No primeiro trimestre deste ano, quatro M&As aconteceram no mercado de gestão de investimentos no País, como o da BlueLine Asset Management, que incorporou a Greenbay Investimentos, e o da Asa Investments com a Tower Three, de Ricardo Almeida, ex-CEO da Bradesco Asset Management. No ano passado, o número de negócios entre as gestoras foi de 25 transações.

Em paralelo a esse número de fusões vem um acontecimento mais preocupante: o fechamento das casas independentes. Recentemente, a Macro Capital, gestora criada por Nilson Teixeira e Mauro Bergstein em 2019, decidiu fechar as portas. Eles tinham cerca de R$ 80 milhões sob gestão. Com um montante semelhante, a Âmago Capital, de Iram Siqueira e Rodrigo Barros, também encerrou as atividades.

O NeoFeed apurou que, neste momento, existem de 15 a 20 mandatos de gestoras que estão em busca de um M&A. “Nos últimos 30 dias, tivemos conversas com sete gestoras em busca de sociedade”, diz o CEO de uma companhia com algumas dezenas de bilhões sob gestão que pediu anonimato. “Ou buscam que a gente compre as operações deles ou pedem para que a gente absorva os times.”

O mesmo pode ser visto na AZ Quest, que tem a italiana Azimut e a XP Inc. como sócias. Walter Maciel Neto, o CEO da gestora com R$ 23 bilhões sob gestão, diz que semanalmente uma gestora bate na porta da companhia com proposta de M&A. “Tem mais gestora no Brasil do que empresa listada na bolsa”, diz Maciel Neto. “Não tem dinheiro para todo mundo.”

A comparação com o número de empresas listadas na bolsa é curiosa, mas o que, de fato, surpreende é que no Brasil há mais gestoras do que nos Estados Unidos. São 928 gestoras no País enquanto nos EUA esse número é inferior a 500. Detalhe: enquanto o tamanho da indústria de fundos por aqui é de pouco menos de R$ 8 trilhões, no mercado americano é de quase US$ 35 trilhões. “Isso não tem o menor cabimento”, diz o CEO de uma grande companhia de investimentos.

Alguns fatores explicam o que fez o mercado brasileiro de gestoras ser comparado ao das famosas paleterias mexicanas, que viraram febre e depois fecharam. Primeiro, os grandes bancos praticamente acabaram com suas tesourarias – o que fez muitos talentos decidirem por trilhar carreira solo. Em segundo lugar, um excesso de liquidez no mercado – estava fácil captar. E, por último, uma taxa de juros baixa – era fácil bater o CDI.

“Qualquer um que tinha um nome minimamente conhecido montava uma gestora, captava R$ 1 bilhão e se lançava ao mercado”, diz um conhecido gestor. Mas o cenário mudou. Os investidores ficaram mais receosos, a taxa de juros subiu rapidamente de 2% para 13,75% e, como dizem os mais bem-humorados da Faria Lima parafraseando Warren Buffet, quando disse para não apostarem contra a América, “never bet against CDI”.

Neste primeiro trimestre, os resgates na indústria de fundos chegaram a R$ 82,1 bilhões, com destaque para a redução do patrimônio líquido nas classes multimercados e ações. Nem mesmo grandes gestores estrelados estão passando ilesos da crise que toma conta do setor.

A Verde Asset, de Luis Stuhlberguer, viu o patrimônio sob gestão cair de R$ 50 bilhões para R$ 26,9 bilhões. A Adam Capital, de Márcio Appel, chegou a ter quase R$ 13 bilhões no seu fundo flagship, que agora roda com menos de R$ 200 milhões. Ao todo, a casa está com menos de R$ 3,6 bilhões sob gestão.

“Os fundos de ações estão apanhando há dois anos e os gestores brasileiros não conseguem tirar a Petrobras da carteira”, diz um profissional de mercado. Os gestores que não contam com o apoio de uma boa rede de distribuição também sofrem quando os fundos de fundos chamam o capital.

“Os caras trocam de gestor num estalar de dedos e a gestora perde o patrimônio de uma hora para a outra”, diz Maciel, da AZQuest. Apesar da crise que o setor vem passando, há uma questão que chama a atenção. O número absoluto de gestoras independentes saltou de 688, em 2021, para 816, em 2022, e agora, quem diria, está em 928 assets, de acordo com números da Anbima.

O que explica esse movimento é que muitos escritórios de agentes autônomos, na intenção de ter cada vez mais frentes de negócios e vida independente das plataformas, estão montando suas próprias gestoras. Há também outro fenômeno que faz com que o número permaneça inflado e crescendo.

Nesse universo, algumas casas estão fechadas, mas mantêm seus CNPJs abertos à espera de um comprador ou para servir de fundo exclusivo de um dos sócios. “Estamos neste momento no processo de desmonte e de vender a ‘carcaça’ da gestora, que deve valer R$ 300 mil, R$ 400 mil”, disse o sócio de uma gestora que conversou com o NeoFeed em condição de anonimato.

Segundo ele, o processo de abertura de uma nova casa demora mais de seis meses e tem um custo superior a R$ 500 mil, inclusive com advogados. “Ao comprar uma gestora recém-fechada, é plug and play no dia seguinte”, diz ele. Esse gestor diz ao NeoFeed que a decisão de fechar a sua casa foi longa. Passou por uma avaliação sobre o cenário macro do País e da bolsa de valores, as chances de bater a taxa Selic e as condições de recuperar as perdas acumuladas nos últimos tempos.

O único ponto que ele e seus sócios não admitiam era continuar aportando capital no negócio, como vinha acontecendo nos últimos anos. “Chegou o momento em que insistir era errado e preferimos devolver o dinheiro para os clientes, inclusive do family e friends”, afirmou esse gestor, que negocia a volta ao mercado como funcionário de uma casa de grande porte.

O NeoFeed conversou com vários profissionais ligados à indústria de fundos de investimento e todos foram unânimes em dizer que hoje, no Brasil, uma gestora tem dificuldade de se manter com menos de R$ 1 bilhão de patrimônio líquido. Com menos de R$ 500 milhões, então, esquece.

“Há uma década com R$ 400 milhões era possível manter uma boa estrutura de equipe e remuneração. Hoje essa conta não fecha. Está caro manter um time capaz e que consiga ser remunerado a ponto de permanecer no business”, diz um gestor. “O mercado ficou maior e mais competitivo e, para ter uma estrutura robusta de pesquisa, de análise e operacional, esse breakeven em ativos sob gestão é muito maior”.

Outras contam com uma grande estrutura de suporte por trás. Desde 2020, por exemplo, XP, Itaú, BTG Pactual e Credit Suisse começaram a adquirir participações em gestoras, uma maneira de garantir que esses novos negócios pudessem crescer de formar sustentável e passar essa zona de arrebentação do mercado.

O Rising Stars, do Itaú, apostou na Vinland, ACE, Blueline, Tenax e Falconi Capital. O Ceres, do Credit Suisse, enxergou potencial na Norte, Helius, Aster e Central Capital. A XP foi de Capitânia, Giant Steps, Jive, AZ Quest, Vista e Newave. E o BTG estava em Âmago, Clave, Kawa, Vitreo, Perfin, Canuma, Ryo e Absolute. Algumas assets no mercado sonham em ter um desses grandes grupos batendo em suas portas nesse momento de crise. Mas o tempo, ao que parece, não é propício.