Em mais um trimestre marcado pelas consequências dos ajustes operacionais do plano de reestruturação, o Grupo Casas Bahia registrou mais uma vez resultados decepcionantes nas principais linhas das demonstrações financeiras.

Segundo o balanço divulgado na segunda-feira, 25 de março, a companhia fechou o quarto trimestre de 2023 com prejuízo líquido de R$ 1 bilhão, um forte aumento frente à perda de R$ 163 milhões apurada no mesmo período de 2022. A receita líquida recuou 16,2%, para R$ 7,4 bilhões, enquanto o Ebitda ajustado caiu 74,1%, a R$ 163 milhões.

O resultado manteve a sequência negativa da companhia na última linha de seu balanço – nos últimos seis trimestres, a companhia apresentou prejuízo líquido em cinco deles. Apesar disso, o CEO Renato Franklin diz que há motivos para comemorar o desempenho apurado nos últimos três meses do ano passado.

Mesmo com mais um trimestre de prejuízo nas costas, ele destaca que, pela primeira vez, em quatro anos o fluxo de caixa livre ficou positivo, um indício que aponta para dias melhores a partir da segunda metade do ano e com retomada consistente em 2025.

“Até setembro, eu vinha num tom muito preocupado com a capacidade de execução, de transformar a companhia, mas de novembro para cá estamos numa outra toada, com o fluxo de caixa refletindo as entregas”, diz Franklin ao NeoFeed.

Ele destaca que a Casas Bahia fechou 2023 com um fluxo de caixa livre, excluindo os efeitos da renovação do acordo com o Bradescard, positivo de R$ 648 milhões, depois de ficar negativo nos últimos três anos.

Para Franklin, trata-se de uma sinalização de que a reestruturação baseada no back to basics, com foco na venda de linha branca e eletroeletrônicos, está começando a apresentar resultados. O fluxo de caixa era um dos primeiros pontos que se propôs a melhorar. Em entrevista ao NeoFeed, publicada em dezembro do ano passado, ele esperava uma reação nesta frente em 2024.

Segundo ele, a execução do plano de transformação avança fortemente, com progresso das iniciativas, com impacto positivo de até R$ 1,6 bilhão sobre o resultado final. A companhia se propôs a reduzir em R$ 1 bilhão os estoques mais antigos e de categorias não core. No quarto trimestre, na comparação com o mesmo período de 2022, houve redução de R$ 1,2 bilhão em estoques. A Casas Bahia também reduziu o quadro de funcionários em 2023 em 8,6 mil posições, equivalente a cerca de 20% do total.

“Nosso plano é de 18 meses, queremos transformar a companhia até o final de 2024. Mas quando a gente pega as alavancas que a gente se propôs a entregar, estamos conseguindo superar as expectativas”, diz. “Tudo isso deixa a companhia mais leve para entrar em 2024 e para o que queremos em 2025.”

Os números contábeis mostram que os ajustes operacionais não vem sem custos no curto prazo. Entre movimentos de redução de estoques, otimização do quadro de funcionários, fechamento de lojas e baixa de ativos, além da provisão referente à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o diferencial de alíquotas (Difal) do ICMS, tomada no ano passado, o balanço da Casas Bahia sofreu com um impacto de cerca de R$ 600 milhões no quarto trimestre.

A evolução do caixa

Apesar dos impactos dos ajustes, Franklin destaca que eles “resolveram" boa parte dos problemas da companhia. E, a partir de agora, a Casas Bahia não deve mais registrar impactos tão relevantes, considerando que o grosso dos ajustes foi feito.

“No primeiro trimestre de 2024, veremos um trimestre um pouco mais limpo”, diz. “No segundo trimestre, vamos capturar mais alavancas, e no quarto trimestre de 2024 vamos ver um trimestre muito melhor.”

Por conta desses ajustes, Franklin diz que a Casas Bahia deve ser uma companhia com um GMV menor, porque parou de apostar em segmentos que levavam a perda de dinheiro, mas muito mais rentável, além de reestruturar canais de vendas e ser mais racional em termos de preços. E vai começar a falar de expectativa de lucro mais para o meio do ano.

“A evolução do quarto trimestre foi caixa, não P&L [demonstrativo de lucro ou prejuízo]. Agora precisamos começar a rodar a companhia limpa, voltar a comprar mercadoria no mesmo volume que comprávamos, com a margem normalizando”, diz. “Estou feliz com a operação e o macro da economia.”

Na frente financeira, um dos principais movimentos foi a renegociação de R$ 1,5 bilhão em dívidas que venciam em 2024 e 2025, anunciado em fevereiro, com um novo vencimento, em 36 meses e custo de CDI mais 4% ao ano.

Ao final do quarto trimestre, a dívida bruta da Casas Bahia somava R$ 4 bilhões, pouco acima dos R$ 4,1 bilhões do mesmo período de 2022. O indicador de alavancagem financeira, medido pelo caixa líquido/EBITDA ajustado dos últimos 12 meses ficou em -0,3x vez, enquanto no terceiro trimestre estava em -0,5 vez.

As ações da Casas Bahia fecharam o pregão de hoje com queda de 2,94%, a R$ 6,60. No ano, elas acumulam queda de 40,5%, levando o valor de mercado a R$ 622,8 milhões.