Especializada em investir em startups de biotecnologia na América Latina, a chilena Zentynel realizou seu quinto investimento numa companhia brasileira desde que começou a olhar a fundo para o País, em 2021, desta vez em uma companhia com atuação no mundo dos seguros.

O fundo de venture capital participou da extensão de uma rodada de investimentos da Axenya atraído pela proposta da startup de reduzir os custos dos planos de saúde para as empresas por meio do acompanhamento de doenças crônicas, um tema que cada vez mais vem ganhando força no País e no continente.

“O mais interessante que vimos na Axenya é que a companhia desenvolveu uma solução prática para esse desafio [custos da saúde] que a América Latina enfrenta“, diz Roberto Loehnert, general partner da Zentynel, ao NeoFeed. “A Axenya está lidando com isso de uma forma bastante criativa, capaz de ser disruptiva para a indústria.”

A Zentynel entrou no cap table da Axenya depois de acompanhar outros investidores da Axenya na extensão da rodada realizada em 2021, quando a empresa levantou US$ 3 milhões. Participaram dessa rodada bridge Igah Ventures, Big Bets, NXTP e Alexia Ventures, além do próprio fundador e CEO da companhia, Mariano García-Valiño. Os termos financeiros da operação não foram revelados.

García diz que ele vem conversando com o pessoal da Zentynel há quase um ano e meio, não necessariamente falando sobre injeção de recursos. “Eles nos ajudaram muito a pensar a companhia e quando decidimos fazer uma rodada de aporte, decidimos abrir um espaço para a Zentynel”, afirma.

A Axenya foi fundada em 2020, durante a pandemia. Essa é a quarta companhia de García, que foi o controlador da Biotoscana, empresa de medicamentos de alta complexidade que foi vendida para a canadense Knight Therapeutics, em 2019.

A empresa começou com dinheiro dele, por volta de US$ 1 milhão, buscando desenvolver um sistema de monitoramento de doenças crônicas, como diabetes e pressão alta, a partir de dispositivos como smartwatches, mecanismos de reconhecimento facial e informações dos próprios planos de saúde.

Com os dados analisados por uma solução baseada em inteligência artificial, a empresa consegue produzir insights preditivos sobre essas doenças para um corpo clínico da companhia, que direciona o tratamento, aumentando as chances de prevenir uma piora no quadro de saúde das pessoas, reduzindo os custos com tratamento.

Apesar dos primeiros resultados positivos, conseguindo reduzir em 15% os custos com tratamento de diabetes e baixar doenças cardiovasculares em cerca de 20%, a Axenya não conseguia monetizar o produto. A saída foi oferecer a solução para as empresas, que pagam os planos de saúde.

Para isso, em 2022, a Axenya se fundiu com a corretora HealthCo, aplicando seus sistemas de monitoramento para reduzir a sinistralidade do plano, invertendo a lógica do mercado. Enquanto a comissão da maioria das corretoras é uma porcentagem do custo de saúde das empresas, a HealthCo essencialmente ganha com a cobrança de um valor fixo e aquilo que consegue reduzir em termos de custos.

García conta que enquanto o mercado aplicou reajustes de 20% a 25% nos preços dos planos para as empresas, a Axenya e a HealthCo aplicaram aumentos de 10% a 14%. A expectativa da Axenya é fechar o ano com cerca de 150 mil vidas e uma receita de cerca de R$ 30 milhões.

O aporte servirá para aumentar a força de venda, investindo para expandir o sistema de distribuição dos seguros, com estudos para implementar um sistema de franquias de corretoras, em um sistema parecido como uma corretora as a service. “Somos uma mistura entre fintech e healthtech”, diz García.

Com três anos de existência, a Zentynel foi fundada por um dos pesquisadores mais influentes do mundo, o chileno Pablo Valenzuela. O cientista tem mais de 50 patentes em seu nome, tendo desenvolvido uma vacina contra a hepatite B. Ele também vendeu a Chiron, uma empresa fundada por ele que desenvolvia uma vacina contra a gripe, em 2010, para a Novartis, por US$ 8,9 bilhões.

A Zentynel já aportou mais de US$ 10 milhões em 12 startups nos últimos dois anos, sendo quatro no Brasil e um em uma companhia no exterior, mas de origem brasileira, assinando cheques entre US$ 500 mil e US$ 2 milhões.

O maior investimento do fundo foi feito numa companhia brasileira, em 2022, chamada Autem Medical, que desenvolve um aparelho para auxiliar no tratamento de câncer. A startup recebeu US$ 6 milhões da Zentynel, que liderou uma rodada de US$ 10 milhões.

A Axenya não se encaixa exatamente na tese de biotecnologia da Zentynel, mas Loehnert destaca que o fundo também para empresas com soluções de saúde que possam trazer produtividade para as áreas da medicina e da saúde, além de biotechs e agtechs.

Com planos de fazer de três a quatro novos aportes até o final do ano, Loehnert diz que a Zentynel tem olhado para a região e que o Brasil tem atraído bastante atenção. “Gostamos muito do País e das oportunidades que os empreendedores na parte de biotech estão desenvolvendo e vemos boas oportunidades vindo do Brasil”, afirma.