Em meio à expectativa no aumento da demanda a partir da implementação do programa social Gás do Povo, a Nacional Gás iniciou um ciclo de investimentos de cerca de R$ 150 milhões ao ano, principalmente com ações de tecnologia, para facilitar a comercialização dos revendedores no País.

A ideia da líder no ranking nacional de vendas de gás liquefeito de petróleo (GLP), o gás de cozinha, com 25,06% de market share, é ter um  "iFood do botijão". O aplicativo, chamado de Minha Revenda, ajudará no controle de estoque das revendedoras, que compram os botijões de 13 quilos da companhia, no gerenciamento do volume de pagamentos, histórico de consumo e na possibilidade de organizar essas entregas.

Até então, os pedidos eram feitos somente pelo site ou por telefone, via 0800 da empresa, e sem esse controle de gestão. O novo sistema ajudará a companhia a aumentar produtividade, com redução de tempo nessa operação de venda.

O modelo hoje está em fase piloto. A expectativa é que, em 2026, toda a base de mais de 6 mil revendedores dos botijões da Nacional Gás já esteja sendo atendida pelo novo modelo.

“A transformação digital é algo extremamente relevante. A grande dificuldade das revendas era justamente na conectividade e em um contato mais simplificado com a gente para obter informações e acesso à compra do GLP”, diz Aleksandro Oliveira, CFO do Grupo Edson Queiroz, controlador da Nacional Gás, em entrevista ao NeoFeed.

“Os nossos clientes, que são os revendedores, querem comprar o gás do mesmo jeito que compram no iFood, sem dificuldade. E com este novo aplicativo eles conseguem saber se têm crédito liberado, qual é o volume necessário de botijões e a programação da troca dos botijões vazios por cheios”, complementa.

Além da Nacional Gás, o conglomerado sediado em Fortaleza, no Ceará, também é dono das companhias Minalba Brasil, Esmaltec e o Sistema Verdes Mares de Comunicação. Em 2024, o grupo faturou R$ 12,8 bilhões, com Ebitda de R$ 1,7 bilhão, alta de 36% sobre o ano anterior - a empresa não revela a divisão de receita por unidades de negócios.

Segundo Celso Rocha, CEO da Nacional Gás Revenda, nessa fase do projeto-piloto já ficou claro que o app se tornou o principal canal para pedidos de botijões de gás da companhia. Além disso, o formato tem ajudado a mapear a rotina desses compradores.

“Essa digitalização tem gerado mais previsibilidade, eficiência e, principalmente, dados estratégicos que fortalecem o planejamento logístico e o entendimento sobre o comportamento de compra dos nossos clientes”, afirma Rocha.

“A nossa visão é em transformar o aplicativo em uma central digital de serviços, reunindo, em um só ambiente, tudo o que envolve a relação do cliente com a Nacional Gás”, complementa o executivo.

Também em fase experimental, a empresa deu início recentemente a uma parceria com o Zé Delivery, aplicativo desenvolvido pela Ambev, em Minas Gerais e Ceará, justamente para sentir a aderência da venda de botijões no canal. Neste caso, para atender diretamente o consumidor final, a partir de revendedores cadastrados na plataforma. Ainda não há prazo para expandir para outros estados.

O pacote de investimentos em tecnologia na Nacional Gás integra o plano diretor desenvolvido pela empresa para os próximos cincos anos e que soma um capex de cerca de R$ 750 milhões.

Isso inclui também outras soluções digitais, desenvolvidas pelo Grupo Edson Queiroz para todas as suas controladas, com a troca de um sistema da Oracle pela SAP para implementar ferramentas mais avançadas de gestão.

Aleksandro Oliveira, CFO do Grupo Edson Queiroz (esq.), e Celso Rocha, CEO da Nacional Gás Revenda

O Grupo Edson Queiroz também implementou um núcleo de inteligência artificial, para aprimorar o modelo de governança dos dados da companhia, com mais segurança de dados, e que incluiu a criação de uma assistente virtual, para atender demandas de funcionários sobre políticas e processos internos.

“O consumidor de hoje é diferente do de décadas atrás, e muito mais conectado com soluções digitais na hora da compra. Por isso que temos avançado de forma expressiva nesse tema. Nunca fizemos um investimento tão grande como agora em tecnologia”, afirma Oliveira.

Mais botijões no forno

Em paralelo com a transformação digital implementada na Nacional Gás, a companhia decidiu iniciar um plano com um novo volume de investimentos, além dos R$ 750 milhões já previstos, voltado especificamente para a compra de botijões, por causa do Gás do Povo, lançado em setembro deste ano e que começa a ser pago em novembro.

Neste caso, a estimativa inicial é de aportar R$ 350 milhões, justamente para suportar a nova demanda prevista, até o fim de 2026, de pelo menos 7% para o setor de GLP no País.

“Há uma previsão de aquisição de cerca de 1 milhão de novos botijões no próximo ano, em linha com a meta do programa. O objetivo é garantir que a produção acompanhe a demanda crescente”, afirma o CEO da Nacional Gás.

Segundo dados do Sindicato Nacional das Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo (Sindigás), o Brasil hoje realiza anualmente cerca de 400 milhões de cargas de 13 quilos de GLP. Esse volume é abastecido em 140 milhões de botijões hoje em circulação.

Para Sérgio Bandeira de Mello, presidente do Sindigás, faz sentido que as companhias iniciem imediatamente esse ciclo de investimento, dada a competição acirrada entre os principais players do setor. “Ninguém quer perder participação de mercado. Então, é necessário que esses recursos sejam colocados na compra dos botijões”.

Segundo o Painel Dinâmico do Mercado Brasileiro de GLP, produzido pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a Nacional Gás lidera o volume de vendas em 2025, com pequena margem sobre a Copa Energia, que tem 25,05% de participação. A Supergasbras está em terceiro, com 20,8%, seguida pela Ultragaz, com 11,8%.

O governo federal pretende subsidiar cargas em 65 milhões de botijões, o que deve beneficiar 15,5 milhões de famílias. No entanto, nem todo esse volume pode ser considerado como acréscimo ao setor, já que algumas famílias compravam o produto, ainda que em menor quantidade.

Por isso, segundo Bandeira de Mello, o programa social deve representar a entrada de mais 30 milhões de cargas sobre os 400 milhões anuais, o que justamente vai representar os 7% de aumento da demanda nacional.

Para isso, serão necessários até 10 milhões de novos cilindros, o que representaria um investimento de R$ 2 bilhões para o setor. Dividindo pelos quatro principais players, isso representaria um investimento perto de R$ 500 milhões para cada uma delas.

O Brasil, no entanto, não consegue absorver toda essa produção. Hoje há no mercado nacional seis fabricantes de botijões, incluindo a Nacional Gás, que, juntas, produziram 3,37 milhões de recipientes no ano passado. A capacidade produtiva é de 5,3 milhões.

Por isso, segundo o CFO do Grupo Edson Queiroz, está no horizonte da Nacional Gás a importação de botijões. “Tudo vai depender da aceleração do projeto social. Mas a gente pode importar sim da China. Isso vai ser decidido. Acredito no misto entre produção interna e compra do exterior”, diz Oliveira.

O setor de GLP no País movimenta anualmente cerca de R$ 44 bilhões, sendo R$ 32 bilhões da receita das distribuidoras e R$ 12 bilhões por parte das revendas. Com a previsão de aumento de 7%, a expectativa é que esse faturamento cresça pelo menos R$ 3 bilhões a partir do ano que vem.

Na quinta-feira, 23 de outubro, o Ministério de Minas e Energia deu início ao cadastro dos revendedores que irão aderir ao modelo de vendas via Gás do Povo. E, nas primeiras 48 horas, mais de 1 mil revendas celebraram o acordo, o que significa quase 2% das 59 mil empresas responsáveis pela comercialização do GLP no País, a partir da compra direta das distribuidoras.

O NeoFeed apurou que o rollout (lançamento gradual) do Gás do Povo começa, em novembro, nas capitais São Paulo, Salvador, Fortaleza, Recife, Belém, Belo Horizonte, Goiânia, Teresina, Natal e Porto Alegre.