Expressa na sigla ESG, a governança ambiental, social e corporativa vem se consolidando entre os princípios que cada vez mais vão guiar os hábitos de consumo, os investimentos e, por consequência, as estratégias das empresas.
Uma pesquisa realizada pelo banco suíço UBS buscou entender qual é a influência desses conceitos no comportamento dos consumidores. E, a partir do estudo, que contou com a participação de 5 mil pessoas no Brasil, Estados Unidos, Reino Unidos, França e China, elegeu as companhias globais de alimentos, higiene pessoal, perfumaria e cosméticos mais bem preparadas nesse contexto.
“Preferimos ações com maior margem bruta, forte capacidade de P&D e mais flexibilidade de resultados, o que deve permitir mais investimentos em sustentabilidade e, ao mesmo tempo, em expansão adicional de margem”, escreveram os analistas do UBS.
“Entendemos que a Nestlé e a L’Oréal estão mais bem posicionadas”, ressaltaram. “E, embora reconheçamos os esforços feitos pela Danone e a Unilever, vemos riscos para as suas progressões de margem e crescimento daqui para frente.”
Em relação a Nestlé, o banco destaca que, dada a escala de suas operações e capacidades de pesquisa e desenvolvimento, a gigante suíça é, provavelmente, a empresa que possui a agenda de sustentabilidade mais abrangente entre as companhias cobertas pelo UBS.
Os analistas ressaltam uma série de compromissos na agenda da companhia, além de diversos outros projetos já em curso, como o uso de satélites para garantir que as matérias-primas compradas pela empresa não estão ligadas a áreas de desmatamento e o investimento em embalagens mais ecológicas.
“A empresa deixou claro para o mercado que suas margens operacionais serão expandidas moderadamente daqui para frente, à medida que o grupo amplia seus investimentos em sustentabilidade e no digital”, afirmaram os analistas no relatório, em uma referência às sinalizações feitas pela Nestlé em sua Assembleia Geral Anual, realizada em dezembro.
Quanto a L’Oréal, figuram como destaques na análise a baixa pegada de carbono e pequena exposição da empresa a embalagens de plástico, na comparação com seus pares. “Não vemos os investimentos em ESG com um grande risco para o crescimento do lucro do grupo”, observaram os analistas.
No caso da Unilever, o relatório frisa que os investimentos da companhia em ESG, expressos como uma porcentagem do faturamento do grupo, representam apenas uma fração do que empresas como Nestlé e Danone têm destinado a essa frente.
“Nesse sentido, a Unilever pode precisar ampliar ou adiantar esse plano de investimento, o que pode resultar em um impacto negativo sobre a progressão da margem operacional do grupo”, pontuaram os analistas.
Apesar dessa visão, o relatório salientou algumas iniciativas da companhia, como os compromissos de remover os combustíveis fósseis de seus produtos de limpeza, até 2030, e de destinar € 1 bilhão nos próximos dez anos como parte do seu Fundo para Clima e a Natureza.
O UBS também destacou iniciativas da Danone na área. Entre elas, o compromisso de destinar € 2 bilhões, entre 2020 e 2022, a frentes como tecnologia e potenciais cancelamentos de linhas que a empresa terá de alterar, por conta dos preceitos de sustentabilidade.
“Embora a empresa tenha indicado o plano de financiar essas iniciativas com programas de eficiência e economia, nós tememos que o poder limitado de preços do grupo (em laticínios e águas tradicionais) e a necessidade de investimentos mais elevados em marcas irá alimentar um desenvolvimento de margem silencioso”, observaram os analistas, no relatório.
Custos de migração
As análises realizadas no relatório estão diretamente ligadas à necessidade de as empresas incorporarem o ESG e os desafios embutidos nessa jornada. O que, em muitos casos, demandará um financiamento por meio da redução de custos estruturais ou à custa da expansão de margens.
“Nós entendemos que o mercado pode estar subestimando o custo de implementação de iniciativas de sustentabilidade, o que poderia ter um impacto profundo na entrega de margem futura”, destaca o relatório.
Alguns outros componentes do estudo, extraídos das respostas dos participantes, deixam claro esse desafio. Globalmente, 68% dos entrevistados entendem que as próprias empresas devem arcar com os custos da sustentabilidade.
No Brasil, esse índice foi de 73%. Outros 24% dos brasileiros acreditam que essa conta precisa ser dividida entre companhias e consumidores, enquanto 3% apontam os consumidores como responsáveis pela “fatura”.
Ao mesmo tempo, os consumidores disseram estar dispostos a pagar um valor, em média, até 9% acima do preço atual dos produtos caso esses itens incorporem princípios de sustentabilidade.
No Brasil esse índice foi de 11%, o que colocou o País atrás apenas dos Estados Unidos, com 13%. No geral, 80% dos entrevistados afirmaram estar dispostos a pagar a mais por um produto sustentável.
Na pesquisa, 40% dos participantes afirmaram ainda que parariam de consumir os produtos de uma marca que não atendesse os padrões de sustentabilidade.
Apesar de ocupar a sexta posição global entre os fatores que influenciariam a decisão de compra, o índice ficou acima, por exemplo, das opiniões negativas de outros consumidores, citadas por 33% dos entrevistados. No topo do ranking estão a qualidade (76%) e o preço do produto (71%). A relação mostra ainda componentes diretamente ligados ao ESG, como a responsabilidade social (27%).
Com 49%, o Brasil foi o país no qual a sustentabilidade como fator essencial na decisão de compra teve maior destaque no levantamento. A França veio na sequência, com 44%, enquanto os Estados Unidos, com 29%, registraram a classificação mais baixa nesse quesito.