Presente em seis países e com faturamento próximo de R$ 500 milhões para este ano, a consultoria de tecnologia e inovação FCamara decidiu entrar de vez no universo da inteligência artificial (IA). Para isso, a empresa se associou ao Distrito, um hub de inovação e startups com expertise em soluções corporativas de IA. O investimento inicial foi de R$ 10 milhões.
"Trazer o Distrito para o nosso ecossistema de inovação vai trazer esse avanço que estamos buscando. Vamos colocar os recursos que forem necessários para poder crescer mais”, disse Fabio Camara, CEO e fundador da FCamara, ao NeoFeed.
FCamara e Distrito vinham se aproximando desde novembro de 2023, quando a consultoria patrocinou a implementação do laboratório de IA generativa do hub de inovação, que já atuou em parcerias com Oracle, Microsoft, AWS entre outras companhias de tecnologia, para criar oportunidades de negócios junto com startups.
“A entrada da FCamara vai nos dar capacidade de implementação de tecnologia e de gestão de projetos que até então o Distrito não tinha. É a possibilidade de escalar o nosso trabalho”, afirma Gustavo Gierun, CEO do Distrito. “Essa complementariedade virou uma sociedade.”
O aporte de R$ 10 milhões será destinado ao desenvolvimento do AI Factory, unidade de negócios da empresa voltado à implementação de projetos de inteligência artificial, desenvolvido no início de 2023. Desde então, o AI Factory já ofereceu soluções para Honda, John Deere, Lifetime Investimentos, Hospital das Clínicas de São Paulo e Copastur, entre outras.
“A partir da experiência do laboratório, a gente tem aumentado muito o investimento em inteligência artificial. O AI Factory atua desde a capacitação dos clientes até o mapeamento dos casos de uso”, conta Gustavo Araújo, CIO do Distrito. A unidade de negócios de inteligência artificial já desenvolveu 80 soluções tecnológicas para empresas.
O aporte da FCamara ocorre três anos após investimentos do então grupo Via Varejo, hoje Casas Bahia, no Distrito, em 2021, e que resultaram em participação de 16,7% na empresa de tecnologia (os valores não foram divulgados). A varejista segue como sócia, mas a empresa de inovação não revela qual o novo percentual. O serviço de inteligência artificial da rede varejista, inclusive, é desenvolvido pelo Distrito.
A chegada da FCamara também mudou a estrutura administrativa do Distrito. No novo modelo de governança, as duas passaram a ter um centro de serviços compartilhados, que inclui a administração financeira de ambas.
Além disso, a FCamara passou a contar com dois assentos no Conselho, que antes eram ocupados por representantes da Casas Bahia e que, segundo os executivos, abriram mão das posições em favor do novo sócio. Gierun e Araújo, que são cofundadores da empresa, seguem no comando da operação.
A avaliação é de que a entrada da consultoria vai amplificar a possibilidade de novos negócios ao Distrito, inclusive no exterior, com a atuação da nova sócia em Portugal, Bélgica, Reino Unido, Dubai e, ainda neste ano, nos Estados Unidos.
Enquanto o Distrito tem cerca de 90 funcionários, a FCamara hoje trabalha com 1,5 mil empregados. Por outro lado, o Distrito tem uma curadoria de base de 38 mil startups da América Latina, sendo metade no Brasil.
“A gente tem projetos globais e o Distrito atua na América Latina. Vamos juntar essas experiências e buscar esses novos mercados”, explica Arthur Lawrence, co-CEO da FCamara.
Mesmo sem uma atuação mais forte, a FCamara já tinha alguma atuação no segmento de IA. “A gente já entregou um projeto para uma indústria global que trouxe R$ 100 milhões de economia, a partir da inteligência artificial, que foi implementado no Brasil, Estados Unidos e México. E, juntos, teremos uma grande capilaridade”, afirma Lawrence.
Antes mesmo de o negócio ser concluído entre FCamara e Distrito, as empresas já atuaram em projeto de tecnologia com IA, para um player do mercado financeiro, com criação de um ecossistema de novas receitas a partir de teses inovadoras no mercado. “Basicamente, o nosso projeto ajuda o cliente a repensar o seu futuro, a se preparar para buscar receitas de negócios que ainda nem existem”, diz Araújo.
A previsão é de que haja mais aportes da FCamara no Distrito nos próximos anos, com estimativa de R$ 50 milhões até 2027. “Vamos levar em conta a capacidade de expansão e nossa capilaridade de atendimento, principalmente fora do Brasil”, afirma o CEO da FCamara.
O Distrito é a oitava empresa, desde 2020, em que a FCamara adquire parte das ações, sempre mantendo a presença dos fundadores na operação. “Em empresas de capital intelectual, é preciso ter pessoas diferenciadas. A ideia de ter executivos com visão de founder traz uma flexibilidade de decisões e de atuação junto aos clientes. É importante que sigam como donos”, diz o executivo.
Para o CEO da FCamara, esse aporte tem uma importância significativa para a consultoria, já que, na avaliação dele, até 2027 a IA terá a mesma relevância que a internet tem hoje nas empresas.
A constatação desse fenômeno é que, segundo o CIO do Distrito, as big techs têm anunciado grandes investimentos em IA no Brasil. “Sempre fomos um mercado muito importante de adoção de tecnologia. Já há maturidade no País para que as empresas tenham modelos próprios de inteligência artificial, com disposição de ainda mais investimentos”, afirma Araújo.
A ambição do CEO do Distrito é transformar a empresa, agora turbinada, em um dos principais players globais de desenvolvimento de IA. “Queremos ser referência nesse mercado, principalmente no fine tuning (realização de adaptações em modelos de IA pré-estabelecidos)”, afirma Gierun. “Essa demanda vai crescer demais. Hoje fazemos 50 reuniões por mês com novos clientes, em busca de soluções de inteligência artificial.”