Aos 89 anos, o bilionário George Soros é conhecido por destinar boa parte de sua fortuna conquistada no mercado financeiro ao ativismo político e a causas liberais e ligadas aos direitos humanos. E, em contrapartida, por ser um dos principais alvos de políticos e militantes conservadores em todo o mundo.
Na quinta-feira, 23 de janeiro, Soros, mais uma vez, reforçou essa fama. Durante sua participação no Fórum Econômico Mundial, em Davos, ele anunciou que irá desembolsar US$ 1 bilhão para criar uma rede global de universidades, batizada de Open Society University Network (OSUN), com foco na preparação para “os desafios globais atuais e futuros”.
Segundo o bilionário ativista, o projeto nasce da necessidade de promover a resistência ao crescente autoritarismo em países como Estados Unidos, China e Rússia. E de combater os “ditadores atuais e em gestação”, além de questões como as mudanças climáticas.
“Acredito que nossa melhor esperança reside no acesso a uma educação que reforce a autonomia do indivíduo, cultivando o pensamento crítico e enfatizando a liberdade acadêmica”, afirmou Soros, ao classificar o projeto como “o mais importante e duradouro” de sua vida.
Sob a premissa de promover os valores de uma sociedade democrática, o plano é integrar universidades de todo o mundo à rede. E oferecer cursos e programas de graduação em parcerias. Ao mesmo tempo, a OSUN pretende reunir, periodicamente, estudantes e professores de diferentes países, por meio de discussões presenciais e online.
Essas iniciativas também vão abranger refugiados e acadêmicos politicamente ameaçados. “Estamos procurando instituições parceiras que se sintam responsáveis pelo futuro de nossa civilização e pessoas inspiradas pelos objetivos da OSUN”, afirmou Soros. “Não podemos construir uma rede global por conta própria.”
A rede que terá entre seus núcleos a Central European University (CEU), fundada por Soros, já está firmando parcerias com algumas instituições. Entre elas, a Arizona State University, nos Estados Unidos, a American University of Central Asia, no Quirguistão, e a BRAC University, em Bangladesh.
Durante um jantar para convidados, em Davos, Soros também voltou a criticar Donald Trump. Um de seus mais ferrenhos opositores, ele chamou o presidente dos Estados Unidos de golpista e acrescentou que, quando Trump assumiu o posto, “seu narcisismo desenvolveu uma dimensão patológica.”
No evento, o filantropo também teceu críticas ao presidente Jair Bolsonaro, por ter falhado nas medidas de proteção à Amazônia e por não impedir a destruição das florestas tropicais no Brasil.
Da “quarta-feira negra” ao ativismo
Filho de um advogado judeu, Soros nasceu em Budapeste, em 12 de agosto de 1930. Depois de passar pela ocupação nazista, durante a Segunda Guerra Mundial, ele e a família deixaram a capital húngara em 1947, rumo a Inglaterra.
Em Londres, dividiu a formação na London School of Economics com os trabalhos como garçom e carregador de malas em uma estação ferroviária. Durante esse período, teve contato com o filósofo Karl Popper. Um dos defensores da democracia e dos valores liberais, Popper teria exercido forte influência em Soros.
Em 1956, depois de algumas passagens por bancos de investimento britânicos, Soros mudou-se para os Estados Unidos. Em solo americano, fundou, anos mais tarde, o fundo de hedge Quantum Fund. E começou a atrair, de fato, os holofotes, em 16 de setembro de 1992, quando teria lucrado US$ 1 bilhão ao apostar na desvalorização da libra esterlina. O episódio ficou conhecido como “Quarta-feira negra” e Soros ganhou a fama de ter quebrado o Banco da Inglaterra.
A partir desse momento, Soros passou a se afastar, pouco a pouco, do dia a dia de seus negócios. Ao mesmo tempo em que começou a reforçar às atividades ligadas ao ativismo e à filantropia. Um ano depois, ele fundou a Open Society Foundations.
Por meio da organização, atuante em mais de 120 países, entre eles o Brasil, Soros, dono de uma fortuna estimada em US$ 8,3 bilhões, destinou bilhões de dólares em toda a sorte de projetos e iniciativas ligadas a questões liberais, humanitárias e progressistas.
O escopo incluiu, por exemplo, o financiamento de bolsas de estudo para alunos negros durante o período do Apartheid, na África do Sul, e o desembolso, em 2016, de US$ 500 milhões para auxiliar grupos de refugiados na Europa.
Soros também é conhecido por sua participação ativa nas campanhas de políticos democratas nos Estados Unidos. Ele esteve entre os principais doadores nas corridas presidenciais de nomes como Barack Obama e Hillary Clinton.
Por essas e outras iniciativas, Soros é alvo constante e crescente de políticos e conservadores, como o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban e o próprio Trump. E de teorias da conspiração que o associam, por exemplo, ao nazismo e a projetos de iniciar uma guerra civil nos Estados Unidos, ao financiar movimentos e protestos no país.
Soros, no entanto, segue em sua trajetória. E parece não se importar com seus detratores. O que ficou explícito, certa vez, em uma de suas declarações. “Meu sucesso no mercado financeiro me deu um maior grau de independência do que a maioria das outras pessoas”, afirmou. “Isso me permite assumir uma posição controversa. Na verdade, isso me obriga a fazê-lo.”
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