Desde 2023, o segmento de construção e incorporação residencial vive um momento de expectativas mais favoráveis, a partir de componentes como o início do ciclo de queda dos juros e a reformulação do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) pelo governo federal.

Entretanto, nem todos os players listados do setor estão preparados para aproveitar em sua plenitude esse cenário - a princípio, mais otimista. Essa é a visão do J.P. Morgan, cujos analistas colocaram a mão na massa ao divulgarem um relatório com uma série de atualizações nesse segmento.

“Continuamos positivos em relação às construtoras residenciais brasileiras, especialmente no segmento de média e alta renda, em função da sua independência do apoio governamental por meio do programa MCMV e dos ventos favoráveis das taxas de juros mais baixas”, escreveu o banco americano.

Nesse balanço, o J.P. Morgan reiterou a Cyrela como sua top pick, mantendo a recomendação de compra e elevando o preço-alvo da ação, de R$ 30 para R$ 32, ao citar questões como a exposição relativamente maior à média e alta renda e negócios adicionais como a CashMe, de home equity.

As principais mudanças envolvem, porém, outros dois nomes. A MRV teve sua recomendação rebaixada, de compra para neutra, e o preço-alvo da ação foi reduzido de R$ 16 para R$ 9. Em contrapartida, o banco elevou a recomendação da Tenda, de neutro para compra, mas reduziu seu preço-alvo de R$ 17 para R$ 16.

Na MRV, entre outros elementos, a atualização reflete uma redução na projeção do lucro líquido em 2024 e 2025 de 40% e 50%, respectivamente, em função das despesas financeiras acima do esperado e da menor contribuição no curto prazo da Resia, operação de multifamily do grupo nos Estados Unidos.

“Não há muita visibilidade na recuperação do resultado da Resia devido ao ambiente de taxas de juros nos EUA, o que deve continuar a ser um obstáculo para a empresa”, destaca um dos trechos do relatório.

O banco americano alerta ainda que as revisões no papel estão relacionadas aos riscos de uma recuperação mais lenta na margem bruta do segmento MCMV, em consequência de descontos concedidos e do impacto acima do esperado da inflação.

“Adicionalmente, acreditamos que a MRV precisa manter um alto nível de securitização no curto prazo para gerar um fluxo de caixa livre positivo”, escrevem os analistas. Eles observam, porém, que boa parte das notícias negativas envolvendo a empresa já estão precificadas no desempenho da ação no ano.

Os papéis da MRV estavam sendo negociados com queda de 1,6% na B3 por volta das 16h15, cotados a R$ 7,38, dando à empresa um valor de mercado de R$ 4,2 bilhões. No ano, as ações registram um recuo de 33,3%.

No mesmo horário, as ações da Tenda, por sua vez, subiam 5,82%, para R$ 14. Em 2024, os papéis da companhia, avaliada em R$ 1,7 bilhão, acumulam uma desvalorização de 5,9%.

No caso da empresa, o J.P. Morgan pontua, entre outros componentes, que as atualizações se baseiam na recuperação contínua da empresa, no recente desempenho inferior das ações e na crença de que a Tenda será o player que mais se beneficiará de dois movimentos recentes ligados ao MCMV.

O primeiro é o RET 1, que reduz de 4% para 1% a alíquota de imposto cobrada de imóveis da faixa 1 do programa federal. O segundo é o FGTS Futuro, que permite que trabalhadores com carteira assinada e que recebem até dois salários mínimos usem depósitos futuros do FGTS para comprar seus imóveis.

“Além disso, esperamos ver melhores resultados da Alea, sua subsidiária de casas pré-fabricadas, nos próximos anos, ajudando a reduzir o risco das ações da Tenda”, destacam os analistas do banco americano.

Em seu “pacote” de análises sobre o setor, o J.P. Morgan reservou espaço ainda para elevar os preços-alvo das ações da Direcional e da Cury, de R$ 29 para R$ 32 e de R$ 23, para 26, respectivamente, mantendo as recomendações de compra para os dois papéis.

Ao mesmo tempo, os analistas reduziram o preço-alvo da Eztec, de R$ 24 para R$ 18, e mantiveram a recomendação neutra para a ação.