No fim de março deste ano, o governador da Flórida, Ron DeSantis, sancionou o polêmico projeto de lei HB1557, que ficou mais conhecido como Don’t Say Gay (Não Diga Gay, na tradução). A proposta em questão impede que escolas e professores reconheçam a existência de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transsexuais e afins.

A Walt Disney acabou envolvida nessa trama pelo fato de ter feito doações para campanhas políticas de alguns dos apoiadores do projeto. Com isso, a companhia passou a encarar uma série de protestos internos para se posicionar contra a medida. Contudo, ao seguir por esse caminho, a empresa comprou uma briga com o governador da Flórida.

Nesta quarta-feira, 26 de abril, essa novela ganhou dois novos episódios. No início da tarde, um novo conselho nomeado por DeSantis para supervisionar o distrito que cobre os parques temáticos da Disney declarou nulos os acordos que a empresa fechou em fevereiro. Horas depois, a companhia entrou com um processo contra o político republicano.

A decisão capitaneada por DeSantis reverteu um acordo firmado em fevereiro para a renovação do controle da Disney sobre Reedy Creek, distrito onde está localizado o Walt Disney World Resort. A medida pode atrapalhar os planos de expansão do grupo na região, que passam por um resort de 103 mil metros quadrados.

Na década de 1960, a Disney firmou um acordo, considerado incomum, com o governo da Flórida que garantiu que a empresa se tornasse “dona” do distrito. Com isso, a companhia pôde expandir seu parque e resort sem precisar estar de acordo com leis municipais e estaduais de zoneamento, infraestrutura, uso de água e drenagem.

No processo aberto hoje no tribunal federal de Tallahassee, a Disney acusa DeSantis (que é visto como um possível candidato à corrida presidencial americana) e seu conselho de violarem uma série de direitos constitucionais federais, o que inclui medidas que protegem contratos comerciais. Outra alegação envolve o desrespeito ao direito de expressão da empresa.

“Essa ação do governo foi claramente retaliatória, contra os negócios e inconstitucional”, diz a queixa que pede que as ações do conselho sejam consideradas ilegais e inexequíveis – o que faria valer o rigor de seus contratos. “Mas o governador e seus aliados deixaram claro que não se importam e não vão parar.”

Em resposta, Taryn Fenske, porta-voz de DeSantis, afirmou que não tem conhecimento “de qualquer direito legal que uma empresa tenha de operar seu próprio governo ou manter privilégios especiais não detidos por outras empresas no estado". A porta-voz também afirmou que o processo da Disney é “um exemplo infeliz de sua esperança de minar a vontade dos eleitores da Flórida e operar fora dos limites da lei".

As ações da Disney fecharam em queda de 1,43% nesta quarta-feira e a companhia está avaliada em US$ 176,4 bilhões.