Cofundador da Auteq, Tácito de Almeida não perdeu tempo quando a empresa de tecnologias para o controle de máquinas agrícolas foi vendida para a gigante americana John Deere, no fim de 2014. Sem dormir no ponto, ele logo escolheu o alvo da sua próxima empreitada: a medicina do sono.

O projeto atraiu Geraldo Lorenzi Filho, diretor do laboratório do sono do Incor, e Talita Salles, profissional com mais de dez anos de bagagem na área, em particular, na Philips. E, após quatro anos de gestação, em 2019, a Biologix chegou oficialmente ao mercado.

Agora, a healthtech está ganhando o reforço de outros três nomes de peso no setor, por meio de um aporte de R$ 6 milhões liderado pela Kortex Ventures, fundo de corporate venture capital que tem os grupos Fleury, Sabin e Bradesco Seguros como investidores.

A rodada conta ainda com a participação do Hospital Israelita Albert Einstein, que já investia na operação. Até então, a Biologix havia captado cerca de R$ 6 milhões, sendo R$ 3 milhões junto à programas de fomento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

“As sinergias com esses três investidores são muito grandes”, afirma Tácito de Almeida, cofundador e CEO da Biologix, ao NeoFeed. “Queremos democratizar o acesso ao diagnóstico da apneia do sono e o aporte vai abrir portas para escalarmos o nosso modelo.”

Parte de um veículo de R$ 260 milhões, o cheque é o décimo assinado pela Kortex Ventures. O fundo já alocou cerca de metade dessa cifra e planeja fechar esses investimentos com uma faixa de 15 a 18 ativos, reservando parte dos recursos para follow ons.

Head de investimentos da Kortex Ventures, Gustavo Cavenaghi cita que o tempo dedicado ao desenvolvimento e a complementaridade dos perfis dos fundadores foram alguns dos pontos que despertaram o interesse pela Biologix.

“A Biologix já se provou e saiu daquele vale da morte em que as startups ainda estão correndo risco tecnológico e de product market fit”, diz Cavenaghi. “A empresa já está decolando. Então, é um capital bem carimbado. Estamos colocando gasolina no tanque para eles esticarem a curva de crescimento.”

Da teoria à prática, o discurso de democratização da Biologix busca consolidar uma alternativa mais acessível e escalável aos exames de polissonografia, que avaliam a qualidade do sono e identificam eventuais complicações associadas às noites mal dormidas.

Ao contrário do método tradicional, que demanda que o paciente se desloque até o local e durma envolto em fios, o exame da healthtech pode ser realizado em casa. Basta plugar o oxímetro de alta resolução desenvolvido pela startup no dedo da mão na hora de dormir.

O exame é ativado pelo paciente, em um aplicativo, e o dispositivo monitora questões como ronco, movimentação, saturação e frequência cardíaca. Concluído o processo, os dados são processados na nuvem e o resultado é gerado em questão de minutos.

Tácito de Almeida (à esq.), Gustavo Cavenaghi, Talita Salles e Geraldo Lorenzi Filho

Para chegar a essa equação nos laudos, que contam ainda com a assinatura de um médico especialista e o apoio de inteligência artificial, a Biologix desenvolveu e validou algoritmos em mais de 300 testes simultâneos à realização de polissonografias convencionais.

“As pesquisas estimam que cerca de 40 milhões de brasileiros têm apneia do sono, sendo que 90% não têm nem diagnóstico”, diz Talita Salles, cofundadora da Biologix. “O gargalo sempre foi o diagnóstico, porque o exame tradicional é caro e só está disponível em alguns grandes centros.”

Ela observa que, enquanto o preço dos equipamentos tradicionais varia de R$ 10 mil a R$ 120 mil, o valor do dispositivo da Biologix é de R$ 800. Já os exames convencionais custam entre R$ 1,5 mil e R$ 4 mil, contra uma faixa de R$ 300 a R$ 600 no formato da startup.

O modelo adotado pela healthtech para ir ao mercado é o B2B2C. Hoje, cerca de 4,2 mil médicos e clínicas pagam uma assinatura mensal, em média, de R$ 300 para terem acesso aos dispositivos e à plataforma.

Já a cobrança pelos exames junto aos pacientes é feita pelos profissionais e consultórios, sem a participação da Biologix e nenhuma divisão de receita com a startup, que contabiliza uma média de 10 mil procedimentos por mês e faturou R$ 7,8 milhões em 2023, um salto anual de 53%.

B2B e expansão internacional

Para começar a escalar esses números, parte dos recursos da rodada será destinada à ampliação dos investimentos em marketing e do time da startup – de 22 para 50 profissionais até o fim do ano –, além do desenvolvimento de produtos e de um novo oxímetro.

A maior parcela será dividida, porém, em duas frentes. A primeira é o desenvolvimento do modelo B2B, com a oferta para hospitais, laboratórios e operadoras de planos de saúde, uma estratégia que dialoga diretamente com os novos investidores em seu captable.

“Nós nos encaixamos com facilidade para ampliar as ofertas do Fleury e do Sabin”, afirma Almeida. “E, no caso da Bradesco Saúde, podemos ter um canal aberto para padronizar os valores e procedimentos no reembolso dos exames.”

O segundo foco é a expansão internacional. Com iniciativas pontuais, hoje, a startup já tem dispositivos em países como Chile, Costa Rica, Guatemala e Egito. “Esse é um problema global, que não está restrito ao Brasil”, diz Geraldo Lorenzi Filho, cofundador da Biologix. “Nossa barreira agora é a burocracia.”

Para lidar com as questões burocráticas de cada país, a startup já tem negociações avançadas com parceiros locais para assumir trâmites como o registro e a distribuição dos dispositivos, um modelo comum no mercado de saúde.

“A ideia é começar a avançar com esse modelo por países da América Latina, como México, Colômbia, Chile, Argentina e Uruguai”, diz Salles. “Mas, dependendo da evolução, não descartamos entrar com uma operação direta em alguns desses mercados.”