estatutária, capaz de diminuir substancialmente a distribuição de dividendos extraordinários já em 2023, a imposição de valores muito grandes à investimentos pode fazer “o mercado novamente questionar a alocação estratégica da empresa”.
Apesar dos investimentos terem vindo acima do esperado, analistas apontam que a Petrobras vem tendo dificuldades em executar integralmente seus planos nos últimos anos. O BTG Pactual, que estimava US$ 86 bilhões para os próximos anos, destacou que os aportes feitos pela companhia nos últimos seis anos têm ficado, em média, 25% abaixo do guidance divulgado.
“Isso é provavelmente devido à natureza de grande escala e uso intensivo de capital de muitos projetos de exploração e produção, que muitas vezes enfrentam atrasos devido a fatores externos”, diz trecho do relatório.
Para a Ativa, porém, a assunção de maiores valores ao plano de investimentos “pode aumentar o questionamento dos investidores quanto à capacidade de execução dos valores pretendidos pela companhia”. “Quanto maior a ambição do plano, maior a sua potencialidade de frustração”, completa.
As ações preferenciais da Petrobras fecharam o pregão desta quinta-feira com alta de 0,03%, a R$ 35,17. No ano, elas acumulam alta de 43,5%, levando o valor de mercado a R$ 476,4 bilhões.