A americana Rent the Runway, uma loja online que cobra uma assinatura para que mulheres tenham roupas de segunda mão à disposição, estreou em Nasdaq nesta quarta-feira, dia 27 de outubro, e logo no primeiro dia já sentiu na pele o quão deslizante pode ser a "passarela" dos investidores do mercado de ações.

A companhia, que levantou US$ 357 milhões no IPO e foi avaliada em US$ 1,5 bilhão, abriu o pregão em alta de 10%, chegando à casa dos US$ 23, mas perdeu fôlego ao longo do dia e fechou em queda de 8%, a US$ 19,29.

Ainda assim, a cotação do papel segue dentro do intervalo esperado para o IPO, de algo entre US$ 18 e US$ 21. Na abertura do pregão, a ação começou negociada no topo da faixa, a US$ 21.

Fundada em 2009 por Jennifer Hyman e Jennifer Carter Fleiss, a Rent the Runway começou como um negócio de aluguel de roupas femininas para ocasiões especiais, como vestidos para casamentos.

Não demorou, porém, para que a companhia também incluísse roupas mais casuais, como as que são usadas no trabalho, jóias e bolsas, em um plano de assinatura, para que os consumidores tivessem as peças à disposição para pegar e devolver.

Transformou-se, como a própria empresa gosta de dizer, em um “armário na nuvem”. Ou, então, na Netflix ou no Airbnb das roupas.

No processo do IPO, a empresa citou estudos que dizem que 33% mulheres entendem que uma roupa ficou “velha” depois de usá-la menos de três vezes e que “uma em cada sete mulheres considera uma gafe da moda ser fotografada duas vezes com uma roupa”.

Com a explosão das redes sociais, tornou-se conveniente para as consumidoras poder usar uma variedade maior de roupas de marcas e ser fotografada com um “look” diferente para cada ocasião.

A companhia também ressaltou que existe uma tendência no consumo que deixa para trás a necessidade de o consumidor ser dono de algo, para privilegiar a possibilidade de ter acesso a algo. Assim, é possível atingir clientes que querem usar marcas de luxo e competir, no preço, com as lojas de “fast fashion”, como a Zara.

O negócio procurou se sustentar em uma tese que envolvia também a sustentabilidade das roupas de segunda mão e a propensão que as mulheres têm a gastar mais em roupas para o trabalho do que os homens.

Na pandemia, porém, a companhia enfrentou tempos difíceis, com a ausência de grandes eventos e com o home office. A marca precisou fechar as lojas físicas e reformulou os planos de assinatura, encerrando a opção de escolhas ilimitadas. Também decidiu entrar no mercado de revenda, permitindo aos consumidores fazer compras sem assinatura.

“É um funil incrível de novos clientes para a assinatura”, afirma Hyman, a CEO, sobre a opção de revenda, à CNBC. “E as mulheres não precisam voltar ao escritório para voltar para a Rent the Runway”.

Antes da crise, contudo, a empresa já operava no prejuízo. Em 2019, anotou perdas de US$ 154 milhões. Em 2020, o rombo aumentou para US$ 171 milhões.

Com a abertura de capital, a Rent the Runway se juntou a outras empresas de capital aberto que também oferecem roupas de segunda mão e acessórios, como Poshmark, The RealReal e ThredUp.

No Brasil, essa é uma tendência que começa a ganhar corpo. A Reserva, comprada pela Arezzo&Co, lançou um plano de assinaturas para suas camisetas neste ano.

A própria Arezzo&Co comprou a Troc, startup que atua no segmento de economia circular, vendendo roupas premium usadas, em novembro do ano passado.

A pequena Repassa, um brechó online que revende peças de vestuário, calçados e acessórios usados, foi comprada pelas Lojas Renner, em julho deste ano.

O mercado de roupas de segunda mão já atinge R$ 7 bilhões no Brasil, segundo as estimativas da Renner. E ele deve chegar a R$ 31 bilhões em 2025.