Água filtrada e pó de café. Se o grão for moído na hora, melhor. A receita simples que ganhou o paladar do consumidor brasileiro – o segundo que mais consome café no mundo – está conquistando também a operação brasileira Nestlé.
Nos próximos três anos, o conglomerado de marcas de alimentos e bebidas vai investir R$ 200 milhões na Nestlé Professional, braço B2B dda companhia. A divisão representa cerca de 6% (R$ 1,2 bilhão) da receita total da empresa no Brasil. Segundo a consultoria Statista, as vendas totais do grupo no país em 2022 somaram R$ 21 bilhões.
Com 20 anos de operação no Brasil, essa divisão opera em duas frentes, sendo a principal voltada para cafés e bebidas junto às marcas Nescafé, Nescau e Alpino. Na outra categoria, a empresa vende produtos lácteos e chocolates de marcas como Moça, Dois Frades, Charge e KitKat.
O investimento do próximo triênio será utilizado na primeira frente. “Queremos duplicar o parque de máquinas de café até o fim de 2026”, diz Rodrigo Maingue, executivo que comanda a Nestlé Professional no Brasil, em entrevista exclusiva ao NeoFeed. Cerca de 22 mil máquinas estão em operação no mercado brasileiro.
Além de impulsionar a escala, a Nestlé quer investir na modernização dos equipamentos. Atualmente, metade do parque de máquinas no Brasil já conta com equipamentos que permitem que a empresa veja em tempo real a localização das máquinas e obtenha dados do consumo.
Em seu modelo de negócio, a Nestlé não cobra pelo aluguel ou pela manutenção das cafeteiras. Em vez disso, ganha dinheiro com a venda dos produtos que são utilizados nos equipamentos que podem preparar até 12 tipos de bebidas diferentes, cada um em menos de 30 segundos.
A Nestlé cobra em torno de R$ 100 pelo quilo de café. Cada dose de café utiliza em torno de 8 gramas dos grãos que são moídos na hora do preparo. Isso significa que cada saco de café utilizado na máquina permite o preparo de até 125 xícaras. Cada uma é vendida entre R$ 6 e R$ 7.
“O cliente que faz a locação da máquina ganha margem”, diz Maingue. “Há um retorno de sete vezes o investimento no café e pelo menos de 100% em relação a bebidas como achocolatado e capuccino. A margem é menor porque o custo desses produtos é mais alto.
O negócio vem se mostrando promissor para a companhia. A Nestlé Professional deve crescer em torno de 18% neste ano no Brasil. Somente considerando a frente de cafés, as vendas terminar 2023 com alta de 27%. “Apesar de ainda ser uma parte relativamente pequena, é o que tem maior potencial de crescimento”, diz Maingue.
O consumo de café deve crescer cerca de 3% no Brasil neste ano, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC). Em 2022, segundo um levantamento realizado pela organização, o consumo foi de 21,3 milhões de sacas - equivalente a 4,7 kg de café torrado por pessoa.
A Nestlé não é a única empresa que está de olho neste crescimento. A principal concorrente é a Gran Coffee. A companhia tem mais de 30 mil máquinas ativas e disponibiliza as cafeteiras em modelo de locação ou comodato. A Três Corações é outra concorrente. Procurada, a companhia não informou o número de clientes atuais.
Enquanto tira os planos para sua frente de cafés do papel, a Nestlé vai se concentrando em outros negócios. Em setembro deste ano, a empresa comprou as operações do grupo CRM, dono das marcas de chocolate Kopenhagen e Brasil Cacau, e da cafeteria Kop Koffee, em um negócio que superou R$ 4 bilhões.