Segundo maior banco privado do País, o Bradesco acendeu definitivamente o alerta para os resultados dos grandes players do setor no terceiro trimestre.
Depois de o Santander inaugurar essa temporada com uma queda de 28% em seu lucro, para R$ 3,1 bilhões, um recuo acima das projeções de analistas, o Bradesco refletiu, enfim, em seus números, um impacto mais significativo de fatores como as taxas de juros elevadas.
No saldo dessa equação, o Bradesco apurou um lucro líquido recorrente de R$ 5,2 bilhões entre julho e setembro, queda de 22,8% sobre igual período, em 2021, e de 25,8% em relação ao segundo trimestre de 2022. A cifra também ficou bem abaixo do patamar de R$ 6,7 bilhões projetado por analistas.
“Esse terceiro trimestre foi quase uma tempestade perfeita”, afirmou Octavio de Lazari Jr., presidente do Bradesco, em conversa com jornalistas na manhã desta quarta-feira, 9 de novembro. Assim como o mercado, ele se mostrou surpreso com a aceleração dos efeitos do cenário macroeconômico no período.
“Tivemos uma margem com mercado deteriorada por conta do crescimento acelerado da taxa de juros”, disse o executivo. “E três meses de deflação que afetaram também os nossos resultados financeiros.”
No período, a margem com mercado ficou negativa em R$ 1,24 bilhão, contra um saldo positivo de R$ 1,64 bilhão no mesmo intervalo, há um ano. Entre abril e junho de 2022, o Bradesco já havia reportado uma perda de R$ 587 milhões no indicador.
“Com o tempo, a margem com o mercado volta, especialmente sob a expectativa de redução da taxa de juros”, disse Lazari. “E mesmo que isso não aconteça, com o giro da carteira, a partir do segundo semestre de 2023, vemos um cenário de melhora.”
Em um dos reflexos desse contexto, o banco anunciou uma revisão para cima em seu guidance para as despesas com provisões para devedores duvidosos (PDD) no ano. A nova projeção aponta para uma faixa de R$ 25,5 bilhões a R$ 27,5 bilhões, contra a estimativa anterior entre R$ 17 bilhões e R$ 21 bilhões.
“Já estamos vendo uma melhora da inadimplência nas safras recentes e projetamos que esses índices devem se estabilizar ao longo de 2023”, observou o executivo. “O nosso lucro deve seguir pressionado por alguns trimestres e isso deve mudar a partir da segunda metade do ano que vem.”
No trimestre, a carteira de crédito expandida chegou ao patamar de R$ 878,6 bilhões, alta anual de 13,6%. Em pessoa física, o volume foi de R$ 352,7 bilhões, um crescimento de 16,2%. Em pessoa jurídica, o avanço foi de 11,9%, para R$ 525,9 bilhões.
A inadimplência de pessoas físicas foi de 5,1%. O índice ficou em 3,6%, há um ano, e em 5,1%, no trimestre anterior. No segmento de micro, pequenas e médias empresas, o patamar entre julho e setembro avançou para 4,5%, contra 2,7%, há um ano, e 3,9%, entre abril e julho desse ano.
Na esteira desses aumentos dos níveis na oferta de crédito, as despesas com provisões para devedores duvidosos (PDD) cresceram 116,4% na comparação anual, para R$ 7,2 bilhões, e 36,8% sobre o segundo trimestre de 2022.
“Estamos mais restritivos na oferta de crédito para os clientes de baixa renda, em que houve maior deterioração”, disse Lazari. “A inadimplência nesse segmento tem nome e sobrenome. Está em cartões de crédito e em crédito pessoal.”
Ao citar que o menor apetite ao risco está nessas modalidades, ele destacou que, no período pré-pandemia, o índice de aprovação para a concessão de crédito nessas linhas, para clientes de baixa renda, era de cerca de 68%.
No segundo trimestre de 2022, ele recuou para 58% e, atualmente, está na faixa de 48%. “É onde vemos maior sensibilidade à inadimplência. Por isso, decidimos travar para não termos mais surpresas.”
Ao frisar que os impactos também vêm sendo observados entre as micro e pequenas empresas, ele fez um contraponto ao ressaltar que enxerga um crescimento nas operações realizadas com as companhias de médio e grande porte, especialmente em linhas de investimento, com prazos mais longos.
Em outros indicadores do trimestre, a receita de prestação de serviços foi de R$ 8,9 bilhões, 1,1% superior na comparação anual. As despesas operacionais avançaram 4,5%, para R$ 12,4 bilhões. A margem financeira total cresceu 3,7%, para R$ 16,2 bilhões, enquanto a margem com clientes teve um salto de 24,7%, para R$ 17,5 bilhões.
O banco fechou o período com ativos totais de R$ 1,89 trilhão, alta anual de 13,6%, e um patrimônio líquido de R$ 156,9 bilhões, o que representou um crescimento de 6,3% sobre o intervalo de julho a setembro de 2021. Já o retorno sobre patrimônio líquido foi de 13%, queda de 5,6 pontos percentuais.
Por volta das 10h40, as ações do Bradesco recuavam 9,63% no pregão da B3, cotadas a R$ 16,79. No ano, os papéis acumulam uma desvalorização de 3,8%. O banco está avaliado em R$ 165,5 bilhões.