Em meio a um cenário desafiador para o varejo de roupas, a Lojas Renner começa a ver uma melhora no volume de vendas, graças à aposta que está fazendo em peças e produtos com tíquetes mais baixos para puxar as vendas.
Depois de ver uma retomada de vendas no terceiro trimestre, a expectativa é de que a estratégia seja um dos fatores para alavancar os resultados nos últimos três meses do ano, período mais dinâmico para o varejo, com datas como Black Friday e o Natal.
Esse movimento da Renner acontece em um momento em que ela vem sentindo a intensificação da competição de plataformas chinesas, especialmente a Shein. A aposta em produtos mais baratos é vista pelo mercado como uma forma de conseguir enfrentar a gigante chinesa.
“O consumidor está buscando hoje itens mais acessíveis, opções mais acessíveis, econômicas”, diz Daniel Santos, CFO da Renner, ao NeoFeed. “Trouxemos mais opções de preço de entrada para o consumidor, para poder ajudar o consumidor nesse momento mais difícil.”
A estratégia vem produzindo os primeiros resultados. As vendas “mesmas lojas”, que consideram as vendas feitas em unidades em funcionamento há mais de 12 meses, apresentaram um crescimento de 0,6%, em base anual, depois de recuarem 6,8% no segundo trimestre.
O resultado poderia ter sido melhor não fosse os efeitos da situação econômica da Argentina. Considerando apenas as operações da Renner no Brasil, o crescimento foi de 1,5%.
Segundo Santos, os dados mais recentes mostram uma tendência positiva em termos de crescimento das vendas. “Agosto foi um mês muito difícil para o varejo, mas quando se vê setembro e outubro, que já fechamos, eles mostram uma volumetria positiva”, afirma.
O CFO da Renner destaca que a aposta em itens mais acessíveis não tem ferido a margem bruta da companhia. No terceiro trimestre, a margem bruta atingiu 53,6%, ante os 53,8% de 2022. “Seguimos confiante com o quarto trimestre, sabemos que é um ambiente difícil, mas o varejo se resolve no quarto trimestre nos últimos 45 dias”, diz Santos.
Ao mesmo tempo em que aposta em itens mais baratos para avançar nas vendas, a Renner se apoia também nos ajustes operacionais que vem promovendo. Um deles é a adequação feita nos estoques.
A intensificação das promoções durante o segundo trimestre foi importante para ajustar os estoques nas lojas e favorecer a transição para a coleção primavera-verão, de acordo com Santos. Ele diz ainda que muitas lojas ainda estão para confirmar pedidos para o fim do ano, permitindo ter estoques mais assertivos, com aquilo que o consumidor deseja.
Santos destacou ainda que a melhor gestão do capital de giro, bem como da maior reatividade para ajustar os estoques, ajudou a fazer com que a geração de caixa no terceiro trimestre fosse recorde, somando R$ 600 milhões. “Os indicadores operacionais e de gestão indicam que a companhia vem conseguindo equilibrar a gestão financeira de forma bem eficiente”, afirma Santos.
A expectativa é de que a dinâmica de fim de ano, mais os ajustes operacionais, ajudem nos resultados financeiros. A receita líquida do varejo cresceu apenas 0,8% em base anual, para R$ 2,6 bilhões. Além dos efeitos macroeconômicos, a Renner foi afetada pela base de comparação muito robusta de 2022, quando cresceu acima de seus pares.
No caso do lucro líquido, que recuou 33%, para R$ 173 milhões, Santos destacou que uma série de itens não recorrentes também afetaram a base de comparação. Entre eles estão a venda da carteira da Realize, por R$ 24 milhões, e créditos tributários. “Esses dois efeitos, no ano passado, representaram quase R$ 50 milhões”, disse.
Neste ano, a Renner também teve que lidar com os custos relacionados ao novo centro de distribuição de Cabreúva, além dos efeitos do problema da Argentina. O Ebitda total ajustado caiu 21,1%, para R$ 362,6 milhões. “Operacionalmente, a companhia conseguiu manter as operações estáveis”, diz Santos.
Um ponto de atenção é o braço financeiro. Afetado pelo aumento dos juros e da inadimplência do consumidor, a Realize fechou o terceiro trimestre com um resultado negativo de R$ 35 milhões, revertendo o lucro de R$ 19 milhões do mesmo período do ano passado.
As perdas em créditos, líquidas das recuperações, subiram 39,1%, para R$ 329,5 milhões. Assim como no varejo, a Realize começou a apresentar resultados positivos entre setembro e outubro, segundo Santos.
Ele destacou ainda que, no trimestre, houve melhora na formação de saldo acima de 90 dias nominal (NPL 90 formation), que ficou 20,9% e 5,9% menor comparado com o segundo trimestre e o terceiro trimestre de 2022, respectivamente.
“Esperamos ter evoluções positivas sequencialmente, mas 2024 será um ano de transição, não vai ser como 2019, antes da pandemia”, diz Santos. “Vamos ter uma evolução sequencial, com o consumidor acessando o Desenrola, a renda real melhorando, a inflação caindo.”
Por volta das 11h16, as ações da Renner subiam 0,44%, a R$ 13,61. No ano, elas acumulam queda de 33,5%, levando o valor de mercado a R$ 12,9 bilhões.