No ano em que comemora dez anos de sua fundação, o Nubank entende que seu modelo de banco digital está finalmente consolidado, ao apresentar mais um trimestre de lucro e um retorno sobre patrimônio líquido (ROE) anualizado acima de 30%.

O banco fechou os primeiros três meses de 2023 com um lucro recorrente de US$ 141,8 milhões, revertendo o prejuízo de US$ 45,1 milhões do primeiro trimestre de 2022. A receita somou US$ 1,6 bilhão, quase o dobro do que a empresa registrou no primeiro trimestre de 2022, em base neutra de câmbio.

“Continuamos mostrando ao mercado que a gente tem atingido uma mistura muito única de crescimento de receita acima de 100% ao ano com um dos maiores retornos sobre capital do sistema financeiro brasileiro”, diz David Vélez, cofundador e CEO do Nubank, ao NeoFeed.

Vendo sua tese consolidada no mercado, o banco digital pretende focar seus esforços em três frentes: crescer a oferta de consignado, aumentar a fatia de clientes de alta renda e expandir sua atuação no exterior.

No caso do consignado, o Nubank anunciou em março a ampliação dos testes dos empréstimos, com Vélez afirmando que os primeiros resultados são positivos. O produto está sendo oferecido a uma parcela de clientes servidores públicos e o plano é expandir a oferta ao longo do ano.

O segundo ponto da estratégia é expandir a presença em público de alta renda, algo que outros nomes do setor financeiro também estão buscando, como é o caso da XP. “Temos uma grande porcentagem dessa fatia da alta renda brasileira, mas não somos a conta principal”, diz Vélez.

A expansão internacional também é outro ponto de atenção para o Nubank. Mas Vélez afirma que ainda é preciso lidar com aspectos regulatórios. No México, a base de clientes cresceu 52%, para 3,2 milhões e, na Colômbia, para 635 mil clientes, o que representa um aumento de 200% em base anual.

Para o Nubank, a trajetória de crescimento em ambos os países deve se acelerar com o lançamento da conta nos mercados locais. No México, a Cuenta Nu atingiu 500 mil clientes em menos de uma semana após seu lançamento oficial.

Desempenho do Nubank

Em relação aos resultados do primeiro trimestre, Vélez destacou que o desempenho foi ajudado pelo aumento da base de clientes. O Nubank adicionou 4,5 milhões de clientes no primeiro trimestre e 19,5 milhões no ano, atingindo um total de 79,1 milhões de clientes globalmente. Isso representa um crescimento de 33%. No Brasil, a base de clientes somou 75,3 milhões, crescimento de 31% em relação ao ano anterior.

E esses clientes, segundo ele, estão consumindo mais produtos. A receita média mensal por cliente ativo (Arpac, na sigla em inglês) aumentou para US$ 8,6, crescendo em 30% em relação ao ano anterior em base neutra de câmbio.

“Continuamos aumentando o crescimento de cartão de crédito neste trimestre e de empréstimos pessoal”, afirma Vélez. “Chegamos a desacelerar um pouco o crescimento de empréstimo pessoal no ano passado, mas voltamos a acelerar no quarto trimestre e no primeiro trimestre acelerou ainda mais.”

Ele afirmou que o Nubank está se sentindo confortável em um momento desafiador da economia, porque está conseguindo escolher melhor os clientes, para avançar em crédito. A escolha por não ir a “mar aberto” para conceder crédito e outros produtos serve também para tentar controlar a inadimplência.

O índice de inadimplência de 15 a 90 dias do Nu alcançou 4,4%, um aumento em relação aos 3,7% registrados no quarto trimestre. Mas a empresa destacou que ele permaneceu 10 pontos-base abaixo da tendência histórica. O índice acima de 90 dias aumentou de 5,2% para 5,5%.

“Todo o nosso crédito é feito em mar fechado, a gente não está indo fora dos nossos clientes para dar empréstimos, é 100% para os clientes que têm conta digital no Nubank, recebe salários no Nubank, está fazendo investimentos, comprando seguros”, afirma o CEO do Nubank.

Para Guilherme Lago, CFO do Nubank, o aumento da inadimplência no primeiro trimestre era esperado, por uma questão de sazonalidade. Daqui para frente, ele vê dois movimentos que vão afetar a inadimplência no Brasil. Por um lado, o aumento do crédito pessoal, que tem uma inadimplência maior. Por outro, tem a expansão do consignado, cuja inadimplência é mais baixa.

“A combinação dessas duas coisas vai depender muito do volume de mix que vamos conseguir fazer de crédito pessoal e de consignado, mas a gente não espera uma alteração material dos indicadores que temos de inadimplência no Brasil por produto”, diz o CFO.

ROE do Nubank

O ROE anualizado no Brasil voltou a ficar em patamares maiores do que a média da indústria, alcançando 37%, acima dos 35% do trimestre passado. O resultado do quarto trimestre chegou a ser criticado por analistas do Santander, que disseram que o banco superestimou a rentabilidade das operações brasileiras. Um dos fatores foi o fato de o banco alocar apenas um terço de seu capital na operação brasileira.

Segundo Vélez, muito do capital na holding está sendo direcionado para o funding das operações na Colômbia e no México, para escalar as operações, enquanto as atividades no Brasil estão bem capitalizadas.

Ele destaca que o índice de Basileia atingiu 18,7%, acima do mínimo requerido de 10,5%, e trazer os recursos da holding para o Brasil elevaria a Basileia para 36%, algo desnecessário e um nível não visto nos outros bancos. E se trouxesse esse valor excedente, de cerca de US$ 2,5 bilhões, geraria um lucro financeiro significativo, distorcendo o balanço do banco. “Não faz muito sentido essa contabilidade”, diz Vélez.