Durante anos, a Amazon ficou conhecida por sua capacidade de diversificar seu negócio. As iniciativas vão desde a abertura de lojas físicas até a entrada em internet via satélite. Nos últimos anos, contudo, um número crescente de investidores começou a criticar essa horizontalização.
De acordo com o The Information, investidores estão em dúvida se as apostas da Amazon em outros mercados que não o comércio eletrônico estão realmente valendo a pena. As reclamações começaram há pelo menos cinco anos e incidem principalmente sobre uma falta de transparência da companhia nessas frentes.
Em suma, os acionistas querem saber como está o desempenho de cada mercado em que a Amazon está inserida. Em seus balanços trimestrais, a empresa criada por Jeff Bezos não revela detalhes dessas operações – como quantos funcionários estão alocados em cada área ou dados financeiros relacionados.
Uma das questões nesse sentido envolve o Prime. A Amazon não costuma divulgar muitos dados de seu serviço de assinatura. O que se sabe é que, em abril de 2021, em sua última carta como CEO, Bezos afirmou que o serviço contava com mais de 200 milhões de assinantes no mundo, evidenciando um crescimento ante os 150 milhões de janeiro do ano anterior.
“Como qualquer investidor, quero o máximo de transparência possível. Historicamente, esse tem sido um problema com a Amazon”, disse Tim Ghriskey, estrategista sênior de portfólio da empresa de investimentos Ingalls & Snyder, ao The Information. A Amazon representa quase 8% da carteira de ações da gestora.
Ghriskey não é o único a reclamar. Em junho, Mark Shmulik e Luiza Nobre, da empresa de pesquisas Bernstein, publicaram uma carta em que pediam que Andy Jassy, o CEO da Amazon, e o conselho da companhia reavaliassem as despesas no projeto de internet via satélite.
Jassy vem sendo cada vez mais pressionado também por conta da venda gradual de ações de Jeff Bezos. De acordo com o The Information, o fundador da empresa, que tinha 12% das ações, vem reduzindo sua participação nos últimos meses. Com isso, há uma maior diversificação no corpo de acionistas.
Para mudar esse cenário, Jassy vem se esforçando para melhorar sua relação com os investidores. No ano passado, a companhia informou ao mercado que se reuniu com alguns de seus principais investidores para debater planos da empresa em relação à remuneração dos executivos.
Jason Benowitz, gerente sênior de portfólio da CI Roosevelt, disse que, logo depois que Jassy assumiu o cargo de CEO em 2021, a CI Roosevelt vendeu uma posição que ocupava desde 2015. Os motivos para isso incluem os gastos com o projeto de satélites e a construção excessiva de armazéns durante a pandemia.
Em 2020, a Amazon informou que planejava desembolsar mais de US$ 10 bilhões na iniciativa chamada de Projeto Kuiper. Uma parte do montante de US$ 120 milhões seria para a instalação de uma produção dos satélites, que seriam lançados futuramente, na Flórida.
A justificativa para alto gasto no projeto foi apresentada por Jassy na forma de uma comparação com a Amazon Web Services (AWS), a unidade de computação em nuvem da companhia que representou 15% da receita total da empresa em 2022, que somou US$ 514 bilhões.
Segundo Jassy, o novo negócio exige muito capital inicial, mas já tem uma grande base de clientes em potencial e há poucas empresas com capacidade de fazer algo semelhante, o que diminui a concorrência. Uma delas é a SpaceX, de Elon Musk, que tem o serviço Starlink.
Ainda assim, o mercado tem sido positivo para a Amazon nos últimos meses. Desde o começo do ano, as ações da companhia subiram mais de 50%, fazendo com que a companhia atingisse valor de mercado de US$ 1,32 trilhão.