Não existe ninguém que esteja tão incomodado com a crise da WeWork como o Softbank. Principal investidor do negócio, a gestora do grupo comandado por Masayoshi Son viu seu prejuízo com a operação de rede de escritórios compartilhados aumentar nos últimos dias.
Nesta semana, a WeWork fez um pedido de recuperação judicial de seu negócio ao recorrer ao Chapter 11 da Justiça dos Estados Unidos ao alegar dívidas de mais de US$ 18,6 bilhões. Poucos dias antes disso acontecer, o Softbank foi obrigado a transferir mais de US$ 1,5 bilhão para credores da empresa de coworking.
O pagamento, que foi feito para o Goldman Sachs e para outros credores no dia 31 de outubro, estava vinculado a uma “carta de crédito” assinada por Softbank e WeWork ainda em dezembro de 2019. O valor elevou o investimento do grupo japonês no negócio para mais de US$ 16 bilhões, segundo o Financial Times.
Quando assinou a carta, o Softbank acreditava que aquela era a melhor opção para manter seu investimento de capital intacto em uma época que a WeWork lidava com a saída do fundador Adam Neumann do negócio. Naquele momento, a companhia havia investido mais de US$ 9 bilhões no negócio.
A carta de crédito serve mais como uma garantia do que como um empréstimo propriamente dito, uma vez que o dinheiro pode não ser repassado imediatamente. Na época, a WeWork usou este instrumento para garantir aos acionistas que manteria a empresa funcionando mesmo após não conseguir captar os US$ 6 bilhões pretendidos com sua oferta inicial de ações.
Além da “garantia” de que poderia injetar mais US$ 1,5 bilhão na operação, o Softbank também desembolsou outros US$ 3,7 bilhões no negócio na mesma época. A operação mesclou equity e dívida – que posteriormente também foi convertida em equity.
Crise da WeWork
O Softbank é acionista da WeWork desde 2017 e viu a empresa chegar a ser avaliada em mais de US$ 47 bilhões, antes do valor de mercado derreter por conta de problemas de governança que foram expostos com um pedido de IPO fracassado em 2019. Atualmente, a companhia está avaliada em US$ 44 milhões.
A expectativa do Softbank para recuperar pelo menos um quinhão de seu investimento está na conversão de parte de sua dívida existente em ações da empresa. De acordo com David Tolley, CEO da WeWork, mais de 90% dos credores da empresa já concordaram em converter as dívidas em ações, o que eliminou mais de US$ 3 bilhões em débitos da operação.
Caso o negócio se recupere e os papéis voltem a subir, a estratégia dará resultado. O problema neste plano é que o futuro da WeWork é cada vez mais incerto.
Em agosto, a companhia informou que tinha “dúvidas substanciais” em relação à sua capacidade de continuar operando. Na época, a empresa disse que os próximos 12 meses trariam uma resposta se a operação poderia sobreviver. Para isso, precisará reduzir custos.
No pedido de recuperação judicial, a companhia diz que pretende cancelar contratos de aluguel em determinados locais “que são em grande parte não operacionais”. A companhia tem atualmente 650 mil assinaturas ativas em 777 escritórios de 38 países. A taxa de ocupação é de 72%.
Nos resultados do segundo trimestre deste ano, a WeWork reportou prejuízo de US$ 397 milhões – queda em relação às perdas de US$ 635 milhões registradas um ano antes. A receita, por sua vez, aumentou de US$ 815 milhões para US$ 844 milhões no mesmo período.