Um ano após embarcar em um profundo plano de reestruturação, baseado no conceito back to basics, com foco na venda de linha branca e eletrônicos, e maior atenção ao caixa e à rentabilidade, o Grupo Casas Bahia começa a ver os efeitos dos ajustes em sua operação.
O resultado mais expressivo pôde ser visto na quarta-feira, 7 de agosto, na última linha do balanço do segundo trimestre. Beneficiada pelo acordo de reperfilamento da dívida bancária, a varejista encerrou dois anos de prejuízos trimestrais, registrando um lucro líquido de R$ 37 milhões.
Ainda que a última linha do balanço tenha se beneficiado desse acordo, um efeito não recorrente, a Casas Bahia fez o dever de casa. Os ajustes realizados ao longo de um ano tiveram duros efeitos, mas resultaram em custos e despesas ajustados, permitindo uma geração de caixa consistente e obtenção de rentabilidade.
Agora, vendo a casa relativamente em ordem, a Casas Bahia começa a concentrar a atenção para a primeira linha do balanço, colocando em prática estratégias para expandir o faturamento, mas dentro do conceito de preservação de rentabilidade.
“Se até agora tivemos uma redução de receitas, até um risco de uma grande desalavancagem operacional, agora que ajustamos o tamanho da companhia, não esperamos grandes movimentos ou reduções da empresa”, diz Élcio Ito, CFO da Casas Bahia, ao NeoFeed. “O foco agora é o top line, com despesas e custos espartanos.”
A ideia é que a composição da receita não dependa apenas dos artigos em que as Casas Bahia decidiu focar sua atuação há um ano, mas também na parte de serviços, segmento que a empresa vem investindo por conta do elevado nível de margem desses produtos. A área abarca seguros, montagem, logística e até retail media.
Ito diz que a Casas Bahia também vê uma evolução das lojas físicas. As vendas no conceito “mesmas lojas”, que consideram unidades em funcionamento há mais de 12 meses, ficaram estáveis, depois de recuar nos últimos trimestres.
Segundo ele, a categoria de linha branca vem em uma tendência de crescimento desde o começo do ano, um movimento da indústria em geral. O segmento de móveis, que Ito diz ser importante para a companhia, está ganhando tração. “É mais um ajuste interno que estamos implementando nos últimos meses que começa a trazer frutos e benefícios”, diz.
O plano é trabalhar na eficiência das vendas e das lojas, com implantação de medidas como uso de ferramentas de inteligência artificial para melhorar a precificação. “Não esperamos um crescimento de receita com recuperação de mercado, estamos olhando para como conseguimos avançar ganhando eficiência operacional”, afirma.
O crediário “continua sendo uma fortaleza da companhia”, ainda que um dos pontos do plano de transformação nessa parte não tenha avançado como esperado, que foi o caso dos FIDCs para financiar essa frente. Em novembro de 2023, a Casas Bahia informou que pretendia captar R$ 600 milhões.
Segundo Ito, a Casas Bahia conseguiu avançar na parte operacional dos FIDCs, implantando correspondentes bancários nas lojas, com integração de sistemas. O que ficou faltando é a captação do fundo, que ficou dependente da concretização da recuperação extrajudicial, considerando que os bancos credores participarão dessa estrutura. O CFO diz que a captação deve ocorrer “nos próximos meses”.
A expectativa é de que esses avanços virem a página do que foi visto nos últimos anos. Os ajustes feitos nas operações pesaram sobre as receitas, inclusive no último trimestre. No segundo trimestre, a receita líquida recuou 13,5% em base anual, para R$ 6,5 bilhões. Em relação aos três primeiros meses do ano, o faturamento subiu 2,1%.
Por outro lado, Ito destaca que a companhia conseguiu bons resultados na margem bruta com cortes de custos e despesas, que subiu 1,6 ponto percentual, para 30,7%. O Ebitda ajustado também se beneficiou desses ajustes, segundo o CFO.
Ainda que o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização ajustado tenha recuado 3,5% em relação ao segundo trimestre de 2023, para R$ 452 milhões, a margem avançou 0,7 ponto percentual, para 7%.
Ito aponta ainda que o fluxo de caixa livre foi positivo em R$ 92 milhões no segundo trimestre. Isso fez com que a empresa registrasse o melhor fluxo de caixa livre semestral em cinco anos, ainda que neste semestre tenha sido negativo em R$ 84 milhões. “A gente continua na melhora sequencial e gradual dos resultados da companhia, com foco no caixa”, diz Ito.
Sobre quando a Casas Bahia não dependerá de aspectos não recorrentes para ter lucro, Ito afirma que esse ano ainda será marcado pelos efeitos dos ajustes. “A gente vai de forma gradual, melhorando sequencialmente os nossos resultados”, diz.
As ações da Casas Bahia fecharam o dia com alta de 5,96%, a R$ 4,30. No ano, os papéis acumulam queda de 61,5%, levando o valor de mercado a R$ 406 milhões.