Em dezembro de 2021, quando iniciou a cobertura do Nubank, logo após a companhia abrir capital na Bolsa de Nova York, o BTG Pactual destacou que a empresa tinha tudo o que uma fintech poderia querer: uma marca desejada, milhões de clientes engajados, um fundador aspiracional e um captable incrível.

Nesta quarta-feira, 22 de fevereiro, o banco voltou a relembrar esses componentes. Dessa vez, porém, ressaltando um novo ingrediente: o fato de que os investidores locais – mesmo ainda em menor número, de menos de 5%, da base total da empresa - estão começando a se “apaixonar” pela história da companhia.

Boa parte desse novo capítulo está ligada à divulgação, na semana passada, do resultado do Nubank no quarto trimestre e no ano de 2022. Entre outros números, a empresa deu sinais de que está deixando seu histórico de prejuízos para trás e reportou um retorno sobre patrimônio líquido (ROE) anualizado no Brasil de 35%, acima dos níveis dos grandes bancos no período.

“O Nubank foi uma das empresas mais requisitadas para falar na CEO Conference”, destacou o BTG em uma referência ao evento promovido pelo banco na semana passada. “Fomos questionados sobre a empresa em praticamente todos os grupos de conversa que tivemos na conferência.”

A partir dos indicadores recentes e de conversas com executivos da fintech e investidores, o banco publicou um novo relatório atualizando as estimativas do Nubank. Entre elas, a projeção de lucro por ação de 2023 a 2025, em 10%, 3% e 2%. E também o preço-alvo da ação, de US$ 4,50 para US$ 5.

Nesses diálogos, Jorg Friedemann, investor relations officer do Nubank, destacou os três pilares que irão guiar a empresa em 2023: a aceleração do crédito pessoal e do crédito consignado; o aumento da penetração no segmento de alta renda; e o impulso da conta da fintech no México e na Colômbia.

“Como já mencionamos em relatórios anteriores, os executivos mantêm a crença de que o nome do jogo no banco digital é a eficiência de custos. Assim, a vantagem competitiva do Nubank deverá ser seus custos estruturalmente mais baixos”, escrevem os analistas Eduardo Rosman, Ricardo Buchpiguel e Thiago Paura.

O trio cita como parte dessas vantagens os custos de aquisição de clientes, de atendimento, de financiamento e de risco. “Como tal, eles acreditam que o ROE do Nubank pode ser substancialmente maior no longo prazo”, observam.

Em um dos pilares estratégicos mencionados, os analistas frisam que a fintech planeja lançar a opção de crédito consignado no primeiro semestre de 2023 e escalar essa oferta – com muito cuidado, à medida que aprende com o produto – na segunda metade do ano.

“Escalar a operação com uma oferta 100% digital tem se mostrado bastante desafiador para outros bancos/neobancos no Brasil. No entanto, o Nubank acredita que seu diferencial nessa frente é sua excelente experiência de usuário e o fato de já ter um número incontável de pessoas físicas elegíveis para contratar esses empréstimos em sua carteira de clientes”, ressalta outro trecho do relatório.

Em paralelo, outro ponto é o fato de que a empresa começa a enxergar um cenário mais propício para voltar a acelerar a oferta de crédito pessoal. E cita que, em janeiro deste ano, os novos empréstimos vieram em maior volume do que em qualquer outro mês de 2022.

“No entanto, o cenário macro mais desafiador e o fato de que o Nubank enxerga o crédito pessoal como um produto mais volátil e com um histórico mais curto que os cartões de crédito, sinalizam que uma grande aceleração ainda é improvável no curto prazo”, destacam os analistas.

A necessidade de melhorar o engajamento e a penetração entre os clientes do varejo de alta renda foi uma questão reconhecida pelos executivos, de acordo com o BTG. O banco apontou, porém, que a empresa já fez o trabalho mais difícil, que foi atrair esses correntistas para a sua base.

“Mas um desafio permanece: desenvolver melhor os produtos para esse nicho”, escreveram os analistas, citando áreas como investimentos e o aumento dos limites de crédito nos cartões para esse cliente, com valores mais adequados a esse perfil de renda.

Versão Latin America

Na ponta dos investidores, um dos principais questionamentos foi a capacidade de a empresa sustentar o patamar de ROE registrado na operação brasileira no quarto trimestre de 2022. A perspectiva é de que os níveis não sigam tão elevados nos próximos resultados.

“Os investimentos no México e na Colômbia devem acelerar nos próximos trimestres, principalmente com o lançamento do NuCuenta nos dois países, pressionando os resultados”, pontuam os analistas. “Mas acreditamos que o ROE pode começar a se expandir de forma mais significativa em 2024 e 2025.”

Nesse contexto, embora tenha elevado o preço-alvo da ação, o BTG manteve a recomendação neutra para o papel, ao citar que há sempre um porém nos relatórios sobre a companhia. Nesse caso, essa questão permanece.

O banco acrescenta que a empresa ainda é muito focada em clientes de baixa renda e com um número limitado de produtos. E destacam que têm dificuldade em enxergar que o lucro da operação hoje é grande o suficiente para justificar um aumento em seu valor de mercado atual.

“Enquanto o Nubank surpreendeu praticamente todo mundo desde a sua criação (e há uma boa chance de seguir fazendo isso), acreditamos que a avaliação atual já precifica a empresa tendo grande sucesso em novos produtos e nichos”, observa outro trecho do relatório.

Os analistas complementam afirmando que, com a deterioração do cenário macro no Brasil e a perspectiva da manutenção da taxa de juros em níveis elevados por mais tempo, não enxergam espaço para elevar a recomendação do ativo.

As ações do Nubank estavam sendo negociadas com ligeira alta de 0,7% na Bolsa de Nova York por volta das 14h51 (horário local), cotadas a US$ 4,79. No ano, os papéis acumulam uma valorização de mais de 17,6%. A empresa está avaliada em US$ 22,4 bilhões.