A ação da Nike experimenta uma alta de quase 10% após o fechamento do mercado nos Estados Unidos. Em um ano marcado por fortes cobranças na liderança e um tombo do papel de 15% em junho, quando a companhia anunciou uma revisão do guidance para o ano, a saída do CEO John Donahoe é um alívio para a marca esportiva.
Donahoe estava longe de ser unanimidade na companhia. Ao contrário, desde que assumiu a liderança da Nike em janeiro de 2020, ele viveu poucos momentos de tranquilidade na cadeira. Embora tenha feito um trabalho elogiável durante a pandemia, nos anos seguintes passou a ser criticado pela falta de inovação de produtos e a dependência excessiva de tênis retrô. Donahoe deixará o cargo em 13 de outubro, confirmou a Nike em comunicado.
Em seu lugar assumirá Elliott Hill, um executivo que passou 32 anos na companhia e havia se aposentado em 2020. Hill, que começou como estagiário da Nike em 1988, buscará reviver a cultura da empresa. Ele acumula um conhecimento institucional importante para a nova geração e ocupou vários cargos de gestão regional e global na empresa.
O novo CEO terá de acertar a passada de uma empresa que acumula problemas, com as vendas a caminho de cair para um nível não visto pela Nike em décadas. Em junho, a Nike projetou um declínio percentual de um dígito médio para o ano até maio de 2025. Se essa previsão se confirmar, será o pior desempenho da empresa em 26 anos.
A esperança da Nike é que Hill consiga recuperar a empresa. Nos últimos meses, a Nike vem se movimentando e trazendo seus jogadores veteranos de volta para a companhia. Nicole Hubbard Graham, que deixou a marca em 2021 após 17 anos, retornou como diretora de marketing. E Tom Peddie, que se aposentou em 2020, retornou como vice-presidente para reconstruir relacionamentos com varejistas.
A nomeação de Hill é uma surpresa para analistas e especialistas do setor de vestuário esportivo. Nas últimas semanas, uma bolsa de apostas especulava quem seria o próximo CEO da Nike. O chairman e ex-CEO Mark Parker era um dos cotados como provável substituto. Mas havia outros fortes candidatos como Mary Dillon, CEO da Foot Locker, ou Dave Powers, que acabou de se aposentar da Deckers.
Donahoe estava sob pressão e foi perdendo força à medida que uma onda de saídas de executivos veteranos criaram um buraco cultural e institucional. Além disso, outros cargos de liderança passaram por um período conturbado de trocas e demissões.
Para se defender, Donahoe encontrou o grande “vilão”, em sua visão, para os passos em falso da Nike: o trabalho remoto, um dos legados da pandemia.
“O que falta é o tipo de inovação ousada disruptiva pela qual a Nike é conhecida. E quando olhamos para trás, as razões são bastante simples”, afirmou Donahue, em entrevista concedida à rede americana CNBC, em abril deste ano.
O chairman Mark Parker, que assumiu a presidência do conselho de administração da empresa em 2016, no lugar do fundador Phil Knight, escreveu que Elliott é o nome certo para “liderar o próximo estágio de crescimento da Nike”.
“Dadas as nossas necessidades para o futuro, o desempenho passado do negócio e após conduzir um processo de sucessão cuidadoso, o Conselho concluiu que estava claro que a experiência global de Elliott, o estilo de liderança e o profundo entendimento de nossa indústria e parceiros, combinados com sua paixão pelo esporte, nossas marcas, produtos, consumidores, atletas e funcionários”, escreveu Parker.
Listada na Nyse, a bolsa de valores de Nova York, a ação da Nike acumula queda de 24% no ano. O valor de mercado da companhia é de US$ 121,4 bilhões.